Recebi um email dos republicanos pedindo doações pra campanha do John McCain pra derrotar o democrata Barack Obama. Começa assim: “Você acha que a redistribuição de renda pelo governo federal é uma das maiores tradições americanas? E creches grátis? Sistema de saúde gratuito? Universidade gratuita? Seguro-desemprego? Estatizar refinarias de petróleo? Uma taxa global paga às Nações Unidas?”. E eu pensando: Uau! É muita cara de pau o McCain prometer que vai fazer tudo isso. Afinal, o partido republicano sempre foi a favor do estado mínimo. Mudou de idéia? E óbvio que ninguém em sã consciência vai ser contra essas coisas (saúde universal, distribuição de renda etc). Só que o email segue: “Se nenhuma dessas características soa como as maiores tradições da América, é porque elas não são. Mas para Obama e os democratas, esse é exatamente o tipo de programa de governo-babá que você pode esperar se eles tomarem o controle do nosso governo”. E continuam, afirmando que podemos
derrotar essas medidas esquerdistas se contribuirmos com a campanha republicana. Pô, a direita deles é algo estranho, não? Aqui no Brasil, mesmo partidos conservadores como o DEM e o PSDB, que gostariam de privatizar tudo, não teriam coragem de defender o fim das creches e universidades públicas. Ainda que fizessem isso depois de eleitos, uma agenda dessas jamais faria parte da campanha. E nos EUA, ser contra o seguro-desemprego e a distribuição de renda é motivo de orgulho! Os sistemas de proteção social que funcionam tão bem na Europa são considerados coisa de babá. E por quê? Ah, porque “essas reformas de esquerda do Obama seriam devastadoras para os americanos que trabalham duro”, diz o email. E ninguém liga que não oferecer saúde universal deixe 50 milhões de americanos (todos vagais, suponho) sem qualquer acesso a um tratamento. Isso não é devastador (também é estranho o que é visto como esquerda nos EUA. E
stava eu lendo os comentários de um blog americano qualquer quando vi que aquele blog, que pra mim é moderadíssimo nas suas posições políticas, é considerado ultra-esquerda. Eu não fui a única observadora atônita. Um leitor europeu escreveu: "Nunca vou deixar de me espantar com o que vocês americanos consideram esquerda-radical"). Agora é oficial: declaro que minhas últimas esperanças de que primeiro mundo exista de verdade residem na Escandinávia. Porque a América só é primeiro mundo pro capital. Não pra sua população.