É tão raro ouvir a palavra “Brasil” por aqui (ou Espanha ou Nigéria ou qualquer outra que não seja Estados Unidos, Iraque e Irã) que, quando isso ocorre, meu coração vai a mil. Vamos fingir que nosso País tá na moda. A revista “Vanity Fair” do mês passado trouxe a Gisele Bündchen na capa com o título “Viva Brazil!!” (pois é, dois pontos de exclamação, pra você ver a importância). Era só um pretexto pra fazer um editorial de moda com 24 páginas de fotos festejando modelos e celebridades tupiniquins (pouquíssimos negros) em clima de festa. Uma das páginas tinha um texto que pode ser considerado ofensivo, dependendo de como é encarado. Por exemplo, menciona que o Rio é a bunda do mundo, mas, pro autor, isso é um elogio! Também diz que a economia brasileira tá bombando, já na marca de um trilhão de dólares, que o Brasil tem tudo, inclusive 20% da água potável do planeta, e que todo mundo ama o Brasil. Gosto do jeito que o cara termina: “O Brasil se olha no espelho toda manhã e adora o que vê. Imagina a confiança que isso dá”.Pouco tempo depois de sair a revista, vem um crítico de cinema de Detroit falar sobre “Mandando Bala”, um documentário que trata do tráfico nas favelas brasileiras, carros blindados e reconstituição de orelhas pós-seqüestro. O crítico cita, ironicamente, o que o artigo da “Vanity Fair” diz (“o mundo só associa o Brasil a coisas boas”) pra concluir que nosso País é “uma nação ferrada”. Nem vem que os Estados Unidos parecem ser uma nação muito mais doente que a nossa, mas isso é tema pra outra coluna.
Na semana seguinte à tal crítica, num episódio dos Simpsons sem nada a ver com a gente,a Maggie vê uma cidade arrasada nos Estados Unidos e grita: “Este é o pior lugar em que já estive na vida”, ao que o Bart rebate: “Pior que o Brasil?”, e ela discorda com um “Fora o Brasil”. Agressão gratuita!
Nos shoppings, um tipo de depilação leva o nosso nome, e uma cirurgia plástica pra levantar o bumbum também se chama “Brazilian” alguma coisa.
Aqui não se associa Brasil a futebol, já que ninguém dá a mínima pra esse esporte, e sim a Carnaval e mulheres bonitas. Na soma, dá a impressão que estamos mal na fita, mas é mais ambíguo que aparenta. Só sei que todos abrem um sorriso quando a gente fala de onde vem.
Pode ser que o meu patriotismo ande em alta por eu estar longe do canto que amo, mas tô inclinada a achar que nos Estados Unidos o pessoal mais associa o Brasil a coisas boas que ao inferno na Terra.