Moradores de Pilões recorrem a caixas comunitárias para conseguir água (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Dona Oldaleia, de 34 anos, diz que atravessa o piormomento da vida (Foto: Anderson Barbosa/G1)

Dona Oldaleia afirma que atravessa a pior fase da vida. "A vida no sertão é sofrida, mas a seca que começou no ano passado e segue até hoje é a pior que já vi. Perdi todo o milho e o feijão que plantei. Meu marido está desempregado e não encontra serviço na cidade. Todo o dinheiro que entra em casa é do Bolsa Família", disse.
No dia anterior, dona Oldaleia não tinha enfrentado a fila da água. Isso porque, na segunda-feira (25), a cidade de Pilões, distante 420 quilômetros de Natal, não foi abastecida pelos caminhões-pipa.
"Logo cedinho, todos ficamos sabendo que o pneu do carro havia estourado e que ele seria levado para uma oficina. Como só tinha pegado água na sexta-feira passada, uma vez que não há abastecimento nos fins de semana, fiquei sem água em casa. O mesmo aconteceu com as outras pessoas. Agora temos que enfrentar filas enormes para poder levar água", disse.
Parte do pouco dinheiro de dona Oldaleia é destinada para comprar água de beber. "Essa água da cisterna pública vem do açude de Marcelino Vieira. A que bebemos, compramos de um rapaz que traz de Apodi. Acaba ficando pesado comprar água para quem ganha pouco e não tem condições de plantar e colher nada com essa seca. O que nos resta é esperar pela chuva e que o açude da cidade volte a encher", espera.
Pior seca em 50 anos
No dia 19 de setembro, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, decretou "situação de emergência por seca" em 150 dos 167 municípios do estado. Em novembro, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) informou que nove municípios permanecem em colapso no abastecimento e adimitiu que não tem condições de abastecer a cidade e que suspendeu a emissão de faturas aos moradores.
Durante três dias, o G1 percorreu mais de 1.200 quilômetros de estradas de terra e asfalto para ver quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos moradores de Ipueira, Carnaúba dos Dantas, Equador, São José do Seridó, Antônio Martins, Água Nova, João Dias, Pilões e São Francisco do Oeste. Além da morte de animais e da destruição de lavouras, foi possível ver que os moradores travam uma luta diária pela própria sobrevivência, em busca de água potável.
No domingo (1°), o "Fantástico" mostrou como funcionam os programas que combatem a seca com caminhões-pipa. O principal responsável pela distribuição no semiárido do Brasil é o Exército, que paga até R$ 15 mil mensais para cada um dos 6 mil pipeiros responsáveis por levar água a 835 cidades, em nove estados, para quase 4 milhões de pessoas. Só em 2013, o governo federal já gastou mais de meio bilhão de reais com o programa. Em dois meses de investigação, a reportagem encontrou tanques imundos, água contaminada e entregas que nunca foram feitas.
Moradores de Pilões relatam dificuldades para conseguir água potável na seca (Foto: Anderson Barbosa/G1)