Foto mostra ponto de ônibus, local do acidente, e onde fica a casa de Raquel. Nem sinal de faixa de pedestres.
sário de 30 anos no dia seguinte. Levou seus três filhos, de 9, 4, e 3 anos, para comer pizza e comprar comida num shopping. Perderam o ônibus de volta, o que fez com que se atrasassem uma hora. Quando chegaram perto de casa, já era noite. Desceram no ponto de ônibus de sempre. Para atravessar a avenida, só havia uma faixa de pedestres a meio quilômetro de distância. Raquel fez o que todos os outros passageiros que desceram do ônibus com ela fizeram: foi até a metade da avenida e esperou os carros cessarem. O filho de 4 anos, que estava carregando um saquinho com água e um peixe
dentro, soltou a mão de Raquel e foi atrás de uma menina. Um carro o atropelou e matou. O motorista não parou para socorrê-lo. Mais tarde, esse motorista admitiu ter bebido e tomado analgésicos. Ele era quase cego de um olho e já havia sido condenado duas vezes por atropelamento sem prestar ajuda. A pena por mais este atropelamento? Seis meses de prisão em regime aberto.
aixa e, assim, indiretamente matado seu próprio filho. O júri que a condenou, além de ser composto unicamente por homens brancos, nunca tinha andado de transporte público na vida.
bido, assim perdendo sua filhinha). Só aos poucos é que as pessoas começaram a perceber a injustiça. O movimento Transportation for America, que luta para que humanos, e não carros, sejam valorizados, aponta que Marietta, a cidade onde ocorreu o acidente, é o decimo lugar metropolitano mais perigoso para pedestres nos EUA –- Orlando, Flórida, onde fica a Disney World, é o número um. Parece que zonas residenciais, como os subúrbios, muitas vezes são mais perigosos que as avenidas centrais de uma cidade. Nas ruas dos subúrbios, os carros correm mais e não pensam que vai haver pedestres. Talvez a mudança de opinião do público, que mais tarde organizou um abaixo-assinado com mais de 140 mil assinaturas em defesa de Raquel, ocorreu
porque muita gente se pôs no lugar dela (e a pressão fez com que a sentença fosse invalidada). Pra atravessar na faixa de pedestres mais próxima, ela teria que andar meio quilômetro com seus três filhos pequenos, à noite, e segurando várias sacolas. Chegando lá, teria que cruzar a rua (e desde quando uma faixa de pedestres detém um motorista alcoolizado?), e voltar outro meio quilômetro com seus três filhos pequenos, à noite, carregando sacolas. Quantas pessoas nessa situação (aliás, pode tirar os três filhos e as sacolas) andariam um quilômetro para atravessar na faixa?
do carro, raramente suas inúmeras desvantagens. Por exemplo, nos EUA, entre 2000 e 2009, 47,700 pedestres foram mortos. Isso equivale a um acidente aéreo com um avião grande cheio de passageiros por mês. Nos dez anos levantados, 690 mil pedestres foram atingidos, não mortos, por carros –- o que representa um carro ou caminhão batendo num pedestre a cada sete minutos. A gente fica chocada e triste com acidentes aéreos que fazem vítimas, né? Mas não costuma dar a mínima pra pedestres atropelados. Por que não? Não são pessoas também? Não damos bola por pura ideologia. Essa é a cultura do automóvel. Já está plantado no nosso cérebro que algumas pessoas valem mais que
as outras. Pessoas que têm carro merecem ter a rua só pra elas, porque são mais importantes que esses pé rapados que caminham ou pegam ônibus. A cultura do automóvel nos ensina que não dá pra viver sem carro, que todo mundo que quer “vencer na vida” tem que ter um carro, que transporte público é coisa de pobre. Pros homens, a cultura do automóvel é ainda mais perniciosa. Carros estão diretamente ligados a sua potência sexual. Eles aprendem que sem carro não são ninguém. Que sem carro não vão conseguir "pegar" mulheres. Que todas as mulheres são maria-gasolina.
as sem carro possam ir de um lado pra outro da rua sem serem atropeladas.
ho. E quando precisamos culpar alguém pelas dezenas de vítimas feitas a cada mês, criminalizamos a própria vítima, o pedestre, ou sua mãe. Nunca a cultura do automóvel.