|
Robert Garcia/Rebelión |
Por Igor Carvalho, na revista Fórum:Em 11 de setembro de 2001, os EUA sofriam o pior ataque de sua história, em território americano. Doze anos depois, o país relembra a data com a expectativa de mais uma intervenção militar contra um país, dessa vez, o alvo é a Síria.
A opção bélica estadunidense para combater o "terrorismo" pelo mundo se voltou contra os próprios EUA. Segundo o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, os norte-americanos são alvo de 85% dos ataques terroristas no mundo, hoje, "antes [da invasão ao Afeganistão e ao Iraque] eram 50%, 60%".
Para Nasser, a justificativa para tanto empenho bélico está na economia, já que a guerra pode ser um bom negócio. O professor lembra Joseph Sitiglitz, que afirmou que a investida americana no Iraque e no Afeganistão custou mais de U$ 3 trilhões aos EUA e outros U$ 3 trilhões ao resto do mundo. “Coloco outra pergunta, eles não são idiotas: será que o objetivo é ir atrás e acabar com o terrorismo? Será que podemos computar esses 5 trilhões como gasto?”
Nasser afirma que a possível intervenção militar contra o país governado por Bashar al-Assad deve ser encarada pra além da lógica que passou a vigorar depois do atentado contra as Torres Gêmeas, em Nova Iorque. “Não podemos achar que tudo é pós 11 de setembro.” Confira a entrevista.
Doze anos depois do 11 de setembro os EUA continuam investindo em intervenções militares em outros países. A política externa norte-americana não aprendeu nada?Acho que tem duas formas de avaliarmos essas ações dos EUA. A primeira é fazendo uma avaliação em um sentido mais administrativo, da perspectiva deles. Temos um problema de terrorismo no mundo, segundo os americanos: “Houve um ataque e precisamos unir todas as forças para derrotar o terrorismo”. Aí os EUA implementaram duas guerras, uma no Afeganistão e outra no Iraque, gastando trilhões de dólares. Do outro lado, tem os resultados dessas guerras. Em termos de julgamento público foi muito ruim, duas guerras com milhares de mortos, e o terrorismo aumentando em números e em alvos americanos. 85% dos ataques hoje em dia têm os EUA como alvo, antes, eram 50%, 60%.
Se olhar por aí, vai se pensar o seguinte: “Os EUA estão errando, gastam tudo isso e não resolvem o problema do terrorismo”. Coloco outra pergunta, por que acho que eles não são idiotas: será que o objetivo é ir atrás e acabar com o terrorismo? Será que podemos computar esses U$ 3 trilhões como gasto? O [Joseph] Stiglitz fez um estudo e mostrou que foram gastos mais de U$ 3 trilhões com as guerras no Afeganistão e Iraque. Alguém está gastando e alguém está ganhando. Isso é uma meta e é de interesse de alguns grupos, os EUA estão presentes e querem estar mais presentes ainda no Oriente Médio. Os mercados de armas e de segurança privada cresceram nos EUA, não podemos entrar nessa de venceram ou não, eles estão atendendo outros interesses.
O senhor consegue enxergar alguma conexão entre as experiências americanas no pós 11 de setembro e a iminência de um ataque à Síria, feitas pelos EUA?
Dessa vez, os EUA não foram agredidos. Eles também não tinham sido agredidos por Afeganistão e Iraque, mas o argumento era de luta contra o terrorismo. Segundo informações, os grupos de terrorismo, desta vez, estão contra o Assad. O Obama diz que o Assad cruzou a linha vermelha, eu diria que o Obama cruzou essa linha vermelha. Não me espantaria se daqui um tempo tiver um acontecimento que propicie aos EUA voltarem a argumentar sobre uma intervenção militar na Síria.
Não podemos achar que tudo é pós 11 de setembro. Em 1998, houve um ataque às embaixadas da ONU, não houve consulta, os EUA imediatamente lançaram mísseis no Afeganistão. A postura é a mesma de Obama, hoje.
Agora tem a Rússia no cenário.
A Rússia, com o Putin, na década de 90, começou a mostrar os dentes, mas com outra postura na política internacional. A Síria é um ponto de influência da Rússia. O Obama já afirmou que quer fazer a intervenção sem tirar o Assad do poder, não vai tirar porque provavelmente existe uma negociação com a Rússia. Entendo que a questão da Síria não é a mais importante para os EUA, eles querem atacar para dar um recado ao Irã. A Síria não tem mais tanta importância assim, é só uma corrente para o Irã. E esse contexto não está tão ligado ao 11 de Setembro, por que ainda não se fez menção ao terrorismo.
GAZETA DO POVO - PR - 12/09 Se Bashar Assad puder ser levado a uma mesa de negociação, vale a pena esperar em vez de ordenar um ataque à Síria Depois de uma semana em que a intervenção militar norte-americana na Síria era praticamente certa, as...
O GLOBO - 06/09 Essa lenga-lenga interminável de que precisamos de mais provas para termos certeza que o regime do ditador sírio Bashar al-Assad usou armas químicas contra seu próprio povo é uma desculpa dissimulada para não admitir o óbvio. Quase...
A Rússia passou a considerar o uso de tropas terrestres na Síria. "O objetivo informal é tornar a situação estável do ponto de vista militar até março, para então tentar iniciar a transição para a saída do ditador Bashar al-Assad",...
Por Emir Sader, no sítio Carta Maior: Completa-se um ano da reeleição do Obama e nada indica que seu mandato será distinto do primeiro. Nada de terminar com Guantanamo, as guerras do Iraque e do Afeganistão não amainam, não desencalha a reforma...
«Por mim não tenho a pretensão de ter verdades absolutas, ainda que me incline, talvez por reflexo de jurista, para a posição que entende que a intervenção no Iraque, ainda que tenha livrado o Mundo de uma tirania abominável, prejudicou a guerra...