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A economia do sexo - ALEXANDRE VIDAL PORTO
FOLHA DE SP - 23/11
Os japoneses parecem querer sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de uma relação
Acho os meandros do sexo um dos grandes mistérios da sociedade japonesa. Nunca compreendi os caminhos que um casal japonês percorre da formalidade do primeiro contato à espontaneidade da intimidade física.
No Japão, as relações interpessoais obedecem a códigos tão rígidos que parecem não ter nenhuma possibilidade de acabar em sexo. Claro que muitas acabam. Eu é que não fico sabendo.
A vida sexual dos japoneses tem sido objeto da curiosidade internacional. O jornal inglês "The Guardian" publicou texto sobre o desinteresse erótico da população local, e a BBC exibiu um documentário cujo título se autoexplica: "No sex please, we're japanese" ("Sem sexo, por favor; somos japoneses").
Para consubstanciar suas alegações, citam estatísticas segundo as quais, por exemplo, cerca de 45% das mulheres e 25% dos homens entre 16 e 24 anos de idade se declaram desinteressados em sexo.
Parece simplista atribuir aos japoneses, de forma genérica, falta de interesse sexual. Afinal, a indústria da pornografia no Japão movimenta bilhões de dólares, e a arte erótica japonesa remonta, pelo menos, ao século 14. Ou seja, interesse por sexo há.
Mas o que os japoneses parecem querer é sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de um relacionamento amoroso. Algo com hora para começar e acabar. Casar para quê? Para perder a liberdade e a autonomia?
Para muitas mulheres japonesas, casar e ter filhos equivale a reduzir-se à dependência econômica do marido. Cerca de 70% deixam o trabalho ao se tornarem mães. Para os homens, por sua vez, casar e ter filhos representa a obrigação de sustentar, sozinho, toda uma família. Na ponta do lápis, tais opções não parecem vantajosas para ninguém.
O vazio emocional é preenchido por hobbies, mundo virtual, animais domésticos. Não é à toa que o país é um dos grandes mercados mundiais de produtos para pets.
O vazio demográfico, no entanto, é mais difícil de compensar.
Desde o último censo, em 2010, a população japonesa reduziu-se em mais de um milhão. Nesse ritmo, até 2060, o Japão perderá um terço de seus habitantes. A relação entre a diminuição no número de casamentos e redução populacional é mais visível no Japão porque, tradicionalmente, os japoneses se casam para ter filhos. Enquanto na Inglaterra 50% das crianças nascem fora do casamento, no Japão são 3%.
As consequências desse fenômeno demográfico podem ser catastróficas para a economia. O governo japonês está atento. No entanto, influenciar por meio de políticas públicas uma decisão tão pessoal quanto ter um filho não é fácil, sobretudo diante dos potenciais custos econômicos e sociais envolvidos.
Esse problema não é exclusivo do Japão. Acontece o mesmo no Brasil, só que em ritmo mais lento. Parece óbvio que, se a maternidade e a paternidade impõem um ônus muito alto, uma parcela da população para de se reproduzir. Portanto, a sociedade tem de incentivar quem se dispõe a dar-lhe essa contribuição. Toda vez que encontrar uma grávida, agradeça o esforço!
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