A única coisa certa que Jô falou na entrevista.
entendo que em doze ou quatorze minutos não dá pra fazer milagre, mas o mínimo que se podia esperar era que ele estivesse bem preparado. Não. Ele não sabia que: 1) Coppola dirigiu Tetro, o filme que veio divulgar no Brasil (ou por que ele estaria dando entrevista? Porque gosta? Dá pra ver pela cara nada simpática dele que não gosta!), 2) que Tetro foi lançado em Paris no ano passado, 3) que os pais e avós do diretor eram todos italianos, 4) que Coppola produziu um filme chamado Assassination Tango, com Robert Duvall,
5) que Coppola acharia ruim e barato o vinho que a produção arranjou pra ele (ok, o diretor foi indelicado, chamando o vinho de ordinário), 6) que o avô de Coppola não trabalhava numa vinícola... em Nova York, 7) o nome do ator principal de Tetro (Vincent Gallo), e 8) esta é a pior de todas: Jô pergunta pro Coppola se ele sempre produziu todos os seus filmes ou se tinha alguém controlando – sendo que suas brigas com Robert Evans entraram pra história de Hollywood! (Note como o Coppola coça o nariz quando Jô lhe pergunta isso).
Qualquer entrevista com tantas gafes – o entrevistador diz no quarto minuto, “Não estou bem informado!” - seria um desastre. Mas Jô ainda faz perguntas genéricas como “Você toma vinho em todas as refeições?”
e “Quanto tempo você levou para escrever o roteiro?”. E comparar o poder dos produtores de hoje com os da época dos estúdios é uma temeridade. Coppola não é carinhoso, mas o que ele poderia dizer pra alguém que lhe fala, seriamente, que a cena mais apocalíptica de Apocalypse Now é a dos helicópteros? Só mesmo um “Oh yeah” (entonado quase como se fosse um “Duh!” Aliás, repare também a cara de “O que estou fazendo aqui?” do diretor ao ter que ouvir do Jô que é mais fácil para argentinos e espanhóis trabalharem juntos, por causa da língua).
Essa entrevista é pra enterrar a reputação de qualquer um. Como diz Marlon Brando no final de Apocalypse, foi “the horror, the horror”. Um estagiário entrevistando Coppola faria melhor. O Borat faria melhor! (pelo menos seria engraçado). E sem insultar os universitários na plateia no final, ao dizer que, sem a tradução simultânea, eles ficariam olhando pro teto durante 14 looooongos minutos. 