Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Escrevo várias horas antes de ser publicada uma pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial que provocou polêmica muito antes de ser conhecida. Uma pesquisa cujo questionário apresentado aos entrevistados mais parece propaganda político-partidária.
Devido ao caráter inusitado do questionário dessa pesquisa, sua peculiaridade foi anunciada antecipadamente pelo site Infomoney, que, nas últimas semanas, vem prevendo “abalos” no mercado financeiro que decorreriam de pesquisas eleitorais.
Primeiro, o Infomoney informou que pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial criaria comoção no mercado de capitais. Essa pesquisa não se confirmou, mas o abalo nos mercados, sim. Porém, Dilma apareceu com grande vantagem sobre os adversários.
Na semana seguinte, surge pesquisa Ibope que move o mercado de novo, mas a posteriori. O Ibope divulga pesquisa mostrando queda da aprovação do governo Dilma.
Na semana que finda, o mesmo Infomoney volta à carga e prevê novo abalo no mercado financeiro a ser gerado pela pesquisa Datafolha deste sábado (5/4). Por certo, já gerou abalo financeiro, ao menos. Mas este texto está sendo escrito antes de tal pesquisa ser conhecida.
Este que escreve acredita que o Datafolha talvez não traga grandes novidades sobre intenção de voto, pois não se confirmou a informação de que o questionário da pesquisa começa com perguntas ruins para Dilma antes de perguntar ao entrevistado em quem irá votar.
Verificando o questionário do Datafolha, vê-se que começa perguntando em quem o entrevistado irá votar. Mas, em seguida, várias perguntas sobre escândalos e possíveis efeitos ruins na economia e nos serviços públicos são feitas. Em especial, relativas ao governo federal, ou seja, a Dilma.
Curiosamente, o questionário quase não faz perguntas de problemas relativos a administrações dos adversários mais fortes de Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos, durante seus governos em Minas Gerais e Pernambuco, respectivamente.
As únicas perguntas diretamente ruins para os oposicionistas são sobre a responsabilidade estadual em serviços públicos, mas não citam escândalos que atingem Aécio Neves e Eduardo Campos enquanto citam diretamente o escândalo envolvendo a Petrobrás.
A pesquisa sugere preocupação específica do Datafolha em saber se Dilma irá cair ou por que caiu, caso ela tenha perdido intenções de voto e um ou mais de um entre seus adversários tiver ganhado.
O viés “antidilmista” da pesquisa Datafolha em questão, aliás, por essa sua peculiaridade em termos de isenção induz não só suspeita do Infomoney sobre os “abalos” no mercado, mas uma outra suspeita…
Quem garante que, em campo, os pesquisadores do Datafolha não começaram pelas perguntas ruins para Dilma e só ao fim pesquisaram as intenções de voto dos entrevistados?
Ora, se o instituto de pesquisa elabora um questionário com perguntas preferencialmente ruins para um só dos candidatos, já aí se vê que ele fez a pesquisa CONTRA esse candidato. Isso é inadmissível em pesquisas eleitorais, que a lei determina que sejam isentas, que não induzam os entrevistados.
Seja como for, já se conhece o questionário do Datafolha. Esteja sua pesquisa mostrando o que estiver mostrando, já se sabia, antes da publicação, que visou prejudicar um dos candidatos.
Esse candidato cuja possibilidade de cair ou cair ainda mais foi preferencialmente sondada, porém, não é “esse candidato”, mas essa. Trata-se de Dilma Rousseff. Exclusivamente. Só ela teve possibilidade de piora na disputa sondada a fundo pelo Datafolha.
Apesar do inusitado viés da pesquisa, não deveria haver queda de intenções de voto de Dilma. Pela lógica, se o entrevistado respondeu pela ordem do questionário do Datafolha linkado acima, Dilma não deveria perder votos nem seus adversários deveriam ganhar.
Mais lógico seria resultados ruins para Dilma advirem das outras dezenas de respostas e não da resposta inicial sobre em quem o pesquisado irá votar.
Mas se você faz tantas perguntas ruins a um entrevistado sobre um dos candidatos, lá pela décima pergunta esse mesmo entrevistado já estará respondendo que aquele candidato é a maior droga que existe, a menos que seja um eleitor fiel dele.
Se tudo o que está sendo especulado aqui se confirmar ou não, pouco importa. É imperativo refletir se não é o caso de perguntar à Justiça Eleitoral se é lícito fazer pesquisa eleitoral cujas perguntas estimulam determinado posicionamento dos entrevistados.
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