A ex-guerrilheira e o sigilo eterno
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A ex-guerrilheira e o sigilo eterno


Guiherme Fiuza, Revista ÉPOCA

O sigilo eterno de documentos oficiais cairá no dia em que o Brasil tiver, enfim, um governo de esquerda. Essa seria uma típica utopia dos anos de chumbo, quando a mão de ferro do governo permitia no máximo o exercício da esperança – de preferência, em voz baixa. “Vai passar”, cantou Chico Buarque. E não é que passou? E de repente o Brasil é governado pela esquerda, por uma mulher, uma ex-guerrilheira contra a ditadura. Hora de acabar com o sigilo autoritário sobre informações de Estado? Talvez não.

Dilma Rousseff, a suposta encarnação das utopias libertadoras, ficou na dúvida. Uma coisa é panfletar anos a fio contra o despotismo governamental. Outra coisa é fazer no governo o que estava escrito no panfleto. Para muitos heróis da esquerda brasileira, a vida real só existe para estragar a utopia. Reclamar é muito mais emocionante do que fazer. E, no caso do sigilo de documentos oficiais, Dilma teve motivos fortes para puxar o freio de mão da abertura política.

Esses motivos fortes têm nome e sobrenome: Fernando Collor e José Sarney. A alma da ex-guerrilheira, quem diria, foi sensibilizada por dois herdeiros do regime militar. Dois ex-presidentes que serviram por anos a fio de alvo para a panfletagem do partido da atual governante – isto é, dois personagens muito úteis ao crescimento do PT e de suas bandeiras libertárias. Tão úteis que agora merecem toda a gratidão dos revolucionários de outrora: viraram os melhores amigos da “presidenta” de esquerda. E seus grandes conselheiros. Dilma fez seu cálculo de estadista: melhor do que abrir os documentos oficiais é fechar com Collor e Sarney.

A decisão não pegou muito bem, naturalmente. Até porque tem gente assistindo na TV à reprise de Anos rebeldes, a minissérie de Gilberto Braga, e acreditando naquela garotada que pegou em armas contra a ditadura para devolver o Brasil à democracia. A minissérie foi um sucesso e, em 1992, ajudou até a derrubar o então presidente Collor. Se o público soubesse que aquela brava guerrilha serviria também para devolver o Brasil ao Collor e ao Sarney, provavelmente teria mudado de canal.

Depois de ouvir seus eminentes conselheiros e defender o sigilo eterno dos documentos oficiais, Dilma foi acossada por seu passado. Foi lembrada por sua assessoria petista, que, sem o mito da revolucionária esquerdista, lhe sobra basicamente nada. Seria melhor, portanto, recuar. Mas se recuasse, Collor e Sarney poderiam ficar zangados. Tomou então mais uma decisão de estadista: ficou no meio do caminho.

Esta vai se tornando, cada vez mais, a marca do governo Dilma: deixar estar para ver como é que fica. Nesse aspecto, sua grande aliada é a opinião pública – sempre pronta a esquecer dos assuntos quando eles somem das manchetes. A consultoria milionária de Palocci, por exemplo, já sumiu no retrovisor. Com uma plateia assim tão distraída e despreocupada, talvez nem seja preciso o tal do sigilo eterno. As informações desaparecem de morte natural.

Depois de Palocci, veio Gleisi Hoffmann, a gestora, a mulher na Casa Civil, símbolo da arrancada do governo Dilma etc. etc. E não é que Gleisi também já sumiu em pleno cargo? Em seu lugar na ribalta, ofuscando a tudo e a todos, se impôs a estrela de Ideli Salvatti – importada do Ministério da Pesca para coordenar a pescaria do PMDB e do PT por verbas e cargos. Só se fala em Ideli. Ela é a cara do governo Dilma.

E já providenciou a liberação de quase R$ 5 bilhões em emendas parlamentares. Os 55 cargos que o PMDB reclama no segundo escalão também já estão sendo distribuídos. Enquanto isso, a carga tributária nacional bate novo recorde em 2011, garantindo a irrigação geral. Collor, Sarney e demais sócios não terão por que se chatear.

O povo está nas ruas – pedindo pelos gays e pela maconha. Em Brasília, está tudo bem. Para que sigilo?




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