A força do mercado - CHRISTOPHER SABATINI
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A força do mercado - CHRISTOPHER SABATINI


O GLOBO - 28/05

Amanhã, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, chegará ao Brasil após visitar a Colômbia e a caminho de Trinidad Tobago, apenas quatro semanas depois de o presidente Obama viajar ao México e à Costa Rica e menos de uma semana após a reunião da Aliança do Pacífico, em Cáli. Coincidência? De jeito nenhum.

A última década de crescimento econômico em países como Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru despertou genuinamente a atenção dos Estados Unidos e dos empresários americanos. Desta vez, porém, isto não se deve a ameaças ou razões ideológicas, mas pela convincente razão do interesse econômico nacional. E contrasta nitidamente com os dias em que a política americana baseava-se em pensar que o que servisse em um dos países era bom para todos, ou ainda em ideologia ou paranoia.

A região mudou, e com ela a capacidade dos EUA de influenciar cada país simplesmente por alavancar os dólares para seu desenvolvimento ou o seu prestígio regional.

No terreno da economia, os EUA caíram de patamar em termos absolutos, e em alguns casos em termos relativos, como exportador para a América Latina e como mercado para seus produtos - mas não tanto quanto sugerem informações da mídia. Por exemplo, em 1995 os EUA forneciam 21% das importações do Brasil e compravam 21% de suas exportações; em 2011, esses números caíram para 15% e 10%, respectivamente. Aconteceu o mesmo com o Chile, para onde as importações dos EUA declinaram de 25% em 1995 para 20% em 2011, enquanto as exportações chilenas desceram de 14% para 11%.

Sim, a América Latina passou a participar dos mercados globais. Mas os EUA permanecem centrais, especialmente para países com os mais acelerados ritmos de crescimento e maior potencial a longo prazo. Não por coincidência. Ao contrário da China, os EUA são um mercado para os produtos manufaturados mais sofisticados. O México tem sido particularmente eficiente em aproveitar a vantagem do mercado americano propiciado pelo Nafta (EUA, Canadá e México) para aumentar o valor agregado de seus produtos e está exportando automóveis e equipamento aeronáutico em termos globais.

Os EUA estão agora procurando jogar com o poder de seu mercado. Os países que o presidente Obama e o vice Biden escolheram para visitar e a mensagem que transmitiram e transmitirão sublinha tanto a importância desses países para os EUA quanto o esforço para reforçar a diplomacia com o compromisso econômico.

Decisiva para isto será a negociação da Parceria Transpacífica. Ela unirá 11 países - Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, EUA e Vietnã -, representando um PIB de quase US$ 21 trilhões (cerca de 30% do PIB mundial) e US$ 4,4 trilhões em exportações de produtos e serviços. O esforço atraiu a atenção do Japão e da Coreia do Sul - se eles se juntarem à iniciativa, ela representará 40% do PIB global - e da Colômbia.

Nesse meio tempo, os quatro países da Aliança do Pacífico - Chile, Colômbia, México e Peru - não estão sentados à espera dos EUA. Os presidentes desses países tiveram sua sétima reunião, em Cáli, Colômbia, na semana passada para mover adiante agressivamente o plano de liberalizar as barreiras tarifárias em 90% e integrar os mercados financeiros. Quando completado, o bloco responderá por mais de um terço do PIB latino-americano, com exportações 60% maiores que as do Mercosul.

A questão é para onde irá o Brasil. Embora o país tenha assegurado a eleição de Roberto Azevedo para diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), ele tem apenas uma fina fatia do livre comércio global. Como membro do Mercosul, a agenda de livre comércio do Brasil está atada à de seus vizinhos, por vezes menos liberais. Como consequência, o Mercosul tem acordos de livre comércio com países ou blocos que somam um PIB de meros US$ 692 bilhões. Compare isto com os acordos que o Chile tem com países e blocos que representam um PIB combinado de US$ 50 trilhões. E isto antes de a Aliança do Pacífico ser completada! Espera-se que, nesta região transformada, os EUA possam oferecer um incentivo potencialmente poderoso a esses países que buscam consolidar seu sucesso econômico. A recente atenção da Casa Branca mostra o interesse. A questão é se o Brasil reconhecerá seu próprio interesse econômico em olhar para o Norte e para a Ásia, em vez de se voltar para o Sul e para o Mercosul.




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