Por Altamiro Borges
A greve dos portuários na sexta-feira, que mobilizou cerca de 30 mil operários em 36 portos de 12 estados, fez com que o governo recuasse na sua posição de acelerar a aplicação da Medida Provisória 595, que cria um novo marco regulatório para o setor. Após reunião em Brasília, os sindicatos anunciaram o fim imediato da paralisação. Em troca, o governo se comprometeu, finalmente, a negociar alguns pontos polêmicos do MP. A mídia patronal, que destilou ódio contra os grevistas, não deve ter gostado do desfecho.
Segundo relato do jornal O Globo de hoje, o governo decidiu “suspender as multas aos sindicatos e garantiu que não fará movimentos para acelerar o trâmite da MP no Congresso, interromperá o processo licitatório concedendo áreas à iniciativa privada e não editará decretos regulamentando a MP até 15 de março, quando os dois lados esperam chegar a um acordo’. A gente tem que ter humildade de dizer que precisa conversar e abrir o leque da negociação’, afirmou o José Leônidas Cristino, da Secretaria Especial de Portos”.
O governo alega que a medida provisória visa modernizar os portos. Já os sindicatos afirmam que o projeto acelera a privatização deste setor estratégico, beneficia as multinacionais e vai gerar desemprego. “Do jeito que está redigida, a MP prejudica frontalmente os interesses dos trabalhadores e, consequentemente, do povo brasileiro”, ataca Wilton Barreto, presidente da Federação Nacional dos Estivadores. No outro extremo, Gerdau, Cargill e outras corporações elogiaram a MP e apresentaram propostas bilionárias de portos privados.
Neste conflito de interesses, a mídia privada não vacilou em defender o lucro do capital e atacar a luta dos trabalhadores. Em editorial, o Estadão criticou o “mau uso da força” – numa crítica à Força Sindical, que liderou a resistência dos portuários. Para o jornal da famiglia Mesquita, que historicamente sempre satanizou as greves operárias, o governo não deve “se render às ameaças da Força” e deve acelerar a MP, “que tem tido o apoio da maioria das organizações empresariais” interessadas em “reduzir os custos operacionais”.
No meso rumo, o editorial intitulado “Abertura dos portos”, a Folha afirmou que a mobilização sindical visa "manter a reserva de mercado para contratar mão de obra, o que anularia a boa iniciativa liberalizante do Planalto”. O jornalão, que faz oposição aberta ao governo, até elogiou “a louvável iniciativa da presidente Dilma Rousseff de abrir, ainda que parcialmente, o setor portuário ao capital privado e à concorrência”. Para a famiglia Frias, outra inimiga histórica da luta trabalhista, a resistência portuária é um “atraso”.
Aos jornalões conservadores se somou a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Segundo o jornal Valor, ela comparou o “movimento grevista às invasões do MST”. A ruralista defende a MP por motivos óbvios: a chamada “modernização dos portos” serve aos interesses dos barões do agronegócio, favorecendo as exportações. Quanto aos trabalhadores – ou escravos? –, pouco importa! Nestas horas, latifundiários, empresários e a midiazona se unem contra o trabalho e têm pressa!
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