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Guerra psicológica, fraude real - GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
A virada do ano mostrou que é uma injustiça manter os mensaleiros presos. Ao apagar de 2013 e ao raiar de 2014, o Brasil mostrou que aprova a picaretagem como forma de governo. Não é justo, portanto, em se legitimando os picaretas de hoje, manter os picaretas de ontem encarcerados, sendo todos correligionários. Basta de desigualdade. Liberdade para todos.
A picaretagem inaugural do governo popular em 2014 teve como porta-voz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Como se sabe, o PT se especializou na arte de mentir para a coletividade - e depois descobriu que não precisava de especialização nenhuma, porque o Brasil engole qualquer mentira tosca. Por isso é que Lula diz que o mensalão era caixa dois de campanha e não se desmoraliza perante a opinião pública. Está provado que o mensalão foi roubo de dinheiro público cometido pelo PT, e está provado que mentir no Brasil não tem o menor problema. Com essa jurisprudência, o ministro da Fazenda não tem por que não se espalhar.
Guido Mantega anunciou, triunfante, que o governo cumpriu a meta de superavit primário em 2013.0 ministro disse que o resultado oficial sairia no fim de janeiro, mas ele decidira antecipar a divulgação para "acalmar os nervosinhos". Assim é o PT hoje: como as mentiras colam facilmente, elas passaram a vir acompanhadas de zombaria. O governo cumpriu a meta de superavit depois de reduzi-la em R$ 35 bilhões - de R$ 108 bilhões para R$ 73 bilhões. Se fizesse isso com pensão alimentar, o ministro estaria preso.
Como já foi dito neste espaço, o Brasil é mulher de malandro. É lesado pelo bando e continua votando nele. Devendo-se ressalvar que mesmo uma mulher de malandro não aceitaria este trato: o malandro paga só dois terços da pensão porque ele mesmo resolveu encolhê-la em um terço. É o tipo da malandragem que só cola no matrimônio petista com o eleitorado masoquista.
O superavit para acalmar os nervosinhos tem outros truques espertos. Mais alguns bilhões de reais em despesas de 2013 serão contabilizados pelo governo popular depois da virada do ano. Malandragem de playground. Fora a contabilidade criativa no Tesouro Nacional - hoje devidamente aparelhado pelos companheiros -, expediente picareta já notado e repudiado mundo afora, mas tolerado Brasil adentro. É com esse arsenal de trampolinagens que os companheiros desviam o dinheiro público para a propaganda política e a rede de facilitações populistas. Por que só os mensaleiros têm de pagar?
O anúncio esperto do ministro da Fazenda foi feito poucos dias depois de um pronunciamento da presidente da República em cadeia nacional - o pronunciamento "de fim de ano" de Dilma Rousseff. Como um país que se diz diferente da Venezuela chavista tolera um "pronunciamento de fim de ano" da presidente em rede obrigatória de rádio e TV? Onde está o senso crítico e a vergonha na cara dos brasileiros para repudiar essa praga do comício oficial em tudo quanto é data comemorativa? Onde estão os manifestantes nervosinhos, a oposição, a OAB, as ONGs da cidadania e todas essas vozes estridentes que vivem panfletando bondades cívicas por aí?
Pois bem: no comício oficial e obrigatório de Réveillon, Dilma Rousseff denunciou - eles continuam denunciando - a existência de uma "guerra psicológica" para afugentar investimentos e desestabilizar a economia nacional. É muita modéstia do PT achar que alguém pode desestabilizar a economia melhor do que eles.
Que repelente contra investidores poderia ser mais eficiente do que um governo que mente a céu aberto sobre suas contas? Que fabrica superavit e esconde dívida? Que atropela a meta de inflação e tenta mascará-la amarrando preços de tarifas, que ninguém sabe quando e como serão liberados? Que faz declarações ideológicas sobre a política monetária e cambial do Banco Central, ora baixando os juros no grito, ora jogando impostos na lua para tentar conter a fuga de dólares? Qualquer guerra psicológica dos inimigos da pátria seria brincadeira de criança perto da lambança real dos amigos da onça.
Não é justo que a turma do valerioduto assista a essa orgia de trás das grades. Pelo grau de tolerância do Brasil 2014, Dirceu, Delúbio, João Paulo Cunha (o Mandela brasileiro) e companhia são uns injustiçados.
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