Esta semana Michelle, mulher de Barack Obama, fez um discurso que seu marido, não muito imparcialmente, chamou de “o melhor em toda a campanha presidencial”. Foi bonito. Ela, com muita segur
ança, sem ler nem titubear, falou todas essas amenidades que os americanos precisam ouvir – que a América (toda vez que escrevo América recebo mensagens de gente dizendo que eles são EUA, América somos todos nós. Bom, eu escrevo “América” porque é uma droga falar de um só país no plural, e também porque não me importo que só eles sejam americanos – e não estadunidenses. Eu não sou, nem quero ser, americana. Sou latino-americana. Ou sul-americana, nos dias em que acordo sem sentir minhas conexões com nicaraguenses e costa-riquenhos. Achar que faço parte de uma mesma América, que inclui o grande império, não é pra mim. Não estou unida aos EUA de jeito nenhum) é a terra das oportunidades, que o céu é o limite pras suas ambições, que há uma grande diferença
entre a vida que levamos e a vida que queremos levar. Apesar de óbvio, foi um recado necessário, já que Michelle vem sendo atacada severamente pelos republicanos e demais direitistas desde que declarou, em fevereiro, que estava orgulhosa do país pela primeira vez em sua vida adulta (pela campanha do Obama estar deslanchando). Os americanos que penduram a bandeira na varanda e a usam na lapela chiaram: primeira vez?! Quer dizer que nos últimos trinta anos ela não se orgulhou da nação nem uma vez? Foi um escândalo. Ela virou anti-patriota e comunista da noite pro dia. Portant
o, no discurso desta semana, ela deixou claro que idolatra o país. Acima dele, só seu amor pelas duas filhas. E por Obama, que, segundo ela, continua sendo o mesmo homem que ela conheceu há 19 anos, ou há dez, quando ele levou Michelle e a filha recém-nascida do hospital para casa. Foi uma sacada inteligente mencionar Obama como “homem do povo”, que dirige seu carro, sem motorista, na mesma semana em que o candidato republicano, John McCain, se confundiu a respeito de quantas casas tem. Ok, isso de esquecer quantas casas tem é pior que não saber o preço da passagem de ônibus (que duvido que tire votos nos EUA).
Agora que falta pouco pras eleições (menos de dez semanas), Barack Obama, que sua mulher definiu como “aquele do nome estranho”, tem um vice-presidente: Joe Biden (pronuncia-se bai-dem). Não é a Hillary Clinton. E nem podia ser, porque ela representa o passado. Um passado bem avaliado de oito anos de seu marido como presidente, mas, ainda assim, um passado. Chuif. Quem sabe uma das filhas do Obama, daqui a trinta anos, consiga se candidatar a presidente?
A outra chance dos EUA terem uma mulher presidente é que McCain seja eleito e morra logo. Ontem ele escolheu sua vice, a governadora do Alasca Sarah Palin, pra tentar ganhar o apoio de quem ia votar na Hillary. Ou isso ou pra ganhar o voto dos esquimós mesmo. É, o cenário vem melhorando muito pro Obama.