Vamos à outra pergunta de uma leitora:
mada em Letras (me formei em Relações Internacionais) mas dou aula de inglês, e minha vontade maior é estudar literatura inglesa. Desculpa pelo pedido super egoísta, mas como estou meio isolada de meus colegas, gostaria muito de escutar a história de alguém que também quis seguir por esse caminho. Obrigada por esse blog, que é sempre ótimo! Beijão! Amanda
em inglês e não fazer nada com isso. Mas imediatamente notei que ensinar inglês não pode ser um bico, e decidi investir. Fui a congressos, como o Braz-Tesol, tirei certificados (como o Proficiency, vulgo CPE, da Cambridge, e também o Toefl), e fiz uma especialização em Língua Inglesa. Eu era a única aluna sem graduação (porque havia abandonado a minha em Propaganda na metade, muitos anos antes. Aliás, gente, fica a dica: por pior que seja a sua graduação, acabe. Ou mude de área, aproveite os créditos, mas se forme. Você pode precisar do canudo mais tarde). E fui enganada. Me falaram que, depois que eu me formass
e, poderia validar a especialização. Não é verdade. Isso tem um prazo: até um ano depois de terminar a pós, pelo que me lembro. Então minha especialização não melhorou meu currículo, embora tenha sido ótima pra conhecer pessoas muito legais. E durante o curso conheci também quatro professores da UFSC, entre eles meu orientador do doutorado. Ele explicou pra turma como funcionava o mestrado na UFSC. Disse que havia duas áreas, Literatura e Linguística, que havia bolsas para quem se saísse melhor na seleção (geralmente são oito bolsas por ano), e que o aluno não-bolsista tinha a vantagem de dar aulas de inglês nos cursos extra-curriculares da universidade. Fiquei muito entusiasmada com aquilo tudo. Afinal, eu sempre amei literatura. Fazer um mestrado em algo que eu gostasse, estudar pu
ramente por prazer, me parecia um sonho. Mas, claro, eu não era graduada. Portanto, tratei de conseguir um diploma. Na ocasião, eu trabalhava como coordenadora acadêmica e professora de uma escola de idiomas, e gostava. Mas era puxado: todo dia das 14 às 22 horas. Isso significava que meu curso de gradução só podia ser pela manhã. Bem poucas opções, já que quase todos os cursos aconteciam de noite. Optei por Pedagogia (abriu um curso de Letras de manhã um semestre depois, mas eu não estava interessada. Tudo que eu queria era um canudo para poder fazer o mestrado). Não fui uma aluna brilhante de jeito nenhum. Me formei em julho de 2002. Em outubro já tinha que mandar pré-projeto e montes de documentos pra seleção do mestrado. E foi o que fiz. Pedi as duas cartas de recomendação praqueles que tinham sido meus professores na especialização. Estudei um pouquinho pras provas. Em dezembro elas acontecera
s novo, sem problemas. Mas quem tem mais de 35 anos costuma receber um salário maiorzinho que a bolsa. O bolso sofre). Além do mais, eu não sabia o que queria fazer exatamente. Não tenho nenhuma reclamação contra a minha orientadora no mestrado, pelo contrário. Mas aquele meu professor da especialização havia me convidado pra ser sua orientanda no doutorado. Eu sabia que a área dele é teatro, só não pensei que tivesse que ser Shakespeare. Apesar de eu amar o bardo, pensava que não conseguiria escrever uma dissertação sobre ele. Porque uma coisa é lê-lo e assistir peças e filmes baseadas nas suas obras. Outra é estudá-lo, pesquisá-lo. Porém, como a linha do meu orientador é Shakespeare in Performance, trabalha-se muito mais com as produções escolhidas que com o texto em si (que também está longe de ser indecifrável). Naquele hiato de um semestre entre o término do mestrado e o início do doutorado, voltei a dar aulas de inglês. E aí, na seleção do doutorado, fiquei em segundo lugar e ganhei uma bolsa do CNPq. É um privilégio enorme ser paga pra estudar.
o mundo que tenha um bom domínio do inglês a cursar o programa de Pós-Graduação em Inglês (PGI) da UFSC. É um dos melhores do país, sem dúvida alguma. É referência. E, que eu saiba, é o único em que é tudo em inglês (aulas, trabalhos, teses etc). E você fica morando em Floripa por um tempo, o que não é um sacrifício gigante, né? O único porém é esse da graduação. Antes não existia esse troço de que, pra prestar concurso, tinha que ter a mesma graduação da área do doutorado. Hoje este é um grande empecilho. Pelo que eu noto, é possível fazer mestrado numa área diversa. Mas talvez seja melhor mesmo ter, por exemplo, graduação em Letras, mestrado em alguma outra coisa, e doutorado em Letras (fazer doutorado logo após a graduação é pruma parcela mínima). Ou graduação e doutorado em Relações Internacionais, como é o seu caso. Depende muito do que você pretende fazer depois de virar doutora. É pra satisfação pessoal? Ou é pra tentar dar aula numa universidade? É muito difícil ser contratada por uma particular. Elas n
ão contratam, porque podem chamar um mestre e economizar. As poucas que contratam pagam mal. E raramente sobra tempo pra pesquisa. Em outras palavras, doutor que deseja seguir a vida acadêmica tem que fazer concursos e entrar numa federal. Pra gente que é professora de inglês, é a única chance de ganhar salário de rico (R$ 6.700 bruto). E de compartilhar tudo que aprendemos no mestrado e doutorado. Porque, sinceramente, pra dar aula de inglês em curso de idiomas não precisa nem de gradução. Mas às vezes sinto falta da tranquilidade que tinha. Eu era feliz e não sabia? Pior é que eu sabia! (claro que agora que passei no concurso serei ainda mais feliz).