A gritaria contra o aviso prévio
Geral

A gritaria contra o aviso prévio


Por Altamiro Borges

Após passar mais de duas décadas engavetado na Câmara dos Deputados, finalmente o projeto de lei que regulamenta o aviso prévio proporcional foi aprovado em Brasília. A nova regra estabelece que, além do mínimo de 30 dias, o trabalhador terá direito a três dias adicionais por ano trabalhado, até o máximo de 60 dias. Assim, o aviso prévio pode chegar a 90 dias.


A aprovação gerou críticas histéricas de uma parte do empresariado, imediatamente ampliadas pela mídia hegemônica – inclusive em capas e editoriais. Com recordes de lucros em vários setores da economia, algumas entidades patronais alegam que a medida “penaliza as empresas e prejudica a competitividade e o desenvolvimento nacional”. Haja cinismo e ambição!

STF acelerou a votação do projeto

O projeto, que agora deverá ser sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, foi aprovado pelo Senado em 1989, ano seguinte ao da promulgação da Constituição. Enviado à Câmara, ele tramitou lentamente e só seis anos depois ficou pronto para sua votação. Mesmo assim, ele foi engavetado por pressão do lobby empresarial contrário à regulamentação do preceito constitucional.

Em junho passado, ao iniciar o julgamento de ações sobre o aviso prévio proporcional, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que, diante da omissão da Câmara dos Deputados, ele mesmo estabeleceria as novas regras. Este tranco apavorou os empresários e forçou o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, a apressar a aprovação do projeto de lei.

“Não é o ideal, mas foi o possível”

A votação foi acompanhada com interesse pelo movimento sindical. Mesmo defendendo uma ampliação maior do aviso prévio, o sindicalismo considera que o projeto representa um avanço. Ele inibe a rotatividade no emprego e garante maior segurança ao trabalhador. “Não é o ideal, mas foi o possível”, afirma o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical.

Sancionado o projeto, as centrais sindicais pretendem iniciar outra batalha: exigir que o pagamento do novo aviso prévio seja retroativo, beneficiando os trabalhadores que deixaram seus empregos nos últimos 24 meses. “No dia em que a Dilma sancionar, nós vamos meter processo na Justiça”, antecipa Paulo Pereira.

“O menor dos males”

Já no meio patronal, as reações foram distintas. Um setor avalia que o projeto é “um mal menor”. Ele fez de tudo para protelar a votação, mas temia que o tema fosse alvo de julgamentos no TSE e de projetos mais ousados. “A decisão de regulamentar o aviso prévio afasta a insegurança jurídica que assustava as empresas”, aponta o editorial do Estadão.

O jornal observa que “a regra não satisfez inteiramente o empresariado, parte do qual defendia o acréscimo, aos 30 dias, de um dia por ano trabalhado. Mas havia o risco de, se o Congresso não definisse com presteza a nova fórmula, o STF decidir por regras ainda mais onerosas para os empregadores. Por essa razão, dirigentes empresariais consideraram a decisão "o menor dos males".

Histeria de setores patronais

Outros setores, porém, estão raivosos com a decisão. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que recentemente fez onda com as tais “marchas contra a corrupção”, avalia que a medida é uma desgraça. Ela calcula em R$ 1,9 bilhão o gasto extra que as empresas terão com o aviso prévio proporcional, o que representaria 21% do custo atual com essa “despesa trabalhista”.

Na mesma toada, o “ex-socialista” Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), faz terrorismo contra o projeto. Para ele, “a regra desestimulará a geração de empregos formais e reduzirá a competitividade brasileira”. Maroto, ele afirma que a medida estimula a rotatividade no emprego e o trabalho informal – como se isso já não fosse prática das empresas.

A “direção errada” da Folha

Na mídia hegemônica, a Folha foi o jornal que mais refletiu esta histeria contra o projeto aprovado. No editorial intitulado “Na direção errada”, o jornal afirma que “as novas regras do aviso prévio, sobretudo por não virem acompanhadas por redução da contribuição patronal sobre a folha salarial, encarecem a contratação formal e, portanto, incentivam a informalidade”.

Já nas emissoras de rádio e televisão, os tais “comentaristas de economia”, como o direitista Carlos Alberto Sardenberg, da rádio CBN e da TV Globo, também detonaram o projeto. Como porta-vozes do capital, eles insistem que a medida é contraproducente, penaliza as empresas e “prejudica a competitividade e a produtividade”. Para eles, o projeto representa um grave retrocesso.

Os impactos da nova medida

Ao contrário do que esbravejam, a ampliação do aviso prévio não representa nenhuma drástica mudança na economia. Segundo estudos, dos 17 milhões de trabalhadores do mercado formal demitidos em 2010, 21% tinham menos de três meses de emprego e, por isso, nem tiveram direito a aviso prévio. Do total dos ocupados, somente 23% tinham mais de dois anos de trabalho.

O projeto aprovado na Câmara Federal, após quase duas décadas de embromação e de desrespeito aos preceitos constitucionais, representa apenas um tímido passo numa relação mais civilizada no chamado mundo do trabalho – coisa que é impossível no capitalismo. O problema é que o patronato e sua mídia ainda mantêm a mentalidade dos senhores de escravo.




- Aprovada Regulamentação Dos Direitos Dos Empregados Domésticos
A Câmara dos Deputados aprovou nesta sexta-feira (13), o projeto de lei complementar que regulamenta os direitos e deveres do empregado doméstico. Foram 319 votos a favor e 2 contra. Um acordo entre líderes partidários e o presidente da Câmara dos...

- Decida Aí, Seu Juiz - Celso Ming
O ESTADÃO - 20/07 Mais vale um mau acordo do que uma boa briga. Esse velho princípio de sabedoria popular é ignorado e desafiado no Brasil para prejuízo das partes envolvidas quando se trata de questões trabalhistas. Nos cinco primeiros meses deste...

- Renan Diz Que Regulamentar Terceirização Da Atividade-fim é Retrocesso
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse hoje (23) que a Casa fará uma avaliação criteriosa e sem pressa do Projeto de Lei (PL) 4.330/2004, que regulamenta a terceirização. A votação das emendas e destaques foi concluída ontem...

- A Terceirização Será Liberada No Brasil?
Por Samantha Maia, na revista CartaCapital: Depois de 11 anos de trâmite no Congresso, o projeto de lei que libera a terceirização da contratação de serviços no Brasil deve ir para votação na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira 8. O projeto...

- O Risco Da Flexibilização Da Clt
Por Luiz Carlos Motta, no jornal Brasil de Fato: Entre ano e sai ano, o tema de mudanças na CLT volta às manchetes e editoriais dos jornais. Começou no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Para liquidar a legislação trabalhista, inserida...



Geral








.