A hora do dólar - MIRIAM LEITÃO
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A hora do dólar - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 21/08

Todo o cuidado é pouco em momentos como esse de dólar instável. Haverá a hora em que ele poderá cair, mas agora o mundo está vivendo aqueles dias em que qualquer palavra errada de alguma autoridade basta para alimentar a especulação e impulsionar saltos. Há dois motivos para o dólar subir: uma mudança no mundo e uma piora macroeconômica no Brasil.

Faltam três semanas para a reunião do Fed que vai decidir se põe fim ao período de estímulo monetário. Muita gente acha que o BC dos EUA vai, sim, tomar essa medida. A economista Monica de Bolle não acha que são "favas contadas" que o Fed vai interromper aquela injeção mensal de US$ 85 bilhões no mercado.

- Se na reunião isso ficar para mais adiante, é possível que haja uma reversão do dólar, que voltaria a ficar em torno de R$ 2,30 - diz Monica.

Aos velhos patamares ele não volta mais. A tendência é de dólar alto por essa mudança sobre a qual o economista Paulo Guedes falou na coluna de segunda: mais do que o fim dos estímulos, o que está havendo é uma mudança de destino do fluxo de capitais.

- Mas também o dólar pode subir muito mais, se houver alguma declaração de autoridade que não seja entendida pelo mercado. E a partir de um patamar, qualquer coisa detona um pânico - afirmou Monica.

O Banco Central tem atuado para evitar os excessos de alta, mas há elementos concretos para que o dólar suba. Em períodos mais especulativos, às vezes, há um movimento definido como overshooting, um exagero que depois é corrigido. O economista Márcio Garcia não acha que seja isso agora.

- Eu não tenho certeza de que se trata de um overshooting. Vários participantes do mercado acham que R$ 2,50 ou mais é a taxa de equilíbrio de longo prazo. Ter um déficit em conta corrente de quase 4% do PIB, com taxa de investimento de 18%, é muito ruim. Nosso passivo externo líquido também é grande, mas a vantagem é que é um passivo externo em moeda nacional. A depreciação cambial ajuda, porque faz o tamanho do passivo diminuir, ao contrário da antiga dívida em dólar - diz Márcio Garcia. O dólar, ontem, parou de subir e até cedeu um pouco, depois do sexto dia de alta, mas foi preciso o Banco Central fazer dois leilões no mercado futuro e outro leilão de US$ 4 bilhões de venda com o compromisso de recompra. O Tesouro fez nova recompra de títulos prefixados. O diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, disse que tem dólar "para quem precisa" e negou a "centralização do câmbio". Essa ideia tinha sido aventada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, visto pelo mercado como um "conselheiro" da presidente. O ministro Guido Mantega garantiu que Belluzzo não fala pelo governo. Só esse disse-e-não-fala já demonstra que, enquanto o mundo estiver transitando para novos patamares de preços das moedas, é preferível evitar os palpites infelizes.

O economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, disse que o dólar está sob especulação de fundos nacionais e estrangeiros que estão muito posicionados no mercado futuro de dólar num total de US$ 30 bilhões. Por isso, ele defendia que o BC não fizesse apenas " swap cambial" que não é dólar, mas um instrumento financeiro. O BC mudou ontem, mas ainda não vendeu dólar físico até o momento.

Outro ponto a temer é o impacto na inflação. O economista Luiz Roberto Cunha espera para hoje um IPCA-15 de 0,10% a 0,15%. Baixo, portanto. Mas nos índices de atacado, a alta do dólar baterá mais forte. O repasse é baixo porque as vendas estão fracas. Mas a inflação de 2013 pode ficar mais alta por causa dessa oscilação cambial.




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