Chegou “Plano de Vôo”, e devo confessar que gosto de thrillers passados dentro de aviões. Mas acho que “Vôo Noturno” é melhor, por ser mais simples e mais eficiente no suspense. Aqui em “Plano” a história é mais instigante, mas a realização deixa um pouco a desejar. A Jodie Foster faz uma engenheira que acabou de perder o marido e viaja de Berlim a Nova York com sua filhinha de seis anos. No meio do percurso, a menina puft, some. E todo mundo insiste que a Jodie embarcou sozinha.
Com uma trama tão hitchcockiana assim, por que “Plano” não funciona totalmente? Um dos problemas é a escalação da Jodie. Lembra de “Louca Obsessão”? Aquele suspense é um estouro porque era estrelado pela então desconhecida Kathy Bates, e a gente não imaginava do que ela seria capaz (ninguém acreditaria numa Meryl Streep, por exemplo, quebrando as pernas de um cara com uma marreta). A Jodie a gente conhece, e confia. Sabe que ela não alucinaria ter uma filha. Se ela afirma que a guria tava no avião, quem é a gente pra duvidar de uma super atriz vencedora de dois Oscars? É como ter certeza absoluta que a Jennifer Connelly nunca faria algo contra a filhinha em “Água Negra”. Se essa ambigüidade existisse de verdade, se a gente suspeitasse que a Jodie pirou na batatinha, o terror seria maior. Além disso, em “Plano” a gente enxerga a Jodie com a garota. Os passageiros e a tripulação podem ser uns ceguetas, mas nós vimos. Tudo bem, a Jodie até aparece passeando com o marido morto nos créditos, só que isso não é suficiente pra abalar nossa convicção na heroína.
Mais uma coisa. Notou como em todo filme com a Jodie ela faz uma mulher solteira, separada, viúva, geralmente com filhos? Ela quase nunca tem um par romântico (mais um motivo pra gente idolatrá-la). Em “Plano”, pra naturalizar essa situação, não há um só casalzinho louco pra transar no banheiro do avião. Acho que o único casal do filme senta em fileiras separadas.
Agora, por que os vilões, que a gente desconhece até o final quem sejam, selecionam a Jodie pra atormentar? Parece que é porque ela vive de planejar aviões, então ela tá ciente que há mais lugares pra procurar uma menininha desaparecida do que na cabine do piloto. Como disse o maridão, a gente mal sabe que existe a primeira classe. Eu posso ser ignorante e tal, mas que negócio é esse de uma portinhola no banheiro dar num painel de controle que possibilita trazer pânico pr
a todos? Na minha próxima viagem, se eu não ficar entalada nessa portinhola, me aguardem.
Bom, tal qual “Mar Aberto”, a lição de “Plano” parece ser: antes de sair por aí andando em qualquer meio de transporte, faça-se notar. Fica aí a dica. Mas minha dúvida cruel mesmo é descobrir se suspenses como “Plano” e “Vôo” passam nos aviões. Eu lembro até hoje que “Rain Man” foi proibido porque o Dustin Hoffman declamava um longo monólogo sobre acidentes aéreos. Ele só aceitava viajar pela Qanta, que possuía um histórico impecável. A única companhia que passava o filme era a... Qanta, lógico.