Pouca gente votou na pesquisa sobre o melhor momento do Charlton Heston no cinema. Tudo bem, é compreensível. Há muitas pessoas jovens que nunca ouviram falar de vários filmes mais antigos, e quase todos da enquete foram feitos há mais de meio século. Portanto, não me surpreendeu que o vencedor fosse Tiros em Columbine, com 10, ou 37%, do total de 27 votos. O detetive mexicano que Charlton faz em A Marca da Maldade ficou em segundo, com 22%, seguido por Ben-Hur e Planeta dos Macacos, ambos empatados em 14%. Bom, preciso admitir que o tratamento que o Michael Moore dá ao Charlton em Tiros é uma das cenas que menos me atraem no excelente documentário de 2001. Acho desrespeitoso maltratar um velhinho caquético que já estava com Alzheimer. Pra eu ficar com
pena de um fascistóide como o Charlton, é porque o Michael pegou pesado. Agora, pra quem não conhece a maior parte desses filmes, se você tiver que ver apenas um, que seja A Marca da Maldade. Não tanto pelo Charlton, que está bem (em Ed Wood há uma piadinha a respeito: o pior diretor de todos os tempos encontra o melhor, Orson Welles, que reclama de ter que contratar o Charlton pra fazer um mexicano por imposição do estúdio), mas porque Marca é um dos grandes filmes da história do cinema. Já escrevi sobre ele aqui, logo não vou me repetir. Só fico chateada que hoje só dê pra encontrar a versão do diretor, que eu considero pior que a versão original, lançada pelo estúdio. Aquela incrível sequência inicial, sem
cortes, sem edição (aqui: um dos tracking shots mais longos e bem executados de todos os tempos) só tem a ganhar com a musiquinha do Mancini usada no original. Às vezes, quem diria, o estúdio faz a coisa certa (pra mim a narração displicente do Harrison Ford no Blade Runner original é outro exemplo. Dá mais clima noir!).
O Planeta dos Macacos de 1968 é muito, muito superior ao do Tim Burton. Veja os dois e compare. E o Charlton tá melhor que o Mark Wahlberg (o mesmo não pode ser dito sobre A Útima Esperança da Terra. Ainda que Eu sou a Lenda, com o Will Smith, não vá deixar saudades, é melhor que aquela bomba).
E sobre Ben-Hur, bem, a corrida de bigas é um dos momentos clássicos do cinema (veja aqui). Mas a verdade é que nunca vi o filme inteiro, e depois de ver o ótimo The Celluloid Closet, vai ficar mais difícil. Neste documentário único (aqui, e trailer em alemão aqui), que conta a história de como o homossexualismo foi retratado p
or Hollywood (quase nunca favoravelmente), Gore Viday, gay assumido e roteirista de Ben-Hur, narra como, por achar a história sem graça, decidiu incluir no épico um subtexto gay. Há uma grande conexão homoerótica entre o herói e seu melhor amigo. Mas Charlton Heston não podia saber! (não entendo muito bem porquê, se ele ainda era mais ou menos de esquerda na época). De qualquer jeito, Charlton – e o público – não devia ser muito esperto, porque o subtexto gay fala alto pacas.
Ah, e mais uma coisa: a Suzana fez um comentário sobre sua fixação por astros másculos como Burt Lancaster, Kirk Douglas e o próprio Charlton (ela é tão velhinha quanto eu), e chegamos à conclusão que a imagem que nos vem à mente desses três atores é sempre deles sem roupa. Eu nunca tinha reparado. Com os astros de hoje em dia, a imagem mental que tenho deles é com roupa (tirando, claro, ator de
novela das sete). E aí, mudei eu ou
mudou Hollywo
od?