Uma coisa que eu não vi na transmissão do Oscar foi que havia um bando de malucos “recepcionando” os astros no tapete vermelho com placas de “God Hates Fags” (“Deus Odeia Bichas”)
e “Heath in Hell” (“Heath no Inferno”). Eram de uma igreja que já havia visitado o funeral do Heath Ledger com as mesmas palavras intolerantes. Essa seita, que busca os holofotes acima de tudo, acha que a América está acabada por ser muito permissiva nas morais e nos bons costumes, e que todos os gays serão castigados com o fogo eterno. Eu sou atéia, mas fico só pensando: qual Deus eu gostaria de ter? Um que ama os gays, ou um que ama pessoas que odeiam gays? No contest. Eu seria incapaz de crer num deus raivoso e homofóbico como o dessa igreja. 
religioso protestar contra um ator que faz um gay, mas não um serial killer. É mais ou menos como o dublador oficial do Sean Penn no Brasil (também pastor evangélico) se recusar a dar voz ao Harvey Milk, porque Milk era gay, e o pastor é espada. Tá, não é a mesma coisa. Suponho que o dublador não esteja fazendo uma cruzada anti-homossexualismo. Ele só recusou um papel, e tem o direito. Aliás, nunca entendi esse negócio de “dublador oficial”. Eu sei que aquela voz em português não é do Sean Penn, então não me importo muito se o dublador varia. Mas enfim, o pastor que é também dublador é também um homofóbico. Não há dúvida. E é um burraldo, assim como as pessoas da sua seita que creem que gays
arderão no inferno. Mas não sei até que ponto são pessoas públicas, que merecem atenção.
gay, mas pra um gay interpretar um personagem hétero, fica difícil. “Hã? Como assim?”, eu quis saber. “Ah, porque um ator gay não conseguiria esconder seu jeitinho”, respondeu ela.
emplo, o Anthony Hopkins já interpretou um canibal em Silêncio dos Inocentes, Hannibal, Dragão Vermelho e, em menor escala, Titus (algum dia eu falo desse filme que gosto pacas), mas desconfio que ele não seja um canibal de verdade, ou a Rainha não teria lhe dado o título de Sir. E o Javier Bardem, então? Quando ele fala inglês na vida real, ele tem um sotaque até forte. Mas, em Onde os Fracos Não Têm Vez, ele declamou suas falas sem sotaque algum. Logo, se um bom ator consegue até mudar a voz e esconder o sotaque, será capaz de disfarçar seus tre
jeitos, se ele for gay. E se tiver trejeitos, pra começar.
eria sido visto? Convenhamos: quantos atores assumidamente gays existem? Quando eu morava nos EUA, recebia (de graça!) a bíblia da comunidade gay, The Advocate (da qual Milk fala mal). E sempre havia um artigo exigindo pra que alguma celebridade saísse do armário. A Jodie Foster e o Ian McKellen são abertamente homossexuais, mas levaram quantas décadas pra se assumirem? E quem pode culpá-los? Se eu fosse atriz, e se eu fosse lésbica, não sei se eu falaria pra todo mundo. Primeiro porque é o pesadelo de todo ator ser typecast (relegado a um só papel pro resto da vida). Segundo porque minha orientação sexual pode ser algo pessoal meu. Tipo, eu sou hétero, mas essa é apenas uma entre dezenas de características minhas (também sou mulher, s
ou casada, sou de esquerda, sou feminista, sou cinéfila, sou gorda, etc etc). Mas, numa sociedade homofóbica como a nossa, se alguém diz que é gay, essa passa a ser sua única característica. Ao mesmo tempo, eu concordo com o Harvey Milk (e muitos outros ativistas gays): se os gays não saírem do armário, as pessoas ora continuarão pensando que eles não existem, ou achando que os poucos assumidos são todos uns pervertidos. Se os pais souberem que seu filho é gay, irão aceitá-lo - se forem bons pais. Se um homofóbico tiver um amigo gay, deixará de ser homofóbico, imagino, porque verá que não há nada de aberrante num gay. O preconceito c
aminha junto com a ignorância, eu acho. Ou não. Não sempre. Há pessoas que sabem que gays são gente como a gente, e optam por discriminá-los mesmo assim. Bom, pra essa gente existe a igreja com plaquinhas de “Heath in Hell”. Pras outras existe um mundo bonito e colorido de amor ao próximo. Eu fico com a segunda opção.