"Máfia das próteses" e cobertura doentia
Geral

"Máfia das próteses" e cobertura doentia


Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

O escandaloso caso de médicos que recebiam propina para recomendar próteses caríssimas e nem sempre necessárias, revelado em reportagens do programa Fantástico, da Rede Globo, ganha nova dimensão com um ou outro episódio que denuncia cirurgiões que realizam cirurgias cardíacas e vasculares utilizando materiais com validade vencida. No entanto, o leitor abre o jornal nos dias seguintes, procura e não acha qualquer referência a esses assuntos.

Curioso, o cidadão ou cidadã mais exigente vai aos arquivos e compara o noticiário sobre saúde desses dias com os acontecimentos de um ano atrás, quando a imprensa promoveu uma enxurrada de notícias negativas sobre o Programa Mais Médicos. Lançado em julho de 2013, por Medida Provisória, foi no início de 2014 que o plano sofreu o grande bombardeio por parte das entidades profissionais da medicina, inicialmente com o argumento de que os médicos formados no exterior não teriam qualificação adequada; depois, as críticas passaram a visar o valor pago aos profissionais trazidos de Cuba.

Em doze meses, o programa superou a meta estabelecida nos estudos que levaram à sua criação, reduzindo em mais de 20% o encaminhamento de pacientes a hospitais, com o atendimento básico ampliado em 35% nos postos de saúde. O resultado vem sendo omitido pela imprensa, num momento em que a medicina corporativa tem seus vícios escancarados no noticiário sobre pagamentos de propina, mau atendimento e ações de quadrilhas que visam os segurados dos planos privados e o Sistema Único de Saúde.

Segundo as reportagens da televisão, a máfia da medicina promove todo tipo de falcatrua para aumentar o rendimento de suas atividades, desde o uso de advogados para forçar o serviço público a pagar por tratamentos e materiais de necessidade duvidosa, até a falsificação de prontuários para aumentar o valor cobrado dos grupos privados de seguridade.

Na comparação entre os dois setores, o lado representado pelo Programa Mais Médicos tem um balanço positivo a oferecer, e a imprensa o ignora; o lado representado pela medicina privatizada mergulha em escândalos, e os jornais apenas fazem uma referência aqui e ali.

Uma pauta tendenciosa

Na edição de terça-feira (13/1), o Globo toca num ponto curioso, ao tentar demonstrar que o Programa Mais Médicos falhou no propósito de descentralizar a oferta de profissionais por meio da distribuição de vagas do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). A reportagem afirma que as universidades federais oferecem mais cursos de Medicina nas grandes cidades do Sul-Sudeste e do litoral, enquanto o interior do Brasil é atendido principalmente por faculdades particulares. No entanto, o mapa publicado pelo jornal mostra que houve um grande aumento de vagas no Nordeste, que oferece quase 80% a mais de postos do que as escolas federais do Sudeste.

O assunto apresenta muitas variáveis, como, por exemplo, as três maiores universidades públicas de São Paulo – USP, Unicamp e Unesp – terem vestibulares próprios e não participarem do Sisu, o que altera o quadro geral e exige uma abordagem diferenciada. Além disso, a reportagem deveria considerar outras questões importantes, como o fato de que essas instituições, principalmente a Faculdade de Medicina da USP, não terem como prioridade formar médicos clínicos, mas pesquisadores.

Há casos de médicos com doutorado que são incapazes de fazer um diagnóstico corriqueiro nos postos de saúde. Essa distorção, tema de polêmica nos conselhos universitários, tende a ser corrigida no longo prazo pela determinação de que, desde o dia 1º deste mês de janeiro, os alunos que ingressam na graduação deverão atuar por dois anos em unidades básicas de saúde e nos postos de emergência e urgência do SUS. O propósito dessa medida é estimular a formação de médicos com mais sensibilidade para os aspectos sociais de sua profissão.

Somada à ampliação de vagas – mais 11,5 mil alunos de graduação até 2017 e 20 mil novos especialistas formados até 2020 – esse conjunto de medidas faz parte da estratégia do programa de colocar a medicina a serviço da sociedade.

Por que a imprensa omite esses fatos e não se empenha em investigar o escândalo das propinas? Porque a pauta é definida pelo interesse de desmoralizar o sistema público e justificar a predominância da medicina privada.




- Limites - HÉlio Schwartsman
FOLHA DE SP - 05/11 SÃO PAULO - O retrato devastador que o repórter Fabiano Maisonnave traçou de algumas escolas médicas da Bolívia fala por si só. Não obstante, cerca de 25 mil estudantes brasileiros estão matriculados nessas instituições --o...

- A Medida Da Mentira - Florisval MeinÃo E Renato Azevedo
FOLHA DE SP - 31/07 A parcela da população mais desassistida e vulnerável será exposta a uma espécie de roleta-russa da saúde com o programa Mais Médicos Denominada talvez ironicamente de programa Mais Médicos, a medida provisória nº 621 traz...

- Uma Coisa E A Outra - - Luiz Garcia
O GLOBO - 26/07 O Brasil tem o número de médicos de que precisa? É uma boa pergunta, já que o governo federal está empenhado em aumentar o número de faculdades de medicina, enquanto o Conselho Federal de Medicina afirma exatamente o contrário....

- Mais Médicos Supera Meta; Psdb Adoece!
Por Altamiro Borges No programa “Café com a Presidenta”, nesta segunda-feira (30), Dilma Rousseff anunciou que o programa “Mais Médicos” superou as metas de cobertura e já beneficia 50 milhões de pessoas em todo o Brasil. Para ela, esta é...

- Falta De Médicos
Numa entrevista ao Público de hoje, o Ministro da Saúde revela que o SNS vai importar médicos do Uruguai e que o numerus clausus das faculdades de Medicina continua a ser inferior às necessidades. Ocorrem-me três notas: a) Ainda está por fazer o...



Geral








.