Uma canção como Atirei o pau no gato nunca deveria ter existido.
rofessora de ensino fundamental. Mas, antes de mais nada, qual é a polêmica, ou como diz uma amiga minha, qual é o pó? O pó é que a obra é racista, e bastou falar em colocar uma mísera notinha de rodapé explicando o racismo pro mundo cair abaixo: Censura! Esses comunas querem fazer uma fogueira de livros! E juro que até agora não vi ninguém falando em censurar Lobato, apenas querendo discutir o que fazer com uma obra dessas numa sala de aula.
lógico, tá cheio de problemas, porque um dos personagens principais é um escravo foragido. Por conta do uso ilimitado da palavra nigger (que aparece 219 vezes) o romance está sempre na lista dos “banned books” (livros banidos) dos EUA. Funciona assim: pais denunciam uma obra como inadequada para estar no catálogo de uma biblioteca ou escola, e muitas vezes ela acaba sendo retirada (obviamente os mais banidos no momento são os da série Harry Potter e Crepúsculo). Vi que vão lançar uma edição trocando a detestável N-word por slave (escravo), o que é meio esquisito. Acho que as professoras têm mais é que conversar com os alunos e mostrar que aquele tipo de comportamento e linguagem, tão comum na época, hoje é visto como inaceitável
-– uma prova de que o mundo evoluiu um pouquinho, ficou menos intolerante.
deveria ser independente de seu autor, mas não é. O jeito como você encara Polanski vai afetar o jeito que você vê seus filmes -- pô, vai afetar até sua decisão de ver ou não os filmes!
mento de uma Nação. Conhecem? É um grande filme de 1915, um épico fabuloso do Griffith, o pai do cinema americano. Foi o filme mais lucrativo de todo o período silencioso, aclamado por crítica e público. E o filme é lindo e inovador, com excelente fotografia, montagem, direção, atuações (tem a Lilian Gish), enfim, um filmaço. Com um pequeno, minúsculo detalhe: deve ser o filme mais racista que já vi na vida. Os heróis do filme são homens da Ku Klux Klan (inclusive um primeiro título foi The Clansman, e a organização racista usou o filme para recrutar novos filiados durante mais de meio século
, como propaganda mesmo). Os negros que aparecem no filme (todos atores brancos com o rosto pintado de negro) são violentos e sexuais, um perigo pras donzelas brancas, naquele velho clichê que as mulheres brancas precisam dos homens brancos para salvá-las dos homens negros. E aí? Como passar o filme hoje nos EUA? Não há a menor dúvida de que ele seja descaradamente racista. É como se fosse a versão americana de O Triunfo da Vontade (da Leni Riefenstahl falando bem dos nazistas, num filme tecnicamente perfeito, mas, ahn, sabe, nazista).
estivais de cinema em praças nos fins de semana. Teve um mês (fevereiro) que era da História Negra, então passaram alguns filmes com essa temática, como A Cor Púrpura e Tempo de Glória. Imagina se alguém pensaria em passar Nascimento de uma Nação! Nunca. Ainda mais numa cidade com 80% de população negra. Mas seria realmente muito ofensivo em qualquer lugar. E aí, o que você faz? Você esquece um dos filmes mais marcantes do cinema por ele ser racista? Você passa o filme, mas fala e escreve que ele representa uma época que, graças a zeus, não existe mais? E os pais, deveriam mostrar Nascimento pros filhos? Poderia ser passado nas escolas? Como os alunos, professores e funcionários negros se sentiriam ao ver um filme que louva a Ku Klux Klan? Nascim
ento é tão canônico pro cinema americano quanto Sítio do Picapau Amarelo é pra literatura infanto-juvenil. A diferença é que os americanos começaram a debater a (in)adequação de Nascimento décadas antes da gente fazer o mesmo com Lobato. E é muito complicado decidir como agir.
ta. E o que quer o pessoal que usa o politicamente correto como palavrão? Continuar no seu direito inalienável de ofender as minorias? É essa gente que quer censura. Essa gente que defende que, só porque um troço faz parte da "tradição", não deve ser discutido. Sabe, não é por que o Sítio do Picapau Amarelo embalou a sua infância e que você não é racista porque até tem um amigo negro que gostou do livro que a obra não seja racista. Então eu pergunto: quem não quer o debate? Quem está censurando quem?