Comédia num filme pra fazer chorar. Baldes.
e clássico de 1957 que continua bastante celebrado ainda hoje. Esta mesma história foi refilmada com o Warren Beatty e a Annette Bening na década de 90, com o título Segredos do Coração, e naufragou na bilheteria. O que poucos sabem é que o filme de 57 era em si um remake. Ele já havia sido feito em 1939 pelo mesmo diretor, Leo McCarey. Pra quem acha que todas as refilmagens atuais representam uma total falta de imaginação de Hollywood, saiba que desde antigamente eles refaziam filmes pra caramba.
o nome dela se pronunciava “Quer”, por causa da musiquinha da Rita Lee, “Flagra” (“Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck / não vou bancar o santinho”), mas não, é Car mesmo. Aliás, eu nunca sei como se pronuncia nenhum nome de ator. Mas então, a Deborah tá perfeita em Tarde Demais.
ontar um pouco do filme, com spoilers e tudo. Imagino que a trama seja conhecida depois de cinquenta anos. E saber o que acontece não tira o prazer de ver Tarde Demais. Deborah faz uma ex-cantora, e Cary é um pintor amador e playboy famoso, prestes a se casar com uma herdeira milionária. Eles se conhecem num transatlântico, se apaixonam aos poucos, e, por causa da publicidade, devem fingir que não estão juntos. Essa parte do filme, que é quase a metade dele, é bem cômica (veja um trechinho dublado em português). Eu adoro a cen
a na escada do navio. Deborah e Cary dão alguns passinhos e sobem os degraus de uma escada, mas a câmera não acompanha. Reconhecemos que eles estão se beijando, mas só vemos as pernas. Uns fofos, e eles trabalham bem juntos, têm química. Outra sequência que tinha tudo pra ser melosa mas acaba dando certo é quando Cary apresenta Deborah a sua avó. Eu chorei quando a Deborah abraça a avozinha. Sou sensível.
o, Deborah e Cary fazem um trato: num prazo de seis meses, vão dispensar os respectivos, dar um jeito em suas vidas, e voltarão a se encontrar, no topo do Empire State Building (veja a cena do acordo aqui, em inglês). No dia do encontro, Deborah é atropelada por um carro, em frente ao prédio, e levada a um hospital. Cary não sabe de nada disso. Ele espera com o coração na mão no prédio, até fechar, e pensa que ela não quis vê-lo. Ela, que fica paralítica, decide não procurá-lo, e toca a vida sozinha, virando professora de canto. Chuif. Um ano depois, eles se cruzam num balé. Ele vai atrás dela, com o orgulho ferido, e conta como esteve
apaixonado, e como se sentiu rejeitado. Durante esse discurso todo Deborah está sentada, com uma manta cobrindo-lhe as pernas; logo, Cary segue sem entender o que aconteceu. E a gente fica torcendo: “Conta logo, filha!”. Quando ele diz que vendeu um quadro pra uma mulher numa cadeira de rodas, ele finalmente une os pontinhos: era ela! Os dois choram abraçados, e o público cria um dilúvio (na realidade, eu chorei muito mais no meio). The end. Um happy end - os dois ficarão juntos. Mas também um sad happy end, né?
pro Cary no final: “Oh, darling! If you can paint, I can walk. Anything can happen!” (“Oh, querido. Se você pode pintar, eu posso andar. Tudo pode acontecer!”). Hello? Por que só eu não acho essa declaração lá muito amorosa? O cara tá se esforçando pra sobreviver pintando (o primeiro trabalho que tem na vida, e ele já tá na meia idade) - isso não pode ser tão difícil quanto uma pessoa numa cadeira de rodas há um ano andar. Eu entendo a motivação, mas se o maridão dissesse pra mim algo como “Oh, querida. Se você pode passar num concurso e virar professora universitária, eu posso voltar a ter cabelo! Tudo pode acontecer!”, eu pegava minhas coisas e ia embora. Na hora.