Na mesma semana em que os tribunais ingleses absolveram todos os policiais envolvidos no caso Jean Charles, a imprensa e a polícia suíças já transformaram a vítima (a brasileira grávida torturada por três neonazistas em Zurique) em ré. Andam dizendo que ela não estava grávida, que ela se autoflagelou, q
ue as letras gravadas no seu corpo estão certinhas demais, que a estação de trem estava cheia, e seria impossível alguém ser atacado sem ser visto, e que nem havia neonazistas na redondeza. Sim, vão negar que os skinheads existam (ainda que 6 mil deles irão se reunir em Dresden, Alemanha, no mês que vem). Agora a notícia tomou um rumo realmente machista, impossível de acontecer se a vítima fosse do sexo masculino. Toda a hipótese de automutilação só existe porque a brasileira é mulher e, ainda por cima, estava grávida. Nós mulheres somos bichos histéricos, emotivos, capazes de mentir o tempo todo, e quando estamos com TPM, então, nem se fala. Mentimos que somos estupradas, fazemos abortos (um comentário no Globo diz: "Eu acho que ela queria na verdade era esconder o cr
ime do aborto e inventou essa palhaçada toda"), provocamos nossos parceiros para sermos espancadas, quando não simulamos nós mesmas a pancadaria nos nossos rostos e corpos. Todo mal que é feito contra nós é feito por nós mesmas. Somos as algozes do mundo. Ainda falta explicar como quem mata em guerras, comete pedofilia e vira serial killer são os homens, e como tão poucas neonazistas que saem por aí espancando pessoas são mulheres. Mas também, skinheads são lenda urbana, uma invenção. Todas as vítimas fatais de skinheads na Europa no fundo cometeram suicídio. Pra chamar a atenção.
ma europeia ou americana grávida tivesse sido agredida no Rio, e a polícia e imprensa brasileiras não só não investigassem o caso, como ainda dissessem que a vítima inventou tudo. Não seria um incidente internacional? Mas a nossa autoestima como país é tão baixa que imediatamente houve gente que reclamou que o Lula pediu pra polícia suíça investigar e surgiram comentários de brasileiros como este (no Estadão): “O povo do Brasil não vale nada, não tem caráter, não tem honra, não tem valores, nem princípios. Está
claro que a fulana queria atenção, ganhar seus 15 minutos de fama e encher o saco de todos com uma questão dessas. E nossa imagem é como rabo de mula, só vai pra baixo... Ê povinho bunda”.