Ninguém deixa de ser feminista, a meu ver, por fazer as unhas, frequentar salão, casar virgem, ficar em casa cuidando dos filhos. Mas ninguém é feminista só por fazer qualquer uma dessas coisas. Não dá pra chegar anunciando “Olhem só pras unhas lindas que consegui após passar cinc
o horas no cabeleireiro! Yay! Sou feminista!”. Mas só chegar e falar (como eu falo) “Nunca pintei as unhas! Odeio cabeleireiro! Sou feminista!” também não é suficiente. Claro, é um discurso que receberá menos olhares de “WTF? O que ela andou fumando?” que a moça das unhas pintadas que acha que, por isso, é feminista. Mas eu posso não fazer as unhas e ao mesmo tempo achar que mulher é inferior ao homem –- o que definitivamente não é um argumento feminista por qualquer ângulo que se analise.
ista pra ser feminista. Eu me considero feminista desde os oito anos de idade, e só devo ter tido meus primeiros contatos com teoria feminista aos trinta e poucos (ou mais). E aí, eu não era feminista antes? Quem disse? Tem uma banca que vai me testar e ver se sou aprovada como feminista? Passa a bibliografia, por favor. E qual teoria devo ler? Porque há correntes do feminismo que não gostam nem um pouco de outras correntes. Então, vai ter teste? É de múltipla escolha?
s “esclarecidas”. Sei que, como acadêmica, eu deveria ser mais corporativista e defender uma seleção que privilegie a teoria. Mas não sou dessas.
disse. Vou encarar? Eu poderia dizer que feminismo é um movimento revolucionário, e como tal não combina com conservadorismo ou com a direita. Posso citar bell hooks, que diz, com muita propriedade, que feminismo não é uma luta pela igualdade (afinal, nós mulheres queremos ser iguais aos homens de que classe social?), e sim uma luta contra a opressão. E nessa definição não entra gente que apoia e justifica a opressão, que é o caso da direita. Só que eu, pessoalmente, não tenho a menor vontade de ser leão de chácara na porta de um clube privê, decidindo quem pode ou não pode entrar no feminismo.
encer a um clubinho. Eu vibro com uma pesquisa como a da Perseu Abramo/Sesc, que apontou que 31% das mulheres brasileiras se declaram feministas (o levantamento excluiu quem não sabia o que era feminista, quem confundiu a pergunta com “você é feminina?”). Fui colocar essa minha celebração com a pesquisa no blog um dia desses, e veio um mascu dizer: “31% das brasileiras se assumem feministas? SÓ? Tá vendo, o feminismo é um fracasso mesmo!”. Pois é, mané, quantos homens brasileiros se assumem masculinistas? (existe algum mascu que se assume mascu?). 31% é um nú
mero enorme. Com todo o senso comum propositalmente preconceituoso clamando que feministas são ogras bigodudas peludas e mal amadas que detestam homens, é espantoso que um terço das brasileiras tenha a coragem de afirmar que é feminista (a Carla Rodrigues tem um ótimo post sobre o assunto).
que faz o que a sociedade espera dela?
o feminismo!”? Pô, pelamor! Quem depõe contra o feminismo? As feministas, ou a sociedade machista em que vivemos? Quem usa todas as armas possíveis para jurar que o feminismo até que foi importante um dia, mas assim que as mulheres passaram a ter direito a voto, pra quê, né? Quem é que pinta as feministas como gente que quer exterminar os homens? (O Feminist Frequency outro dia apresentou um vídeo de como as feministas são representadas em filmes e séries. E é só pensar: qual a única feminista que os misóginos conhecem? A Valerie Solanas do Scum Manifesto, que nunca foi ninguém na night. Qual a feminista mais famosa que os leigos conhecem? A Camille Paglia! Por que será que ela tem tanto espaço na mídia? Porque ela fala mal de todas as feministas. O pessoal adora repetir: “Feminista é feia e mal amada mesmo. Até as feministas –
leia-se: Camille -- concordam!”). Então de um lado a gente tem o ódio ao feminismo (e a todos os tipos de ativismo) sendo martelado nas nossas cabeças 365 dias por ano, veiculado na mídia de massa, e do outro lado meia dúzia de feministas que estão fora da mídia tradicional. E quem a gente culpa por fazer com que pessoas que não sabem absolutamente nada sobre feminismo e não têm o menor interesse em aprender detestem o feminismo? As feministas, ué. Óbvio.
ser tão críticas com nós mesmas e com outras mulheres e, mais especificamente, com outras feministas. E não precisamos competir. Precisamos cooperar. A união faz... coisas doces).