GUEST POST: ASSÉDIO MORAL, BULLYING PARA ADULTOS
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GUEST POST: ASSÉDIO MORAL, BULLYING PARA ADULTOS


Creio que o blog nunca tratou deste tema importante, o assédio moral no trabalho.
Segundo um site especializado, o assédio moral "é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego".
O site lembra que um só ato isolado de humilhação não constitui assédio moral. Ele precisa ser repetitivo e intencional (para fazer a vítima largar o emprego, por exemplo). Geralmente uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório. Quase 70% das vítimas de assédio moral responderam que as humilhações ocorrem várias vezes na semana. É tão grave, e tão frequente, que não raro leva ao suicídio. 
Aqui há algumas perguntas e respostas sobre assédio moral e sexual. Aqui, algumas dicas de como combatê-lo. Aqui, toda uma cartilha explicando o que é e o que fazer.
A M. me enviou um relato sobre o assédio moral que sofreu. É aterrorizante!

Comecei a trabalhar aos 13 anos de idade como office girl, muito cedo, em 1985, pois minha mãe havia enviuvado jovem e com três filhos pequenos para cuidar. Eu era a mais velha de todos, e desde então trabalhei para ajudar minha família, e estudei para ter um bom futuro. 
Estudei numa escola técnica em Administração e comecei um estágio na área administrativa de uma editora. Quando terminei o curso seria o fim, mas o gerente resolveu me contratar como auxiliar dele. Fiquei muito aliviada, pois assim poderia iniciar uma faculdade, mas aí começaram os meus problemas. 
Muito cedo soube que as relações de trabalho devem ser separadas do vínculo familiar, e meu comportamento sempre foi reservado e sério. Quando contratada como funcionária pela editora, ao deixar de ser uma estagiáriam tudo começou a piorar entre os colegas. Se antes o contato profissional era cordial, algo mudou. No começo foram piadinhas com a forma que eu caminhava, depois minhas roupas, meu cabelo. Eu ignorava tudo isso, pois estava lá a trabalho e não para vida social, mas aí as coisas se complicaram. 
Quando eu ia abrir uma gaveta havia uma cusparada, meus documentos rasgados e, consequentemente, muito trabalho para ser refeito, fora bilhetes ofensivos. Eu continuava ignorando, limpava a sujeira e refazia o trabalho, pois era um grupo e eu não saberia quem realmente estava fazendo isso, se uma ou mais pessoas. Isso foi no ano 2000, e não havia todo este aparato tecnológico disponível hoje para pegar vilão ou vilã. 
Pra piorar, os bilhetes começaram a aparecer com surpresas: insetos, restos de fezes. Mesmo que eu tentasse ignorar, isso passou a prejudicar minha saúde, já que não podia deixar água numa mesa, por exemplo. Um dia deixaram uma caixa lacrada em minha mesa com meus dados e o endereço da empresa; quando eu a abri, havia um rato morto dentro. Coloquei um basta e fui conversar com o chefe de edição da editora. Foi convocada uma reunião com todos os funcionários, mas ninguém se manifestou ou esboçou reação. 
Então o editor-chefe resolveu demitir meu gerente e contratar um outro amigo da família para gerenciar o departamento. Mudanças? Não exatamente, pois o tal gerente começou a atribuir a mim várias funções. Eu não só fiquei com a parte administrativa, mas também precisei cuidar da recepção e da parte da circulação da revista; não tinha horário de almoço. 
O que alegavam para essa sobrecarga? Falta de funcionários. O estopim veio quando o novo gerente veio tratar comigo sobre um envio de exemplar de revista atrasado. Estávamos no arquivo, e ele me deu um croque na minha cabeça e eu me defendi. 
No mesmo dia entrei em contato com uma jornalista que tinha uma editora, contei a situação e ela me ofereceu emprego. Embora o salário fosse bem menor, aceitei e pedi demissão. 
Como eu estava trabalhando e fazendo faculdade, resolvi prestar concurso público e passei em uma instituição de saúde estadual. Comecei a trabalhar como escriturária, e durante um ano foi tudo tranquilo. O problema foi quando abriram para cargo de comissão que nada mais é do que cabide de emprego para pessoas oportunistas que conhecem políticos e assim conseguem emprego sem terem nenhuma capacidade.
Veio uma mulher "trabalhar" no hospital como chefe de unidade hospitalar, sem conhecimento nenhum na área da saúde, mas com costas quentes e marido que era assessor de um deputado. Eu naquela época cursava Farmácia e pretendia prestar concurso interno na área, pois trabalhava num hospital e queria fazer um curso vinculado ao meu trabalho. Essa mulher começou a tirar as minhas funções, e fiquei sem acesso a telefone e a documentos que eram necessários para o meu trabalho. 
Ela solicitou minha transferência para a recepção do hospital. Como coisas misteriosas aconteciam, como o sumiço de chaves e fichas de atendimento, comprei um broche espião e um gravador. Numa das minhas “conversas” com ela, gravei tudo em fita e vídeo pelo broche espião, coloquei data, horário, fui a uma delegacia, e fiz um boletim de ocorrência. Ainda assim, o delegado alegou falta de provas, e disse que a gravação havia sido feita sem consentimento. 
Consultei uma advogada e ela falou para eu pedir transferência para outro hospital estadual, fiz outra consulta com outro advogado, a mesma resposta e o mesmo que o delegado falou: imagens sem consentimento. Um terceiro advogado disse que poderíamos fazer algo, mas o risco era meu, pois a tal senhora tinha bons contatos e eu poderia terminar mal. 
Acabei pedindo uma licença de dois anos sem remuneração deste hospital e prestei outro concurso público em outro estado. Passei e atualmente trabalho e moro em uma cidade do interior do sul do Brasil. Tenho uma vida simples, mas tranquila e com paz, se bem que essas memórias ainda me afligem. 
O assédio moral atinge tanto mulheres quanto homens e pode ser prejudicial tanto no sentido profissional como no de saúde. Como trabalhei na área da saúde, vi casos de muitos pacientes com este quadro em laudo pericial. Infelizmente eu não pude provar o assédio moral que sofri nas duas empresas, mas espero que este post ajude quem passa por este sério problema. Existem coisas que você pode e deve fazer. 
Eu vejo o assédio moral como um bullying de adultos. Ninguém deve se submeter a esta humilhação.




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