Aproveitando a disposição global de pedir desculpas, e usufruindo do acervo de edições antigas que o jornal disponibilizou na internet, vamos lembrar de vez em quando à família Marinho que seus erros foram muito além do “apoio editorial” ao golpe. A Globo ajudou a preparar os espíritos, a construir um clima favorável na opinião pública a uma imperdoável agressão à nossa experiência democrática.
Por exemplo, no dia 7 de setembro de 1963, há exatos 40 anos, a Globo publicou um editorial afirmando que a Petrobrás estava sendo tomada por perigosos comunistas.
As acusações eram ridículas. O período mais radical do Macarthismo já havia terminado. Não havia razão para tanta paranóia.
A Petrobrás fora fundada sob terrível oposição do mesmo Globo, que agora fazia campanha sistemática contra a empresa e os nacionalistas que a dirigiam. Repare como o jornal opõe “comunistas” a “patriotas”, e alerta para a “comunização do Brasil”. Acusação mentirosa. Goulart fazia um governo de cunho nacionalista, e tinha o apoio da esquerda organizada: a UNE, partidos progressistas e movimentos sociais. Mas era totalmente inexato apontar a intenção de Goulart de “comunizar” o país.
Na mesma página, outra nota no mesmo tom:
Todo o dia, o Globo fazia diatribes assim, sempre promovendo o ódio ideológico contra a esquerda, criminalizando-a e produzindo uma atmosfera de paranoia, conspiração e intolerância política.
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O artigo sobre o IBAD está na página 5 da mesma edição de 7 de setembro de 1963. Hoje está provado que o instituto, espécie de think tank coxinha pró-América (parecido com instituto Millenium), recebeu sim dinheiro do governo americano.