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GUEST POST: EU SOU JÉSSICA
A L. me enviou esta sua história de identificação:
O burburinho do filme Que Horas Ela Volta? talvez já tenha passado. Muitos artigos foram postados, muitos textões de Facebook foram compartilhados, muito se discutiu, muito se falou. E, apesar dessa onda de discussões acerca do filme, ainda quero falar sobre ele, sobre o que ele significa pra mim.
Vou pular partes que já foram amplamente discutidas e compartilhadas e vou falar sobre a minha pessoa neste filme.
Sim, eu sou Jéssica [uma jovem que sai de Pernambuco para ir a São Paulo fazer vestibular e fica na casa dos patrões de sua mãe, a empregada Val]. Jéssica foi praticamente meu puro e simples retrato. Nunca me senti tão fortemente identificada com algum personagem como me senti com Jéssica.
Assim como Jéssica, minha mãe é empregada doméstica. Assim como Jéssica, minha mãe já morou durante muito tempo naquela gaiola chamada de “quartinho da empregada”. Mas, diferentemente de Jéssica, eu também morava com a minha mãe naquele cubículo até meus 10, 11 anos de idade, quando finalmente pudemos alugar uma casa.
Minha mãe nasceu em uma família muito pobre do interior do Ceará. Sem chance nenhuma na vida de ter estudado, começou a trabalhar como empregada doméstica muito cedo na capital, mas, algum tempo depois de eu ter nascido, nos mudamos para o interior.
Sou filha de mãe solteira. Meu pai, como é de se imaginar, se recusou em me assumir e me reconhecer como filha. Bem, essa fase da rejeição passou e o que preenche meu ser é a gratidão em ter a mãe que eu tenho. Sem condições financeiras, e também sem vontade de me dar para a adoção, ela ficou comigo, ao contrário do meu pai.
Nasci e tive minha infância no quartinho de empregada. Para atenuar o revés da vida, nasci branca e de olhos claros, o que fazia com que todos os patrões e patroas que minha mãe teve olhassem para mim com uma cara não tão grande de nojinho e dissessem: “Nossa, que menina bonita, parece filha de gente rica”. Ouvi muito essa frase na minha vida. Ter nascido branca e de olhos claros me poupou de ser rejeitada para ir junto com minha mãe ao emprego.
É doentio pensar assim, mas hoje vejo que as pessoas me aceitavam apenas por conta disso. Esse fato é tão assustador, que tenho inúmeras lembranças das pessoas olharem para mim, dizendo que eu era uma menina bonita, logo em seguida perguntavam se eu era filha da patroa e eu dizia que não e apontava para minha mãe. A expressão de encanto das pessoas mudava assustadoramente. Com o tempo fui me acostumando com isso.
Mesmo com essa diferença da maneira que fui criada, continuo a dizer que eu sou Jéssica. Assim como Jéssica, sempre estava com os livros, onde achava o meu refúgio. Assim, como Jéssica, queria (e quero) fugir do ciclo da pobreza que a minha mãe infelizmente não conseguiu. Assim como Jéssica, sempre vi na educação uma maneira de me libertar desta arrama. Jéssica, enfim, sou eu na tela do cinema.
Na cena em que Jéssica é apresentada aos patrões de Val e diz que quer entrar numa faculdade muito concorrida, os patrões de Val a olham com um desdém que me é muito familiar, muito real, pois eu conheço esse olhar. Inúmeras vezes esse olhar já foi dirigido a mim quando falava de minhas pretensões. Mas assim como Jéssica, não me intimidava com esses olhares.
Quando representei o Brasil numa conferência na Rússia, foram muitos os olhares e comentários surpresos, como se eu não fosse capaz de uma coisa dessas. Quando passei para uma universidade federal, a patroa da minha mãe, fazendo a mesma cara incrédula que a patroa de Val faz quando ela fala que Jéssica tinha passado na primeira fase do vestibular, disse: “Se fosse minha filha não deixaria morar na capital”. Ora, se todos os filhos dela estudaram na capital, por que eu não podia?
Fiz esse mesmo questionamento quando estava a sós com minha mãe. Falei a ela sobre esses pensamentos típicos da classe média sofre, sobre como, para eles, a universidade não é lugar para mim. No entanto, diferentemente do que é retratado filme, minha mãe não é uma Val, ela nunca deixou de se impor e, da maneira dela, nunca baixou a cabeça para as Bárbaras que encontrou na vida. Minha mãe foi quem me ensinou a ser Jéssica, foi ela quem sempre me impediu de seguir os seus passos a fim de me deixar livre para afundar nos livros e ser dona do meu destino.
Porém, o filme de Jéssica acabou. O meu, não. Minha jornada mal começou. Minha mãe ainda não tem condições de sair do emprego, e eu ainda não tenho condições de tirá-la de lá.
No entanto, estou a cada dia correndo atrás deste esperado momento, deste dia que minha mãe pedirá suas contas por definitivo e virá correndo com a bicharada pra onde eu estou sem nunca mais precisar lavar colherzinha de mais ninguém e não cuidar da casa de ninguém fora a dela.
E Jéssicas do Brasil, não baixemos nossas cabeças, pois afinal, não somos superiores, mas também não somos inferiores a ninguém.
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