Já falei antes mas, como amanhã é Dia Internacional da Mulher, vou falar de novo: sempre me considerei e me assumi feminista, desde que eu era criança. Tenho até provas! Com oito aninhos, recortei, color
i e colei no meu diário essa imagem, e falei do poder das mulheres (acho que pistoleira tem outra conotação hoje; clique para ampliar). Infelizmente na página ao lado eu falava de uma paquerinha que me esnobou e de amor infinito. Mas aos treze eu já ficava indignada que uma turma de meninos não me considerava uma adversária à altura numa guerra de areia na praia. E então o que eu fiz? Entrei na guerra e ganhei. Joguei muita areia neles. Sabe como é, eu já era areia demais pro caminhãozinho deles.
gente. Nunca tive vergonha, porque o meu significado pra feminismo era, e continua sendo, a luta por direitos iguais. E aí eu lembro de uma amiga minha que, durante seu doutorado, foi participar de uma palestra sobre D. H. Lawrence (autor inglês consagrado por O Amante de Lady Chatterley) nos Estados Unidos. Ela e outras cinco acadêmicas de diferentes lugares haviam sido chamadas pra falar sobre Lawrence, e a conferência havia divulgado que elas eram feministas. Então, uma a uma, quando chegou a vez, abria sua participação dizendo “Antes de mais nada, eu queria dizer que não sou feminista”. Isso tem uns quatro ou cinco anos. E eu
discuti bastante com minha amiga por causa disso. Afinal, qual é o catzo de vergonha em ser feminista?
eluda, sem humor e inimiga dos homens — isso desde 1850, quando mulheres começaram a lutar pelo direito a voto (só alcançado nos EUA em 1920, e no Brasil, em 1932). Ou seja, esse pessoal que fala mal das feministas hoje não é nem um tiquinho original. Fala as mesmas besteiras faz 160 anos. A diferença é que, até o início da década de 1980, essa não era a imagem predominante. E aí a propaganda foi tão forte, e tão eficiente, que o que ficou, pra muita gente, é essa ideia estereotipada e ridícula da feminista bigoduda e sem-homem. O caso que contei da minha amiga na conferência de D. H. Lawrence seria impensável no início dos 80. Naquela época pré-backlash, duvido que alguma mulher se insultasse em ser confundida com uma feminista.
nta: a quem interessa passar uma imagem tão negativa de gente que luta por direitos iguais? Por que essa vergonha toda em se assumir feminista, se a maior parte das mulheres, e creio que dos homens também, é a favor que mulheres possam trabalhar fora, ganhar o mesmo salário, decidir se querem casar e com quem casar, e compartilhar a criação dos fihos com o parceiro? (entre otras cositas que constituem direitos iguais).
faz dele. Por exemplo: digamos que eu tenha um vizinho que me odeia. Ele vive falando mal de mim. Vive inventando mentiras sobre a minha pessoinha. Aí vem alguém que quer me conhecer e pergunta: “Oi, você é a Lola?”. E eu respondo: “Não, não sou a Lola, porque a Lola que eu era é aquela que o vizinho que me detesta diz que eu era . Pois é, eu, ex-Lola, sou exatamente como meu inimigo me define! Não sou a Lola, porque obviamente o vizinho que mente a meu respeito tem toda razão. Então não sou a Lola, ok? Por favor, não me chame de Lola! Prazer, meu nome é Shirley”.
as mulheres: vocês podem ser mães ou objetos sexuais, vocês decidem. Vocês são completamente livres pra escolher entre essas duas opções!
1o quadrinho: “Bom, eu não sou feminista nem nada, mas a gente merece oportunidades iguais de trabalho”. 2o: “Acho que as mulheres precisam de licença-maternidade e creches decentes, mas não pense que sou uma dessas feministas lunáticas”. 3o: “Não acho justo que mulheres recebam 70 centavos para cada dólar que um homem ganha, mas não é que eu seja feminista”. 4o: “A gente pode ter um longo caminho pra percorrer ainda, mas acho que o feminismo está bastante datado, não?”. Uma mão patriarcal lhe dá um tapinha de parabéns e diz: “Boa menina”.