"Se o seu marido descobrir que você não está procurando um café mais fresco...". Já viu, né? Violência doméstica vende! O pior é que a donzela indefesa está adorando. Este deve ser da época do Nelson Rodrigues, que dizia que não eram todas as mulheres que gostavam de apanhar. "Só as normais". Hoje vivemos na fase do "um tapinha não dói". Estranho como raramente falam isso dos homens. Que eu saiba, é só homem masoquista que gosta de apanhar. Mas, no caso das mulheres, somos todas.
Nem me pergunte o que este anúncio energúmeno tá tentando vender, que eu não sei. A chamada diz "É bom ter uma garota em casa". Pra servir de capacho, decerto. Pro homem da caverna, o provedor que sai pra caçar e garantir a comida do lar, se sentir o senhor do castelo. Lembrei de um slogan feminista dos anos 60: "Se o lar é o castelo do homem, deixe que ele o limpe". Desta vez a modelo tá menos feliz que no anúncio anterior, mas ainda assim não demonstra revolta nenhuma.
Se você estava pensando sobre os anúncios antigos, "Ah, que bom que essa misoginia não existe mais", este é atual. A pose não é tão diferente do anúncio anterior. Temos um homem em posição de controle sobre a mulher. Além disso, ele está vestido, ela está com pouca roupa. O que isso significa? Pode ser várias coisas. Uma é que o sujeito trabalha, é o provedor (logo, quem manda), e a mulher fica torrando ao sol o dia inteiro, uma dondoca fútil que só liga pra aparência. Outra coisinha é como ensina Naomi Wolf: os dominadores usam roupa, os dominados não. Pense na relação entre amo e escravo, guarda nazista e prisioneiro. Quem andava vestido? Até nas relações sado-masô, quem domina usa roupa. E, claro, em 90% da propaganda que vemos, o homem tá mais coberto que a mulher. Ele é o disciplinador, o controlador dos ímpetos primitivos e irracionais das fêmeas. Se precisar usar força física de vez em quando, paciência. Ela até gosta!