
DIÁLOGOS MUSICAIS
Enquanto jogávamos dominó, eu e o maridão ouvíamos um cd que ele havia gravado da Internet. Tocou algo chamado "Diz que fui por aí" e, como meu conhecimento musical se limita a Chico Buarque e Beatles, perguntei ao maridão:
– De quem é isso daí?
– É do
Zé Ketti, mas quem tá cantando é o Luiz Melodia.
– Sei. Ahn, cê me perdoa, mas esse Zé Ketti é meio obscuro, né não?
– Obscuro?! Ele é o criador de "Máscara Negra"! Obscuro! Só porque ele é negro? Racista!
– Ele é negro? Pensei que fosse gaúcho.
– Gaúcho?! Você conhece algum gaúcho chamado Zé?!
– Ué, um monte. Pensei que ele fosse parceiro do Kleiton e Kleidir.
– Isso é ridículo! Ó, por favor, não repete isso em público.
– Amor, olha, sei que você gosta dele, mas hoje esse nome soa tão conhecido como um que vi ontem na TV, Kelly Key alguma coisa. Zé Ketti, Kelly Key, dá na mesma.
– Kelly quem?
– Até gostaria de usar este nosso diálogo numa crônica, mas ninguém ia entender. Não conheço mais ninguém que conhece Zé Ketti, fora você e esse Zé Melodia.
– Zé Melodia?! Quem é, outro gaúcho? É Luiz Melodia!
Felizmente, o cd passou a tocar outra canção e pudemos mudar de assunto. Desta vez era algo menos famoso do Gonzaguinha, o que me levou a dizer:
– Eu gosto é de "Explode Coração". Já devo ter te dito isso, mas não adianta, você não grava pra mim.
– É que você não pegava micro-ônibus na época. Nunca vi música mais tocada! Não agüentava mais. Naqueles tempos eu comecei a odiar a Maria Bethânia e a entender os homens-bomba dentro dos ônibus.
tava "Clara Crocodilo". Tem uma hora nessa música muito estranha e representativa do underground paulistano em que o pessoal fala "Ajuda a Clara, seu canalha", seguido de "Olha o holofote no olho / Você não passa de um repolho". Eu e o maridão nos encaramos ao mesmo tempo e exclamamos: "Repolho é legal!". Viu que sintonia? Agora ele só me chama de meu repolhinho.