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A desfeita da convidada - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 23/07
O PT marcou para sábado passado, em Brasília, a primeira reunião do seu Diretório Nacional para avaliar os protestos que se propagaram pelo País em junho e os seus desdobramentos políticos. Notadamente, a abrupta queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas sobre o seu desempenho e chances de reeleição em 2014; as suas tentativas de responder às vozes da rua; o acirramento das tensões com o PMDB, o principal arrimo do governo no Congresso -além do recrudescimento do "volta, Lula".
O dia e o local para o encontro dos 85 membros do Diretório, a mais importante instância do partido depois da Executiva Nacional, foram escolhidos para permitir que Dilma dele participasse na condição de convidada de honra. O presidente da legenda, Rui Falcão, anunciou que ela aceitara o convite, e, como de praxe, a equipe de segurança do Planalto vistoriou o lugar do evento. Na véspera, porém, alegando estar com a agenda tomada por uma reunião com ministros sobre a iminente vinda do Papa, Dilma cancelou a sua visita aos companheiros, não obstante os apelos de última hora.
Ela não poderia estar alheia ao impacto que a sua negativa provocaria. É verdade que o seu antecessor também deixou de comparecer a um ou outro encontro da cúpula do PT - e nem por isso o forfait lhe criou problemas. Mas há duas diferenças gritantes entre ele e ela. A primeira é que Lula sempre foi maior do que o PT, ainda mais tendo índices siderais de popularidade. Dilma é menor do que Lula, graças a quem se elegeu, não traz o PT no seu DNA político nem é a santa padroeira do partido. A segunda diferença é o momento - que não se compara com a crise mais grave do lulopetismo, que foi a denúncia do mensalão.
Os manifestantes de junho não execraram a pessoa da presidente, mas a sua própria posição institucional no criticado sistema de poder nacional a empurrou inevitavelmente para a fogueira. Ao comentar, a portas fechadas, a "inaceitável" decisão da presidente de se ausentar do evento de sábado, José Dirceu - o ministro de Lula cuja queda abriu caminho para a ascensão de Dilma - tocou no nervo exposto do problema. Ao contrário do que parece achar, argumentou, ela "faz parte da crise". Logo, precisa do PT mais do que nunca. De resto, vem do partido o único endosso ao agonizante esquema dilmista de reforma política por plebiscito para valer em 2014.
Do partido, sim. Não de Lula. Ele influiu na decisão do presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Eduardo Alves, de convidar o pragmático petista Cândido Vaccarezza para coordenar a comissão de 14 deputados incumbida de apresentar, em 90 dias, um projeto de reforma que, se aprovado pelo
Congresso, seria submetido a referendo para vigorar em 2016 ou 2018 - a posição do PMDB. Vaccarezza enfureceu a presidente e boa parte da companheira da ao declarar inviável, logo de saída, a fórmula plebiscito+2014. Não só por falta de tempo, mas principalmente por falta de apoio político. É o que Lula acha - levando a presidente a boicotar o Diretório. Se isso tem lógica, do ângulo dos seus interesses políticos, é outra história.
Dilma já demonstrou que não sabe nem faz a hora de se vingar. Diferentemente dos políticos sabidos, ela não consegue guardar a raiva no congelador. Talvez tenha caído em si diante da repercussão do agravo cometido, assoprando com uma carta de quatro páginas a mordida que infligiu aos membros do Diretório. Nela, entre referências à "aguerrida" representação parlamentar do PT e à "querida militância", citou duas vezes a sua parceria com Lula, tornou a defender a reforma política "balizada pela opinião das ruas" e, como quem desmente a mais difundida crítica ao seu modo de governar e fazer política, assegurou que "nós ouvimos". Muito pouco e muito tarde, dirão os céticos.
É prematuro prever se a desfeita de Dilma deixará sequelas no seu convívio com o PT ou se a conveniência recíproca se imporá. Mas parece fora de dúvida que o episódio dará novos argumentos aos partidários do "volta, Lula". E é dele que tudo o mais dependerá.
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