Por Dandara Lima, no site da UJS:Eduardo, uma criança de 10 anos, estudava na porta da sua casa no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, quando um tiro de fuzil disparado por um policial militar da UPP (Unidade de Policia Pacificadora) interrompeu brutalmente a sua vida.
A execução de Eduardo revoltou seus vizinhos, sua morte não foi a primeira daquela semana, mas foi extremamente simbólica para o momento atual do país que discute redução da maioridade penal.
O principal alvo da revolta dos moradores do Alemão é a Unidade de Policia Pacificadora, um nome meio irônico para o que essa unidade representa na prática. Mas se não fosse a internet e os coletivos de comunicação independentes não teríamos como saber o que de fato acontece no Alemão.
A cobertura televisiva informou apenas que os moradores pediam paz, uma paz genérica. Informou também que a resposta do Estado foi reforçar o policiamento. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB) disse que vai reocupar o Complexo do Alemão com o Batalhão do Choque e do BOPE e vai continuar “cortando da própria carne”, pois para ele as UPPs tem dado respostas positivas.
A polícia militar mata uma criança. A resposta do Estado é colocar mais policiais na sua comunidade. Mais policiais muito bem preparados para executar crianças de 10 anos estudando na porta de suas casas, sumir com trabalhadores como o Amarildo, arrastar trabalhadoras como a Cláudia, assassinar dançarinos como o DG e alegar que as vítimas tinham relações com o tráfico, porque essa justificativa sempre resolve qualquer coisa.
A cobertura televisiva também deu voz a um policial militar da UPP do Complexo do Alemão, que alegou que os moradores são coniventes com o crime organizado. A morte de uma criança é retratada como fatalidade de um suposto confronto entre policiais e bandidos, e não como crime hediondo.
Entendeu o roteiro? A mídia (ou PIG para os íntimos), além de várias outras agendas, é muito eficaz em criminalizar a pobreza, atacar empatia de classe e jogar trabalhador contra trabalhador.
O Estado abandona o trabalhador da periferia com duas escolhas: de um lado o tráfico, do outro uma milícia assassina uniformizada. E para manter o ar de normalidade a mídia te explica que a culpa em parte é dos moradores das favelas e das periferias, que não colaboram com a polícia.
E quem protege o pobre da polícia?
Para o senso comum a polícia quando mata tem os seus motivos, “ninguém morre a toa” comentam muitos por aí. Circularam fotos de uma criança segurando uma arma e disseram que era o Eduardo, não era, e mesmo que fosse nada justifica a execução de uma criança!
E o mais cruel desse roteiro é que não é apenas a classe média e a elite que tentam justificar a atuação da polícia.
A classe trabalhadora, maior vítima da ineficácia do nosso modelo de segurança pública, também se rende ao discurso de ódio da mídia, também defende redução da maioridade penal porque é a mais vulnerável a violência. A burguesia tem acesso a vários tipos de mecanismos de segurança e se blinda, seus filhos tiram fotos com policiais sorridentes.
Enquanto a mídia (burguesa) joga trabalhador contra trabalhador, outros grupos seguem lucrando com as desigualdades, com a guerra às drogas, com a criminalização da pobreza … e a marcha fúnebre segue.
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