

Até agora, e o leilão prossegue até meados de outubro, o maior lance para Catarina é de 155 mil dólares; para Alex, mil. O produtor garante que os jovens ficarão com todo o dinheiro.
Mas quem quer saber de Alex? Só se fala em Catarina, talvez por ela ser brasileira, certamente por ser mulher, e pelo valor que sua virgindade vem alcançando. O que vejo nos comentários das notícias é gente condenando a moça, dizendo que este mundo está perdido, ou fazendo a avaliação física dela (“eu não dava nem cinquenta reais”). Ela diz que está bem, que não se considera uma prostituta, que quer usar parte do dinheiro para um projeto de casas populares, e que depois estudará medicina na Argentina.
Bom, o que dizer dessa história toda? Primeiro, o óbvio ululante: o corpo é dela, e ela tem o direito de fazer o que quiser com ele. É prostituição, porque é trocar sexo por dinheiro, mas concordo com o que ela diz numa entrevista -- que isso não faz dela uma prostituta: “Quando alguém faz uma coisa uma vez na vida, não é considerado dessa profissão. Se você tira uma foto e sai legal, não é fotógrafo por isso”. Ela vai se prostituir uma vez, e espero, pela estigmatização que a profissão tem, que não seja vista como prostituta pro resto da vida. A hipocrisia é que muita gente que condena a prostituição é também freguês dela.
Eu, pessoalmente, não gosto de prostituição. É um trabalho em que mulheres, na sua imensa maioria, alugam seus corpos para homens. E isso não acontece porque homens gostam de sexo e mulheres não (essa mentira absurda que tanta gente adora repetir). Acontece porque quem ainda detém a maior parte do capital no mundo são homens. Acho que, numa sociedade que não fosse patriarcal, a prostituição não existiria, ou seria muito restrita. Mas sou a favor da legalização da prostituição, e nunca condenaria ou discriminaria uma prostituta. Elas devem ter direitos assegurados como qualquer outrx profissional.
Mas estamos falando de leiloar a primeira vez. Espero que o destaque que este caso vem recebendo não incentive outrxs jovens a se prostituírem. Até porque se alguém pensa que vai ganhar 150 mil dólares por uma noite, pode esquecer. A imensa maioria das prostitutas não é top de luxo.
Bom, sabe o que tudo isso me lembra? Um filme de quase vinte anos atrás, Proposta Indecente, que a maior parte de vocês nem deve ter ouvido falar porque não estava viva na época. Demi Moore e Woody Harrelson formam um casal apaixonado, mas com dificuldades financeiras. Eles vão pra Las Vegas e lá conhecem o milionário Robert Redford, que oferece um milhão de dólares pro Woody se ele permitir que a Demi passe uma noite com ele (ela tem que consentir, claro). Todo mundo topa, e isso quase destrói o casamento. É uma lamúria só. 
A outra coisa que me lembro é que, devido ao sucesso do filme, fizeram uma pesquisa com mulheres em SP. A pergunta era: “Por um milhão de dólares, você faria sexo com o Robert Redford?” E a imensa maioria respondeu que não! Tá, pra ser franca, não lembro direito se a pergunta envolvia o Redford, que hoje tá meio velhinho, 76 anos já, mas em 1993... Acho que envolvia sim. Tipo, levanta a mão quem transaria com o Redford de graça! (Eu! Eu!). E levanta a mão quem pagaria um pouquinho pra transar com ele (aí eu me calo por questões éticas: sou pão dura).
Sinceramente? Acho que a maior parte das pessoas de qualquer sexo toparia rapidinho ganhar um milhão de dólares por uma noitada (e nem precisa ser com o Redford). Quase todo mundo sonha em ficar rico sem grande esforço, o que explica a arrecadação das loterias. Tem um montão de gente criticando a Catarina por leiloar sua virgindade. Essa mesma gente trocaria de lugar com ela num piscar de olhos.