Ih! Ter filhos deixa as pessoas mais infelizes, jura uma excelente reportagem de seis páginas da revista Ne
w York (cheguei lá através de um post do Alex). Eu não iria ler o artigo inteiro por absoluta falta de tempo, mas ele me fisgou. Algumas partes são muito divertidas, como esta no início, que cita um estudo menos negativo de um cientista que diz: “A mensagem geral não é que crianças fazem você menos feliz; é só que crianças não fazem você mais feliz. Quer dizer, a menos que você tenha mais de um filho”. Mas como assim, todos os estudos apontam que casais sem filhos são mais felizes que casais com filhos? Mentiram pra mim a vida toda?! Toda vez que olharam pra mim e fizeram um “tsc tsc, tadinha”, estavam falando besteira? (Pergunta retórica. Eu sei que eles estavam falando besteira. Não preciso de pesquisas pra comprovar).
ente, porque o senso comum prega exatamente o oposto. Se eu ganhasse um real pra cada vez que ouvi ou li, ou me disseram na cara mesmo, que eu era uma mulher incompleta por não ter filhos, que eu só poderia ser infeliz, que é terrível não deixar meu legado pra humanidade, que o meu casamento não iria durar, eu estaria rica agora. E não creio que convém à mídia espalhar que pessoas sem filhos são mais felizes ― afinal, pessoas com filhos gastam mais. Muito mais.
consomem uma enormidade, como não servem pra gerar renda. O artigo cita um estudioso que diz: “Crianças são economicamente inúteis, mas emocionalmente inestimáveis”. E parte para um interessante apanhado do passado recente. Até pouco tempo, vivíamos em zonas rurais, não urbanas. E, pra quem morava no campo, ter filhos era essencial para ajudar a cuidar da fazenda. Para quem tinha um negócio de família, crianças serviam pra cuidar da loja. Mas, com o tempo, isso mudou, e hoje não é aceitável associar infâ
ncia com trabalho (não estou reclamando. Concordo 100% que criança não deve trabalhar). Mais uma mudança: até poucas décadas atrás, os casais apenas tinham filhos, sem pensar tanto no assunto. Hoje pensam. E esperam pra ter filhos, principalmente os casais com mais dinheiro. Uma psicóloga explica que era diferente sair da casa dos seus pais para a vida de casado e com filhos, o que era quase imediato. Se o casal espera, quando tem filhos, ele sabe o que está perdendo. Para um psicólogo, “Filhos são uma grande fonte de felicidade. O problema é que eles transformam todas as outras fontes de felicidade numa porcaria” (não preciso de pesquisas pra saber que casais com filhos pequenos fazem menos sexo. E cinema acaba, né? A menos que seja pra ver filme infantil).
os os americanos (e os brasileiros de classe média, imagino, são bem parecidos), criam expectativas altas demais para o ato de criar filhos. E se culpam por não passarem mais tempo com seus rebentos (incluindo mulheres que trabalham fora; ah sim, todos os estudos mostram que mães são menos felizes que pais), apesar de passarem mais tempo com eles que os pais passavem em 1975. Jennifer Senior, a autora do artigo, resume o sentimento de criar filhos numa frase: “tanta felicidade e nenhuma diversão”.
s com bem-estar social maior e um histórico de governos que priorizam o social, pais com filhos são mais felizes. Por exemplo, na Dinamarca. Lá a licença-maternidade é de um ano, e homens também recebem licença-partenidade. Há creches à disposição e um ótimo sistema público de saúde e educação. Uma escritora americana reconhece: “Nós gastamos toda a nossa energia em ser pais perfeitos, ao invés de exigir mudanças políticas que façam a nossa vida em família melhor”. E aí, você acha que nós estamos mais próximos do modelo dinamarquês ou americano?
ora, quer saber o grupo mais deprimido de todos? Pais solteiros! Dá pra acreditar? A especulação é que eles querem ter mais envolvimento na vida dos filhos e não podem.
ork Magazine é prazeroso e instrutivo até a quarta página, por aí. Depois começa a relativizar e querer agradar os casais com filhos, entrando na dureza que é definir felicidade. Eu sou uma pessoa feliz, e já deixei claro que não tenho filhos nem nunca quis ter. Mas desconfio que eu também seria feliz se tivesse filhos (quer dizer, filhos? No plural?! Um já estaria mais do que bom!). Seria provavelmente divorciada, porque só de ver como o maridão cuida dos gatinhos (“Amor, eu tô ocupada aqui, dá pra você brincar com o Calvin?”. E ele: “Já vai!”, e não vai), pode-se notar que ele não é daddy material e eu ficaria estressada por ter que mandar no filho e no marido. Talvez eu seja uma pessoa inclinada à felicidade porque não sou muito ambiciosa, nem espero tanto da vida. Ou talvez eu faça questão de ser feliz por acreditar que esta vida é a única que terei, então pra quê desperdiçá-la sendo infeliz?