DANILO GENTILI, O PROSTITUTO DO RISO
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DANILO GENTILI, O PROSTITUTO DO RISO


Uma leitora me enviou um link para a entrevista que o comediante Danilo Gentili deu a Roberto Justus na penúltima segunda-feira, e que foi reprisada este domingo. Até achei o bate-papo interessante nos seus primeiros vinte minutos, antes de virar uma apologia ao humorista, com Justus repetindo a cada momento como seu entrevistado era brilhante e havia se saído bem.
Porém, antes disso, houve momentos tensos. Começa com o psicólogo Jacob Goldberg dizendo: “Policiar a própria linguagem é uma forma civilizada de exercer a liberdade”, se bem que esse tema não é levado adiante. E não sei se foi impressão minha, mas o público aplaude muito no início, e aí vai caindo num grande silêncio. Tanto que Justus tem que pedir aplausos pra Gentili num certo ponto.
Gentili afirma: “Toda comédia tem um alvo. Eu sou um atirador. Eu olho prum gigante e estou procurando o calcanhar de Aquiles dele. É o que o comediante faz”. Achei uma escorregada freudiana ele falar em gigante logo depois d'ele e Justus compararem altura e tamanho de sapato. Além do mais, os alvos de Gentili não costumam ser gigantes. Costumam ser minorias.
Ele cita Chico Anysio, que fazia o Café Bola Preta, em que gente branca não entrava. Tenho certeza que Gentili é um desses caras (como ele já deixou abundantemente claro) que não vê diferença entre usar camiseta 100% negro e 100% branco. Desses que acabam dizendo que racista de verdade é o negro. E que a verdadeira vítima do racismo é o homem branco, chuif. 
Gentili reclama que, quando fez a piada chamando jogador de futebol de macaco ("King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”), ele não pediu desculpas, e o pessoal protestou. E, quando ele fez a piada dos judeus de Higienópolis ("Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz"), e pediu desculpas, o pessoal disse que ele estava sendo falso. 
Tadinho do Danilinho, as pessoas não o deixam em paz! Ele nem menciona que foi a emissora que o forçou a pedir desculpas em seguida. Pelo jeito, há muito mais patrocinadores judeus que negros na Band. Justus revela que se recusou a ir num dos primeiros programas de Gentili porque sentiu-se desconfortável por ele ter feito uma piada sobre holocausto com pessoas que sofreram tanto quanto elas sofreram em toda a história.
“Hoje eu vou no seu programa, porque você se retratou”. Como Gentili acabou de dizer, ele nunca se retratou em relação à piada contra os negros. Mas Justus (nem a emissora) não exigiu retratação. Por que será, né? E olha que racismo é crime no Brasil!
O problema pra Gentili é a piada não ter graça. “Se não tem graça, aí como comediante eu peço desculpa”. E se a piada é ofensiva, segundo ele, é por causa de um erro de interpretação, porque as pessoas ouvem judeu/holocausto, ou negro/macaco na mesma frase, e nem prestam atenção no resto. Olha a comparação que ele faz! Falar em judeus e holocausto na mesma frase não é necessariamente ofensivo. Mas quando que falar negro e macaco não é? Judeus estão pro holocausto como negros estão pro macaco?
“Eu perdi minha avó num desses trens lá,” diz Justus. “Aí vem um engraçadinho chamado Danilo Gentili e faz piada em cima disso”. “Meu pai morreu de infarto”, interrompe Gentili, “e eu faço piada com infarto”. Pra Gentili não existe contexto histórico, discriminação racial, nada. Vou ter que dizer que nunca levei a sério alguém que vem defender Gentili e outras figurinhas carimbadas dizendo que elas são dotadas de grande poder intelectual. Alguém que acha brilhante um cara que compara piada de infarto com piada sobre holocausto (ou estupro) –- piadas que têm um alvo específico -– não merece o meu respeito.
Aí Justus, que finalmente condena piadas com negros, diz que não há nada de errado em fazer piada de loira. Porque é genérico, porque todo mundo sabe que cor de cabelo não tem nada a ver com inteligência, porque é uma bobagem muito grande, então dá pra brincar. Ah, tá. Todo mundo sabe! Justus (e melhor nem falar de Gentili) nunca parou pra pensar por que a piada é com loira, não com loiro. É piada reiterando o que o senso comum vive dizendo -– que mulher é burra. Se for bonita, então (já que loira é padrão de beleza), só pode ser uma porta. Dessas que comparam piada sobre holocausto com piada sobre infarto.
Justus reitera que dá pra rir de piada de loira porque não há comprovação científica que cor de cabelo interfere na inteligência (provalmente Justus não deve saber que já houve mil e uma pesquisas comprovando cientficamente o que o status quo queria ouvir -– que brancos eram superiores a negros, que ser gay é doença, que nascer mulher já assina seu destino como dona de casa, que prum casamento ser feliz a mulher tem que ser mais magra que o homem etc etc). Gentili percebe a besteira que Justus está dizendo e pergunta: “E quando eu digo que negro é macaco?”.
Justus:“Aí vc tá sendo racista”.
Gentili: “Não, pra mim é bobagem, porque negro não é macaco, e a loira não é burra”. 
Mas criatura, você acabou de dizer, através da piada, que negro é macaco, e que loira é burra, ué! E você não estava sendo irônico. Piada e ironia são coisas bem diferentes. Ironia não é sinônimo de humor. Ah, você não estava falando sério? Mas aquelas pessoas que acham hilárias as piadas preconceituosas não são as mesmas que afirmam que toda piada tem um fundo de verdade?
Gentili completa: “Se você ri de português, você não tem razão pra se ofender com nenhuma outra piada”.  
Por mais que eu não goste de piada de português, há diferenças. Não estamos falando de um povo historicamente oprimido, e sim de um ex-império que nos explorou durante séculos. Gentili não consegue ver diferença entre humor que luta contra o sistema e aquele que simplesmente perpetua o sistema. Ele não se pergunta por que quase todos os seus alvos de “toda piada tem um alvo” são minorias! Imagina como o público preconceituoso que o aplaude se sentiria se, ao invés de Gentili fazer piada chamando negro de macaco, ele fizesse piada de quem faz piada racista e de quem ri de piadas racistas!
Mas isso tudo é muito sofisticado pra ele. Então ele diz: “Eu sou uma prostituta do riso. [Note o gênero]. Se você rir eu vou falar”.
Ele fala do contexto de um programa ou de um show de stand up, onde as pessoas estão lá pra rir, é uma piada atrás da outra, uma frase faz referência com a que veio antes. E ele diz que, tirando daquele contexto, colocando como frases isoladas, ele vai parecer um completo idiota. Não posso discordar.  
O programa só tem interesse até os primeiros 20 minutos. Depois começa a falar sobre a vida pessoal de Gentili, tenta humanizá-lo, e eu não tenho o menor interesse em saber qualquer coisa pessoal sobre a vida de um babaca. A menos que –- e isso diz bastante –- a gente queira saber que ele foi um bully na escola (alguma dúvida?). Só que ele diz, pra se justificar, que sempre foi bully com ele próprio. Grandes coisas. Humor autodepreciativo, além de ser uma arma de autodefesa, não te dá direito de ofender os outros.
No minuto 30, há uma interrupção mal explicada no programa para promover dois guias politicamente incorretos, esse termo que tem virado eufemismo pra reacionário. Quem aparece? Mais homens brancos (de todas as pessoas com voz em 51 minutos de programa, todas as oito pessoas são homens brancos), entre eles o patético polemista Pondé.
Gentili volta pra filosofar: “O humor é transgressor por natureza”. O que vocês estão transgredindo, Gentili? Chamar negro de macaco é transgressor? Inventar que Zumbi não foi um herói da resistência negra -– e ter todo o apoio da mídia pra divulgar essa sua ideologia -– é transgressor? Dizer (como faz o colega e sócio Rafinha) que estuprador de mulher feia merece abraço é transgressor? Piadas racistas, homofóbicas, machistas, são novidade em que mundo? Não, gente. Transgressor é quem luta por mudanças. Gentili é apenas um papagaio que conta as mesmas piadas do seu tataravô. E que faz rir aquele público não muito esperto que acha palavrão transgressor.




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