Adoro eleições. Adoro votar. E não dá pra acreditar que durante 28 anos nos privaram desse prazer, desse direito, inclusive desse dever nosso como cidadãos. Torço para que isso não volte nunca mais,
mas nossa democracia é jovem e frágil ainda, e o maior sinal da sua fragilidade é que em todas as eleições presidenciais, desde 1989, a gente ouve como a democracia está sendo ameaçada. É sempre o mesmo discurso do medo: se tal e tal ganhar, os militares não vão deixá-lo assumir. Se tal e tal ganhar, haverá um novo golpe. Se tal e tal ganhar, vai implantar uma ditadura. Essa conversa furada de que nossa democracia corre perigo constante não faz nada bem pra nossa democracia. Ou você a
cha que nos países ricos os eleitores ficam falando de golpe e ditadura a cada cinco frases? Na língua inglesa nem tem palavra pra golpe. Tiveram que pegar emprestada uma expressão em francês, coup d'état. Golpe de estado, pra americano, só o que eles patrocinam nos países alheios. Como o nosso, em 1964.
gou, futuro que está acontecendo agora. Nunca pensei que seria possível, mas ainda na minha vida verei o Brasil ser uma das principais economias do mundo e ter um lugar de destaque no planeta. A maior parte dos brasileiros compartilha este cenário, que não é nem mais otimista, é realista. Depois de quinhentos anos o Brasil começou, e agora não para mais. E só não fica feliz com isso uma elite que reclama que tá cada vez mais difícil fazer turismo, porque agora tem gente demais viajando, ou que fica revoltada por não ser mais tão fácil arranjar empregada doméstica. Bem-vindos à realidade! O Brasil tem, pela primeira
vez em sua história, mais da metade da população na classe média. Não somos mais só eu e minha dúzia de amigos. Agora temos um batalhão, e essa multidão de gente quer, estranhamente, o mesmo que eu sempre quis, que eu sempre achei que era apenas direito meu, por mérito, claro, não por privilégio herdado: ter um bom emprego, fazer faculdade, viajar. Agora há cada vez mais gente fazendo isso, e quero ver alguém dizer, na minha cara, que isso é ruim. Nenhum país do futuro pode se dar ao luxo de manter um abismo de desigualdade social.
rança, sem medo, amando meu país, certa do seu caminho, sem esse discursinho de que se tal e tal ganhar eu me mudo pra Miami. Porque, gente, bad news: em Miami também é difícil pacas conseguir empregada doméstica. Lá elas insistem em receber salário decente pra trabalhar, onde é que já se viu? Na verdade, hoje farei mais que votar ― serei mesária. E espero passar o dia inteiro vendo meu povo votar feliz. O tempo em que empregada votava no que era melhor pro patrão acabou. Não volta mais. Agora empregada vota no pro
jeto que é melhor pra ela. Um projeto que possibilite, um dia, que ela venha deixar de ser empregada.