Por Thassio Borges, no sítio Opera Mundi:Os ataques de 11 de setembro de 2001 se tornaram o estopim de uma nova estratégia militar dos Estados Unidos, popularmente conhecida como “Guerra ao Terror”. Também chamada de Doutrina Bush, em referência ao então presidente norte americano George W. Bush (2011-2009), a ofensiva gerou duas guerras além-mar, no Afeganistão e Iraque. O custo dos conflitos para os Estados Unidos, segundo pesquisa recente, superou os da Segunda Guerra Mundial (1943-1945).
Os dados foram divulgados no último mês de junho pelo projeto Cost of War, composto por especialistas da Universidade Brown, nos EUA. De acordo com pesquisadores, os norte-americanos já teriam gastado de 3,7 trilhões a 4,4 trilhões de dólares (quase sete trilhões de reais), mais do que 4,1 trilhões de dólares despendidos na Segunda Guerra. Os números também incluem valores gastos em conflitos no Paquistão.
Para a professora de História Maria Aparecida de Aquino, da USP (Universidade de São Paulo), as perdas norte-americanas com os conflitos não se resumem apenas às questões de ordem financeira. “Eles não ganharam nada e perderam uma coisa que não se ganha com facilidade. Na Primeira e Segunda Guerra Mundial, os EUA conquistaram dividendos econômicos, um ganho efetivo. No entanto, há coisas que você ganha ou perde e são muitos difíceis de serem mensuradas. É o que eu chamaria de capital moral”, afirmou.
Esse capital moral pode ser entendido como um respeito global que os Estados Unidos obtiveram por conta de suas atuações em conflitos anteriores e também por sua posição destacada no cenário econômico e político mundial. Foi esse capital moral, segundo a professora, que deu respaldo ao país para que este sustentasse posições muitas vezes questionáveis em organismos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Ainda segundo ela, tal respeito da comunidade internacional tornou-se mais forte após a Segunda Guerra e foi abalado com os conflitos da Guerra ao Terror.
"Os EUA saíram da Segunda Guerra, juntamente com a União Soviética, como os responsáveis por livrar o mundo de algo que naquele momento era considerado muito negativo e, se expandido, tornaria o mundo pior: o fascismo e o nazismo. No entanto, esse capital moral foi perdido”, completou.
Guerra contra o TalibãA guerra contra o Afeganistão foi uma resposta imediata aos atentados de 11 de setembro. Os EUA, contando com o apoio da Otan e de outros países ocidentais, como Reino Unido e França, invadiram o país em outubro do mesmo ano sob o pretexto de encontrar Osama Bin Laden, mentor dos ataques, enfraquecer a Al-Qaeda e remover do poder o regime Talibã, que teoricamente dava apoio ao grupo.
Após anos de conflitos, Hamid Karzai, cientista político afegão, chegou ao poder do país, apoiado pelos EUA. Sua reeleição, no entanto, foi considerada fraudulenta. Sem perspectivas para o país, e sob fortes críticas a respeito dos gastos destinados aos conflitos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que as tropas norte-americanas deixariam o país sistematicamente.
Flávio Rocha de Oliveira, professor de Relações Internacionais na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), considera que a instabilidade no Afeganistão, gerada pela guerra, pode trazer consequências ainda mais sérias para os vizinhos da região. “Essa situação de instabilidade contagia o Paquistão, que tem armas nucleares. Parte do Talibã tem um ramal muito ativo dentro do território paquistanês, com o apoio de grupos étnicos e do serviço de inteligência do país”, afirmou. Ele acredita ainda que os EUA já trabalham com a hipótese de o Talibã voltar ao governo.
“Vende-se para o mundo a idéia de que as eleições foram fraudadas, mas que este governo dá o mínimo de estabilidade ao país. Estabilidade relativa, pois o Talibã ataca com frequência as forças do governo e também as norte-americanas. É provável, inclusive, que existam canais de negociação aberto entre o governo norte-americano e certos setores do Talibã, prevendo sua volta ao poder”, declarou.
Terror InternacionalPara justificar os conflitos e as invasões, os EUA se apoiaram à época no medo que dominava as principais potências mundiais. Segundo Aquino, foi vendida a ideia de que, a partir dos ataques, o terrorismo deixava de ser localizado para se tornar internacional.
“Os EUA tentaram mudar a concepção de terrorismo (a partir dos ataques). Todas as pessoas, nesta concepção, poderiam ser atingidas independentemente do local em que estivessem. Isso gerou muito medo, o que justificaria os atos cometidos pelos norte-americanos”, explicou a professora.
Wikicommons Dessa forma, a Guerra ao Iraque não foi imediata aos ataques e começou em 2003. O objetivo oficial era remover o governo de Saddan Hussein, que estaria supostamente fabricando armas de destruição de massa. Apesar da oposição de certos setores contrários ao conflito, o medo falou mais alto e os EUA invadiram a nação árabe. No mesmo ano, Saddam Hussein, que havia fugido, foi capturado. Três anos depois, ele foi enforcado após ser condenado por um tribunal iraquiano.
Tanto os EUA quanto seus aliados, no entanto, não conseguiram restaurar a ordem do país. Isso fez com que diversas nações aliadas retirassem suas tropas do Iraque nos anos seguintes. A operação no país foi encerrada em agosto de 2010 e a expectativa é que toda a tropa deixe o país até o final de 2012.
ConsequênciasAs consequências das guerras para o Iraque e Afeganistão foram terríveis. Para Aquino, a intervenção “desastrosa” dos EUA na região transformou um país em “uma cratera a céu aberto”, observou. “Mesmo que os EUA retirem todas as suas tropas, como será possível acabar com a guerra civil?”.
Para Oliveira, a estabilidade do Iraque está intrinsecamente ligada à situação do vizinho Irã, que a qualquer momento pode agravar-se. “O Iraque sofre a todo momento uma influência pesada do Irã. Não há estabilidade no país se não houver em alguns termos com o Irã”, explicou. Para ele, a retirada das tropas norte-americanas poderá levar a uma aproximação maior entre as duas nações que já estiveram em guerra na década de 80.
“Para o Iraque, com a retirada das tropas norte-americanas, o Irã se torna cada vez mais essencial para manter a estabilidade do país. Isso por conta do apoio econômico e político que o Irã oferece a varias lideranças políticas xiitas iraquianas”, explicou o professor.
A guerra entre os dois países (1980-1988) foi motivada, dentre outras coisas, pelo medo do presidente iraquiano Saddam Hussein, junto com outros países, que a Revolução Islâmica no Irã se espalhasse por outras nações de maioria xiita. Como o Iraque, por exemplo.
Com a saída de Saddam do poder, houve uma certa aproximação entre os dois países no que diz respeito, principalmente, aos setores compostos por maioria xiita. Dessa forma, uma crise no Irã poderia gerar uma instabilidade na população xiita iraquiana.
“Sabendo disso, os iranianos usam esta carta para mostrar aos EUA que caso eles os ataquem por conta do programa nuclear, o país poderá criar uma instabilidade forte dentro do território iraquiano”, acrescentou Oliveira.
Outro problema originado pelos conflitos, segundo o professor, foi o abalo nas relações entre os EUA e os países árabes. Para ele, o país entrou em guerras que não conseguiu resolver e levou instabilidade e medo para a região.
“A imagem de que os EUA sucedem os impérios coloniais europeus no Oriente Médio foi fortalecida. Isso criou ainda mais instabilidade, já que a população árabe passou a temer ainda mais as elites aliadas aos EUA, como Egito e Arábia Saudita, e estes por sua vez passaram a confiar ainda menos nos norte-americanos”, completou.
Crise FinanceiraPara Aquino, a crise financeira que os EUA enfrentam nos últimos anos não pode ser atribuída apenas à Guerra contra o Terror. Segundo ela, no entanto, a crise atual tem sim relações com os conflitos dos últimos dez anos.
“Muito do que está acontecendo atualmente com os EUA, até pouco tempo atrás inimaginável, se deve a essa loucura que foi o investimento pesado nas guerras, particularmente a do Iraque”, explica a professora. “Afinal, quanto custa uma guerra?”, completa. Os EUA conhecem bem a resposta e ela, definitivamente, não é agradável ou otimista.
CONTRA OS LADRÕES DO PT, EU VOTO AÉCIO 45 FOLHA DE SP - 24/09 Os Estados Unidos iniciaram na noite de segunda-feira (22) os anunciados ataques aéreos contra a milícia radical Estado Islâmico. A iniciativa, levada a cabo em território sírio,...
Robert Garcia/RebeliónPor Igor Carvalho, na revista Fórum: Em 11 de setembro de 2001, os EUA sofriam o pior ataque de sua história, em território americano. Doze anos depois, o país relembra a data com a expectativa de mais uma intervenção militar...
Por Marina Terra, no sítio Opera Mundi: Nesta quinta-feira (30/05), foram 11. Somente nos últimos sete dias, 166. Levando em conta abril – o mês mais violento do ano –, mais de 700. Apesar de o número de mortos crescer de forma assustadora no...
Editorial do sítio Vermelho: Há dez anos, os Estados Unidos e o Reino Unido iniciaram a guerra ao Iraque, primeiramente com bombardeios aéreos, depois com operações terrestres, que levaram mortes e destruição ao país árabe. Alegaram que o regime...
Por Mauro Santayana, em seu blog: Os Estados Unidos não aprenderam com as vicissitudes que o maior cuidado com os planos bélicos deve ser dedicado à retirada. Isso é tão importante no nível tático, nas batalhas e combates isolados, quanto na estratégia...