A futilidade do controle de preços - SAMUEL PESSÔA
Geral

A futilidade do controle de preços - SAMUEL PESSÔA


FOLHA DE SP - 08/09

O resultado da estratégia de controle de preços é que a inflação está firme e forte; e a taxa Selic sobe


Ao longo dos oitos anos do governo de Lula, o crescimento foi relativamente elevado, com uma alta média do PIB de 4% anuais. Minha interpretação foi que a aceleração do crescimento nesse período resultou principalmente da maturação de um conjunto de reformas institucionais que elevaram a eficiência da economia.

Simultaneamente à aceleração do crescimento, os anos Lula foram caracterizados por juros reais elevados, apesar da queda do risco-país.

Na era Lula, os juros elevados eram sintoma da saúde da economia, resultando da elevação do investimento. Este, por sua vez, era decorrência da aceleração do crescimento e da produtividade, em uma sociedade de baixa poupança.

Essa é a maior diferença entre os tigres asiáticos e o episódio de aceleração do crescimento brasileiro nos oito anos de Lula.

Nos tigres, a elevação da taxa de crescimento e do investimento é acompanhada por aumento da taxa de poupança.

No Brasil, não há essa mesma relação. Aqui, a política funciona no sentido de tomar medidas que impeçam que episódios de aceleração do crescimento e do investimento sejam acompanhados pela alta da taxa de poupança.

Um exemplo é a política de valorização do salário mínimo: quando o crescimento se acelera, a velocidade de elevação do salário aumen- ta, e, com ela, o gasto do governo, reduzindo o componente público da poupança.

O ajuste acaba ocorrendo na taxa de juros, que tem de ser elevada para compensar a baixa poupança em uma economia na qual o investimento cresce aceleradamente.

A baixa poupança para um investimento crescente produz excesso de demanda e, portanto, aceleração da inflação. Os juros mais elevados são necessários para esfriar a economia e manter a inflação sob controle.

Ou seja, os elevados juros reais nos oito anos do governo Lula resultaram do rápido crescimento associado a uma política econômica que neutraliza a natural tendência de elevação da taxa de poupança que tipicamente ocorre nos episódios de aceleração do PIB.

Nesse período, alguns economistas criticaram fortemente o regime de política econômica vigente. Argumentavam que o combate à inflação era tão importante que não poderia ser enfrentado com um único instrumento, a taxa Selic. Esses economistas acreditam que há alguma outra maneira de controlar a inflação que não seja pela política monetária. Eles não se conformam com o fato de que o juro tem de subir quando o investimento se eleva numa economia de baixa poupança.

Esses analistas, portanto, defendem que algum tipo de controle direto de preços seja empregado no combate à inflação.

O exemplo paradigmático da política de controle direto de preços foi o congelamento da gasolina por quase seis anos. Os reajustes recentes em níveis muito inferiores à defasagem doméstica da gasolina em relação aos valores internacionais indicam a continuidade da política de controle da inflação por meio de controle direto de preços. As inúmeras desonerações também são sinais dessa política.

O controle direto do preço da gasolina tem causado pelo menos quatro problemas. Primeiro, tem prejudicado a receita e a rentabilidade da Petrobras, dificultando os planos de investimento da empresa. De fato, há anos a empresa não consegue atingir as metas de produção por ela mesma estabelecidas.

Segundo, prejudicou o crescimento do setor sucroalcooleiro.

Em terceiro, estimula o uso do transporte individual, contribuindo para congestionar as ruas.

Finalmente, dois terços da piora da balança comercial neste ano, em comparação a 2012, que teve superavit de US$ 15 bilhões, resultam da deterioração da balança comercial de petróleo e derivados.

Um fator adicional é que, muito provavelmente, os desajustes produzidos pela desastrada política de controlar a inflação por meio do controle direto de preços explicam em parte a maior desvalorização do real desde maio, quando os juros longos norte-americanos iniciaram a trajetória de alta. E a maior desvalorização do real coloca lenha na fogueira da inflação.

Assim, o resultado da estratégia de controle de preços é que a inflação está firme e forte, caminhando para fechar o ano acima de 6%. E a taxa Selic sobe.




- Juros Baixos E Estagnação Secular - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 24/08 O juro nos EUA será baixo nos próximos anos; para quem depende de capital externo, é uma boa notícia É possível que a taxa real de equilíbrio nos Estados Unidos, após o processo de normalização dos juros naquela economia,...

- Expectativas E Rigidez Inflacionaria - JosÉ MÁrcio Camargo
O Estado de S.Paulo - 06/05 Apesar de a taxa de juros básica da economia (Selic) ter sido aumentada em 3,75 pontos de porcentagem, para 11% ao ano, a taxa de inflação do Brasil pouco se moveu e as expectativas para a inflação para os próximos anos...

- A Queda Do Potencial De Crescimento - Samuel PessÔa
FOLHA DE SP - 18/08 A deterioração da política econômica que ocorre desde 2009 explica a queda na produtividade do país Ao longo dos oito anos do governo Lula, a economia brasileira cresceu à taxa de 4% anuais. Nos primeiros três anos da presidente...

- Os Riscos De Uma Infecção Inflacionária
Por Ricardo Valente, Valor Econômico O Banco Central do Brasil levou a taxa Selic ao patamar de um dígito, como desejava o governo, com uma aceleração do ritmo de cortes surpreendente. Apesar da incrível ousadia, se ainda há uma notável diferença...

- Falta Poupança E A Culpa é Do Governo
O GLOBO Paulo Levy, economista do Ipea, defende que o país crie mais estímulos para o investimento do que para o consumo. "A taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5% de forma sustentada". E lembra ainda que é preciso adotar políticas...



Geral








.