“Financial Times”, um jornal vendido
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“Financial Times”, um jornal vendido


Por Altamiro Borges

O jornal britânico “Financial Times”, considerado a bíblia do capitalismo, acaba de ser vendido ao grupo japonês Nikkei, o maior conglomerado de mídia da Ásia. A Editora Pearson, responsável pela publicação, há muito tempo já dava sinais da decadência do diário econômico. A transação comercial, anunciada na quinta-feira (23), foi efetuada por £ 844 milhões (R$ 4,32 bilhões). O negócio também envolve o site "FT.com" e a revista “The Banker”, mas não inclui a luxuosa sede do Financial Times na beira do Tâmisa, em Londres, nem os 50% de ações que a editora tem no Economist Group, que edita a revista “The Economist”. O futuro dos jornalistas do diário ainda é uma incógnita.

Segundo relato da Folha, “a divulgação do acordo interrompeu os trabalhos na redação do jornal. Por volta das 16 horas (12h, horário de Brasília), pouco depois de o mercado ser informado do negócio, o editor-chefe, Lionel Barber, reuniu a equipe para comunicar a venda. ‘O FT é um ativo de nível mundial. Estou confiante de que vamos trabalhar juntos com nosso novo proprietário para garantir que assim permaneça’, afirmou. No cargo desde 2013, o presidente da Pearson, John Fallon, disse que o grupo decidiu vender o jornal, do qual era dono desde 1957, para priorizar o setor educacional, responsável por 90% da receita”. A queda constante dos lucros é a razão principal da transação.

O Financial Times é mais uma vítima da internet – e também da queda de credibilidade da imprensa tradicional. “Atingimos um ponto de inflexão na mídia, levado pelo crescimento explosivo do mobile e das redes sociais. Nesse novo ambiente, a melhor formar de assegurar o sucesso comercial e jornalístico do FT é ser parte de uma companhia digital global”, argumentou John Fallon. Lançado em 1888, o Financial Times possui uma equipe de cerca de 500 jornalistas. Já o grupo Nikkei, criado em 1876, tem 3.000 funcionários e é a maior corporação de mídia da Ásia. Edita um jornal que leva o mesmo nome, concentrado em economia e negócios, com tiragem diária de 3 milhões de exemplares.

O presidente-executivo do grupo Nikkei, Tsuneo Kita, garante que manterá a linha editorial “independente” do Financial Times. “Juntos, vamos lutar para contribuir para o desenvolvimento da economia global”, afirma. Nas três últimas décadas, o FT virou a bíblia do neoliberalismo, com suas teses regressivas e destrutivas do “Estado mínimo” e da precarização do trabalho. Como aparelho ideológico do capital, o jornal contribuiu para a atual tragédia da economia mundial, na mais prolongada e sistêmica crise do capitalismo. O diário também virou um instrumento venal do imperialismo no combate aos governos antineoliberais no planeta, principalmente da América Latina.

Nesta semana mesmo, quando já era vendido, o Financial Times publicou um duro editorial contra o governo Dilma, intitulado “Recessão e corrupção: a podridão no Brasil”, comparando o país “a um filme de terror sem fim”. A mídia colonizada nativa, com o seu complexo de vira-lata, repercutiu o artigo partidarizado, que chegou a afirmar que os problemas econômicos e políticos brasileiros seriam “suficientes para o impeachment” da presidenta. Na ocasião, o ministro Jaques Wagner, da Defesa, rebateu a ingerência indevida. “Esse jornal nunca olhou para o Brasil com bons olhos. A adjetivação deles eu prefiro que eles guardem com eles”, afirmou. De fato, o FT é um jornal vendido!

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