A BELA MISS ANGOLA E ESSES CONCURSOS QUE NÃO GOSTO
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A BELA MISS ANGOLA E ESSES CONCURSOS QUE NÃO GOSTO


Como tem bastante gente perguntando o que achei do resultado do Miss Universo, percebi que preciso escrever um post. Não vi o concurso, não tenho vontade de ver o concurso, mas vi que ganhou a Miss Angola, Leila Lopes. Ela é linda, sem dúvida alguma. Concordo com ela quando diz que sua principal arma é o sorriso, e que os racistas deveriam se tratar. Pois é, os racistas (leia alguns comentários mascus que te farão passar mal)... Incrível como tem idiota reclamando que Leila não pode ser bonita, porque, sabe, desde quando negra e de cabelo ruim pode ser atraente? Custo acreditar, mas realmente tem paspalho dizendo que Leila só ganhou por causa do politicamente correto, essa "praga" (pior que a miséria! pior que a guerra! pior que tudo!) que privilegia o multiculturalismo (um excelente exemplo de racismo e misoginia está aqui, nesta entrevista de 2007 no Jô sobre mulheres de Angola — ainda bem que eu não tinha blog na época, senão escreveria um texto que faria o Jô me ameaçar com um processo). Sinceramente, tenho dificuldade pra entender como alguém pode olhar pra Leila sem considerá-la estonteante. A cor dela é fantástica! Quem inventou que branco (que quase nunca é branco, tá mais pra rosa desbotado ou meio amarelo) é mais atraente que negro (que quase nunca é negro, tá mais pra marrom, cor de chocolate)? Parece que Leila não é a primeira Miss Universo negra, mas a quarta. Quatro negras vencedoras em 60 anos de concurso... É pouquinho mesmo.
Mas lógico que não são apenas as negras que não encontram representatividade neste tipo de concurso. Quantas orientais já ganharam o Miss U? Ontem a Pri, uma leitora recente do blog, deixou um comentário (resumido):

Sei que os concursos de beleza se baseiam em algo completamente equivocado, mas não penso que a melhor forma disso é apenas não participar e não querer que participem. Penso que existe uma forma de mudar isso. E começa com mulheres que não "atingiram o padrão” desafiarem e irem em frente, assim como Nancy no post. Mas, pensem comigo, se em vagas para esses concursos, existirem proporcionalmente todos os tipos de mulheres, creio que será o primeiro passo para a sociedade mudar seus conceitos, e enxergar mulheres que antes se escondiam, e que agora provam que beleza é relativa. Penso que, devemos provar como é absurdo apenas um tipo de mulher ganhar concursos de beleza, a chamada mulher perfeita. Isso mudaria completamente a forma como esses concursos são elaborados, e o aspecto físico seria o de menos para se avaliar a candidata. Leva tempo, mas é possível. Com o tempo, a sociedade começa a enxergar como não tem sentido na forma como esses concursos agem. Isso levaria a uma espécie de extinção dos concursos de beleza, já que isso não seria mais motivo para avaliar se uma mulher é mais mulher ou melhor que a outra somente por ser "padrão".

Não vejo como isso acontecer, Pri. As feministas em geral já se renderam à existência desses concursos. Muitas até gostam e assistem. Outras se calam. Hoje são poucas as que criticam — bem diferente dos anos 60, em que um grupo de feministas invadiu as passarelas de um Miss América pra protestar. Pessoalmente, não gosto de concursos de beleza porque eles reforçam a ideia de que mulher nasceu pra ser decorativa (quando há concursos de beleza pra homens, eles nunca têm a mesma repercussão), porque eles martelam na cabeça de meninas que o mais importante na vida de uma mulher é ter um vestido de gala e saber desfilar de maiô, e porque eles padronizam a beleza. Todas as candidatas num Miss U são praticamente iguais. Pode mudar um pouco a cor e o formato dos olhos, mas todas são jovens, altas, muito magras (e muito mais magras hoje que quarenta anos atrás), ultramaquiadas, com pernas quilométricas. Como pouquíssimas mulheres no mundo se encaixam nesse perfil, os concursos de beleza passam a mensagem que só é bonita quem é assim. De repente até existe um Miss Universo para Gordinhas, assim como tem concurso de beleza pra terceira idade e tal. Mas nunca que uma gordinha poderá participar do Miss Universo principal, aquele que realmente conta e que tem cerca de um bilhão de espectadores.
Tampouco acredito nessa ladainha que a simpatia vale mais que a beleza nesses concursos. Pra mim parece papo de quem diz que compra a Playboy pra ler as entrevistas, sabe? Concurso de beleza avalia a beleza. Tá no título. E é uma competição cada vez mais profissional, com treinadores pra absolutamente tudo, e cirurgiões plásticos à disposição (porque precisa! São poucas as mulheres que medem 1,80 m e pesam 55 quilos que têm um tamanho visto como razoável de busto — peitos são feitos de gordura, e se você tem pouquíssima gordura no corpo, vai ter pouco na altura do peito também). Não é à toa que a Venezuela virou uma fábrica de misses. É uma indústria.
Esses concursos também são empreendimentos milionários, muito bem controlados. Não vejo como alguém conseguiria subverter aquilo. Quer dizer, dá pra fazer paródia satirizando concurso de miss, mas nada disso vai mudar os concusos em si, que continuarão sendo iguais aos de 1952, quando o Miss Universo começou (justamente na década em que os direitos das mulheres regrediram nos EUA). A única diferença dos anos 50 pra cá é que as candidatas vão ficando mais magras a cada edição (na foto ao lado, as finalistas obesas de 52 -- repare no tamanho das coxas!). As regras continuam as mesmas, imagino: miss não pode ser casada ou ter filhos. Como o estado civil de uma participante não interfere na sua beleza, o subtexto é que uma miss deve ser “pura”, virginal, e ao mesmo tempo disponível (porque toda mulher solteira é disponível, né?) e inatingível.
Tenho certeza que concursos de miss não serão extintos durante a minha vida. Pelo contrário: devido ao backlash (a reação conservadora), eles parecem estar mais populares hoje que vinte ou trinta anos atrás. Eles já foram considerados bregas, o suprassumo do kitsch. Atualmente estão mais associados a glamour. Por mais que o objetivo desses concursos seja perpetuar um só tipo de beleza, eles também cumprem uma função performática: passam uma perfomance da femininidade. Reforçam na nossa cabeça o jeito como uma mulher deve agir, falar, andar (salto alto e maquiagem sempre, até de maiô!), ficar em pé, balançar a cabeça, sorrir, chorar, aplaudir...
Parabenizo a bela Leila Lopes, mas não gosto de concursos de beleza, nem acho que vão mudar, ou que representam alguma coisa. Como eu já disse, raríssimas mulheres no planeta têm as medidas pra ser miss. Minha esperança é que, mais do que mulheres que não podem ser miss, existam muito mais mulheres que não queiram ser miss, e que preferem ser reconhecidas por outras qualidades que não a aparência física.




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