Com uma avalanche de votos, Serra é que deveria tomar posse.
ida. Sei. Porque quando Collor foi eleito com o total apoio da sua emissora, ele era famosíssimo em todo o Brasil, certo? Porque Anastásia, governador eleito no primeiro turno em Minas, distribuía autógrafo quando andava pelas ruas de Belo Horizonte, né? Aham. Senta lá, William. Mas essa besteira foi fichinha perto de outra. Não lembro quem falou, só sei que se alastrou como praga por um grupinho de péssimos perdedores: que Dilma não foi legitimamente eleita, pois não teve a maioria dos votos.
ões, entende? E olha a injustiça do nosso sistema eleitoral: mesmo com essa avalanche de votos, perdeu, playboy!
nulo. E eu nem piscava. Da última vez o Luiz Henrique ganhou. Isso quer dizer que eu votei no Amin? Nem a pau!
Abstenções têm de monte, sempre, e as do segundo turno ficaram em 21,5%, número apenas um pouquinho maior que no primeiro turno, que também não foi nada de excepcional (ou os analistas realmente acreditam que abstenções foram uma invenção dessas eleições?). Pessoas deixam de ir votar por
mil e um motivos: algumas morrem (e seus nomes continuam na seção eleitoral), algumas estão internadas em hospital, algumas viajam (o maridão quase foi jogar um torneio de xadrez em Recife; eu, em 2008, cheguei em Joinville faltando cinco minutos pras urnas fecharem, porque tive um congresso na Argentina — felizmente deu tempo de votar no Carlito), algumas nunca transferem o título pra cidade nova. Eu conheço um monte de gente de esquerda, eleitor do PT, que não vota nunca, porque se mudou faz um tempão e não transferiu o título, seja por inércia, seja por medo de ser chamado pra ser mesário. Eu critico: acho que votar é nosso direito e dever de cidadão.
princípio do voto obrigatório é o mesmo de ter um segundo turno: fazer com que o candidato eleito ganhe com o voto da maioria que votou. Até 1988 a gente só tinha um turno, e isso causava algumas surpresas. A Erundina jamais teria sido eleita prefeita de SP em 88 se houvesse um segundo turno. Mas não tinha (e as regras valiam pra todos), então ela conseguiu 33% dos votos válidos e levou (graças aos bons céus!). Eu passei metade da minha vida pensando que, se o voto fosse facultativo, o PT nunca perderia uma eleição. Porque, em geral, eleitor do PT — ao menos aqueles 25% a 30% que votam no partido, independente do candidato — é mais politizado, mais aguerrido, mais apaixonado que eleitor tucano que perde o voto mas não perde o feriado
. Só que hoje não tenho mais certeza. Tem eleitor do PT que não transfere o título, que viaja, que fica com preguiça de votar. Mas parece bastante óbvio que, se o voto não fosse obrigatório no Brasil, teríamos índices de comparecimento às urnas bem próximos aos dos EUA: mais ou menos uns 50% de quem poderia votar de fato votaria (e só pra lembrar: Obama foi eleito dois anos atrás com 53% dos votos contra 46% do McCain. Uma diferença de 7%. Aqui foi 56% a 44%, 12% de diferença. Só que lá, como eles têm uma democracia amadurecida, ninguém questionou a legitimidade de Obama. Bom, questionaram, dizendo que ele não é americano. Tá, risca a parte da democracia amadurecida).
ações: foi o Nordeste atrasado que elegeu Dilma, foi Aécio em Minas que derrotou Serra, foi o feriadão que interferiu, foi Dilma que foi rejeitada pelas urnas. O que eles querem dizer mesmo eu traduzo pra vocês: "Putz, esse negócio de democracia é muito bonito quando a gente ganha, mas quando perde é pedreira, hein? Isso de deixar qualquer um votar tem que ser revisto! Quando a gentalha, os nordestinos, os analfabetos elegiam o Collor e o FHC tudo bem, naquela época sim esse povinho sabia votar. Mas parece que desaprendeu! Desde 2002 só vota errado, onde é que já se viu?!".
a qualquer empresário — melhor fazer um tipo de pré-seleção antes de estender a democracia pra qualquer um! Bom, quem sabe assim, apenas com empresários pré-selecionados votando, e desde que a eleição não caísse num feriadão, talvez Serra seria eleito com grande maioria dos votos. E com legitimidade!
conspiração do Lula, mas marcado dez anos antes por FHC?). No segundo turno de 2006, o total das abstenções e votos inválidos foi o menor de todos: 24%. Em 2002, 25%. Puxa, quem diria?! Até pra votar no Lula não foi todo o mundo que compareceu! Mas o mais engraçado é o índice das eleições que deram vitória a FHC, sempre no primeiro turno. Em 1994, o total de abstenções e votos nulos e brancos foi de 32%. Em 98, na sua gloriosa reeleição, de 36%. Putz, então ele governou durante oito anos sem a maioria da população?! Podemos pedir um impeachment retroativo pra ele? Fora FHC!