A educação escolar e a participação dos pais
Geral

A educação escolar e a participação dos pais


Mãe de três crianças que estudam no mesmo colégio, Daniela Khauaja se desdobra para acompanhar a vida escolar dos filhos. Professora e coordenadora de pós-graduação em São Paulo, há dez anos ela decidiu mudar de carreira (era executiva numa grande empresa) para ter mais flexibilidade de horário e estar mais perto da rotina de Luiza, de 13 anos, Carolina, de 7, e do pequeno Bernardo, de 6. Seu marido, Ricardo, consultor, é seu companheiro nas idas e vindas entre trabalho, casa e escola. São quatro reuniões bimestrais por filho, por ano. Mais as reuniões individuais com cada professora, um total de 15. Daniela e o marido também frequentam um grupo de mães e pais que se encontram para assistir a palestras e discutir temas que envolvem a educação dos filhos. São mais duas ou três horas mensais. O envolvimento do casal vai além da escola. Em casa, conferem a lição de casa e sabem o dia da próxima prova dos filhos mais velhos ? para também olhar se a matéria foi estudada. ?Apenas matriculá-los numa boa escola não garante um bom desempenho?, afirma Daniela. ?Nos preocupamos em mostrar a importância da educação e o valor da escola para a vida deles.?
>> A medalha que ainda falta
>> A conta do fracasso na educação
Daniela e Ricardo não estão sozinhos no esforço de ajudar a vida escolar dos filhos. A participação dos pais na educação formal está em alta. Há um consenso entre educadores, professores e estudiosos sobre os efeitos no desempenho dos alunos. Quanto mais ativos os pais, maior a chance de o filho tirar boas notas no boletim e terminar uma faculdade. Nas últimas décadas, os pais passaram a ser estratégicos para políticas públicas de educação em diversos governos. Nos Estados Unidos, a participação das famílias virou assunto de uma secretaria exclusiva, que planeja como envolver os pais na escola para ajudar a diminuir as diferenças de aprendizado entre os mais ricos e os mais pobres. Do lado das escolas, os esforços para engajar os pais não são menores. ?A presença dos pais legitima a educação que oferecemos?, afirma Bartira Rebello, psicóloga do Colégio Miguel de Cervantes, de São Paulo, onde estudam os filhos de Daniela e Ricardo. ?A parceria reforça o vínculo entre o aluno e o ambiente escolar?, afirma Patrícia Motta Guedes, da Fundação Itaú Social.
A concordância é generalizada, mas nunca houve tantos pais desorientados sobre como ajudar seu filho a ser um bom aluno. Muitos se atrapalham na hora de ajudar com a lição de casa, outros trabalham demais, e falta tempo para participar de todas as atividades, reuniões e apresentações escolares. Quem não conhece uma mãe que se afoga em culpa por perder uma apresentação do filho na escola? Quantas não se perguntam o que fizeram de errado para seus filhos odiarem tanto as aulas?
>> Estudantes brasileiros se dão mal em teste de raciocínio. Como você se sairia?
Não é fácil medir em que medida o envolvimento da família ajuda na nota. O desempenho escolar é afetado por muitos fatores. Passa pela qualidade do professor, do ambiente da sala de aula, do material didático, da vizinhança em que a escola está, das condições econômicas da família, e por aí vai. Saber a parcela exata da ajuda dos pais e o tipo de atitude que funciona é um desafio antigo dos pesquisadores da área. Por isso, nas pesquisas atuais, tenta-se entender como o comportamento dos pais pode influenciar não só o desempenho acadêmico, relacionado ao boletim, mas o desempenho escolar como um todo, que envolve o comportamento do aluno na escola. ?O bom aluno tem algumas posturas em relação a sua educação, como capacidade de concentração, disciplina e perseverança. Elas ajudam a estudar e aprender melhor?, afirma Priscila Cruz, diretora do Todos Pela Educação, movimento da sociedade civil que atua para a melhoria do ensino público básico.
O Todos Pela Educação fez um estudo inédito no Brasil, com famílias de estudantes de escolas públicas. Conseguiu identificar as atitudes comuns às famílias de crianças e jovens que se destacam na escola (leia no quadro abaixo). São atitudes simples ? como colocar a escola nas conversas do dia a dia e valorizar o conhecimento. Elas não se traduzem necessariamente em ajudar o filho a resolver uma equação matemática. Para famílias de baixa renda, essas atitudes podem fazer diferença no potencial acadêmico dos alunos. Tatiane da Silva, de 34 anos, é mãe de Thaís, de 7, e de Gustavo, de 13. Ambos estudam em escolas públicas de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Tatiane estudou até o ensino médio. Seu marido, que trabalha como segurança, fez apenas as séries iniciais do fundamental. Ela acredita que a educação é o único caminho para que seus filhos vivam melhor. Além de ir a todas as reuniões  e conferir os cadernos, Tatiane conversa com frequência com o mais velho sobre o que ele escolherá como profissão, que faculdade fará. Com a mais nova, treina a leitura, leva a bibliotecas e livrarias (mesmo se não pode comprar o livro) e lê em voz alta as historinhas que tem em casa. Thaís ainda não é alfabetizada e fica ansiosa quando não consegue decifrar as letrinhas. A atitude da mãe a ajuda a superar a insegurança. ?Sinto que ela se acalma quando digo que é capaz de aprender, que ela conseguirá?, diz Tatiane.
 
Lições de educação (Foto: reprodução)
?Os pais deveriam valorizar mais atitudes assim, em vez de se preocupar  em fazer tudo para os filhos, até em ajudar na lição de casa?, afirma Keith Robinson, sociólogo e professor da Universidade do Texas, dos Estados Unidos, coautor do maior estudo sobre participação dos pais na escola do país. Ele analisou mais de 60 tipos de comportamento de pais em relação à escola (como ir a reuniões,  fazer trabalho voluntário, conversar com o professor na porta da sala), em famílias de diversas classes sociais, raças e diferentes níveis educacionais, frequentadoras de escolas públicas e particulares. Depois, cruzou essas informações com as notas dos alunos. Isso tudo ao longo de 30 anos. A conclusão foi que, na maioria dos casos, a influência dos pais na nota foi nenhuma. Isso mesmo: não houve impacto algum. Mais ainda: ajudar na lição de casa teve efeito negativo para crianças mais velhas, entre o 6o e o 9o ano. No caso delas,  os pais de qualquer classe social que se desdobram nos cadernos dos filhos em casa mais atrapalham que ajudam.  ?Eles não sabem como fazer. Ou porque esqueceram ou estão sempre correndo e acabam tornando a lição um momento de estresse?, afirma Robinson. Há duas situações excepcionais que apareceram na pesquisa com efeito positivo comprovado no desempenho acadêmico: ler em voz alta para crianças pequenas e conversar com as mais velhas sobre expectativas futuras, como a faculdade.
>> Que tal um ProUni para o ensino médio?
Apesar disso, os pesquisadores repudiam a ideia de que os pais deveriam deixar as atividades escolares apenas a cargo da escola e dos filhos. ?De jeito nenhum?, diz Robinson. Assim como fazem as famílias de Daniela e Tatiane, os pais precisam passar para os filhos, por meio de suas atitudes, uma mensagem essencial:  a escola é importante.
 
ATITUDES Tatiane com seus dois filhos, em casa, no Rio de Janeiro. Ela lê em voz alta para a mais nova e conversa sobre o futuro com o mais velho (Foto: Pedro Farina/ÉPOCA)






- Os Pais E A Escola - Contardo Calligaris
FOLHA DE SP - 14/08 Quase todo envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos não tem efeito --ou tem efeito negativo Alguém, na burocracia da Educação Nacional francesa, já atribuiu notas boas a meus desenhos, tanto de tema livre (mais "artísticos")...

- Educação Em Xeque: 8,5 Milhões De Alunos Brasileiros Estão Atrasados Pelo Menos Dois Anos Na Escola
Mais 8,5 milhões de alunos brasileiros estão atrasados pelo menos dois anos na escola. Os dados são do Censo da Educação Básica 2013 e mostram que 6,1 milhões de estudantes do ensino fundamental e 2,4 milhões do ensino médio não estão na série...

- Vem AÍ O Dia D Da AvaliaÇÃo!
Equipe diretiva de escolas da rede pública estadual tem durante o fim de semana a tarefa de planejar o acompanhamento da visita da Secretaria de Estado da Educação para o Dia D da avaliação institucional. A SEED mobilizará o dia 07 de maio como...

- Pais Não Sabem O Que Os Filhos Fazem Online, Diz Estudo
Por Vanessa Daraya, de INFO Online  São Paulo - Os jovens passam mais tempo online do que seus pais imaginam, afirma uma pesquisa feita pela McAfee nos Estados Unidos. Os especialistas investigaram a percepção dos adultos em relação às...

- Correio Dos Leitores: A Escola Pública (2)
«Concordo com o essêncial do artigo respeitante à escola pública/escola privada. No entanto gostaria de fazer notar que essas opiniões têm como ponto de partida que em todos os lugares existe uma "oferta" de escola pública em quantidade e qualidade...



Geral








.