E sobre isso de desacato à autoridade, acho o maior absurdo. Se não estivéssemos falando de um país democrático como os EUA, que nunca passou por um regime de exceção, eu diria que é bem isso, resquício da ditadura. Mas o princípio é parecido: pra que haja desacato à autoridade, é preciso que haja uma autoridade. Que não possa ser questionada, ou sequer criticada. Sou totalmente contra isso. Quero que essas hierarquias se explodam.
ela gosta muito no aeroporto de Floripa. O voo atrasou, a pessoa não deu notícias, e minha amiga meio que entrou em pânico. Ficou muito nervosa. Agora, vejamos: se você é policial e está perto de uma pessoa nervosa que não é uma marginal, nem está cometendo nenhum crime, o que você faz? Tenta acalmar a pessoa, tranquilizá-la, quiçá ajudá-la, ou a prende por desacato à autoridade? Sinceramente, acho que tem que ser um policial muito ruim (tanto aqui quanto nos EUA), que desconhece o valor do seu trabalho, pra simplesmente algemar o cidadão. Posso estar enganada, mas pra mim polícia é prestadora de serviço. E seu serviço não é apenas correr atrás de marginais e prendê-los. É, inclusive, impedir que um crime aconteça, com trabalh
os preventivos, de conscientização, e também trazer paz às pessoas. Criar um ambiente seguro pra todo mundo. Todo mundo quer dizer até alguém que está nervoso e precisa de ajuda naquele momento. Quer dizer, imagino que um policial, como profissional que é, tenha recebido treinamento pra saber lidar com pessoas nervosas. Que benefício há em prender a pessoa nervosa? Nenhum. Alguém vai ter que levar essa pessoa à delegacia, será aberto um novo processo, que mais uma vez sobrecarregará o sistema judiciário. Acho que essa atitude de prender é só pra restaurar a ordem mesmo. Mas não a ordem do loc
al - porque, tanto no caso do professor de Harvard, preso em sua casa, quanto no caso da minha amiga, presa no aeroporto, eles não estavam pondo em risco a vida de ninguém. “Restaurar a ordem”, nessa ocasião, parece ser colocar as pessoas nervosas no seu devido lugar, de subalternas. Isso é de um autoritarismo insano. Não é o tipo de polícia que eu quero, não.