A Carla Rodrigues citou uma pesquisa recente publicada pelo jornal Valor. Segundo a pesquisa, 88% dos brasileiros e brasileiras aprovariam que uma mulher fosse eleita presid
ente. É um número altíssimo, mas mesmo esse índice tem duas caras: quer dizer que 12% não votariam numa candidata apenas por ela ter uma vagina? Entre os eleitores analfabetos, esse número sobe pra 34%. Entre os mais escolarizados, ninguém deixaria de votar numa candidata por ela ser mulher.
e homens e mulheres. Pelo que leio por aí, sempre que uma candidata é mulher, fala-se da sua aparência em primeiro lugar, já que vivemos num mundo em que as mulheres ainda são avaliadas pela sua capacidade decorativa. Não tem como uma candidata sair ganhando. Vamos falar da Dilma Rousseff, que será aquela com maior potencial em 2010, muito maior que o da Heloísa Helena, que não tem um partido consolidado por trás. Dilma se submeteu a uma cirurgia plástica, e o mundo caiu em cima dela. Como fez cirurgia, ela é fútil, vaidosa, e falsa (por querer passar uma imagem que não é a sua. Hã?). Note que esses adjetivos são quase sempre associados com mulheres. Raramente um homem é fútil,
certo? O que impressiona é que mesmo as mulheres que fazem ou apoiam cirurgias plásticas condenam a Dilma por fazerem o que elas já fizeram ou gostariam de fazer. Isso, vamos esquecer que existe um trocinho chamado contexto, e ignorar que o Brasil é campeão mundial em cirurgias estéticas. A imensa maioria dessas cirurgias é feita por homens, cirurgiões, em mulheres, o que nos coloca na incômoda posição de país mais vaidoso do planeta, onde mulheres valem o quanto pesam (favor não ultrapassar os 55 quilos). Vamos esquecer também que o adversário mais forte de Dilma, José Serra, já fez plástica mais de uma vez, pra retirar bolsas de gordura debai
xo dos olhos, mas ninguém o chama de fútil, vaidoso e falso.
alguma época da minha infância, eu aprendi a diferenciar eleição política de concurso de miss. Em concurso de miss, só importam a aparência e a simpatia em dizer que o livro preferido é O Pequeno Príncipe (ah sim, e mesmo que as misses tenham 18 anos, hoje em dia todas fazem plástica). Em eleições políticas, importam a confiança e a credibilidade, porque as decisões daquela pessoa podem afetar a minha vida. Mas, voltando: eu preferiria que a Dilma não tivesse feito plástica, e ao invés disso explicasse que as pessoas deveriam julgá-la pelo conteúdo, não pela aparência. Só que é complicado. Ela passaria a campanha toda explicando isso. As mesmas pessoas que a
chamam de perua fútil agora a chamavam de mocréia, jaburu e tribufu antes. Como ela tem 61 anos, já passou (faz tempo) da idade em que a sociedade considera mulheres bonitas. Logo, não tem saída. Não tem como uma candidata mulher sair-se vitoriosa nesse quesito. Você nunca vai ler aqui eu falando que a Dilma (ou a Hillary) é bonita ou feia, porque isso não me interessa nem um pouco. Se não julgo os políticos homens em quem voto pela beleza, por que julgaria as mulheres? Eu sou contra um padrão diferenciado pra cada sexo.
acha o Serra um carinha hiper simpático e mais carismático que a Renovação.
e ser que existam outros motivos que esqueci. Mas há pelos menos dois que você não deveria usar, porque simplesmente pegam mal. Um é: “Não voto na Dilma por ela ser mulher” (que é quase tão fraquinho quanto “Voto na Dilma por ela ser mulher”). E o outro é: “Não voto na Dilma por ela ter feito plástica / por ela não ter feito plástica / por ela ser uma velha horrorosa / por ela usar óculos / por ela usar lentes pra não ter que usar óculos / por eu não gostar das roupas dela / por detestar seu penteado” ou qualquer outra besteira relacionada com a aparência. E se você for mulher, então, pega pior ainda usar esse motivo fútil, viu, Rosana?