Geral
A hora e a vez dos trabalhadores
Por Altamiro Borges
Nesta terça-feira (25), as centrais sindicais brasileiras realizam reunião unitária para discutir o atual quadro político. Há certo consenso de que os recentes protestos no país, deflagrados a partir da luta pela redução da tarifa de transporte, expressam um anseio de mudanças da sociedade. As centrais, porém, estão atentas à atuação dos grupos de direita, que tentam se aproveitar das mobilizações para impor as suas bandeiras conservadoras. Elas rejeitam a postura fascista destes grupos, que agridem partidos de esquerda e entidades populares que sempre estiveram ao lado da juventude na luta por transformações profundas no país.
Neste cenário, as centrais sindicais reafirmam seu compromisso com a defesa da democracia e rechaçam o golpismo dos setores fascistas. Ao mesmo tempo, elas analisam que o atual ascenso das mobilizações nas ruas pode propiciar o avanço da luta por reformas estruturais no país. Daí a necessidade do conjunto do sindicalismo apresentar a pauta dos trabalhadores. Além da defesa da democracia, contra qualquer tipo de retrocesso, ela inclui várias reivindicações que foram aprovadas numa conferência unitária em 2010. Elas foram encaminhadas à presidenta Dilma Rousseff, mas até hoje não tiveram retorno positivo.
Entre outras reivindicações, a pauta inclui a luta pela redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas, sem redução de salários; pela ratificação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe as demissões imotivadas e representaria um forte impulso para a organização sindical; pelo fim do fator previdenciário, que penaliza os aposentados e pensionistas; pela rejeição do projeto de lei em tramitação no Congresso que amplia a selvageria das terceirizações. A pauta dos trabalhadores está bem definida e não se confunde com as bandeiras oportunistas levantadas pelas forças neoliberais e direitistas.
Mas não basta ter uma pauta bem definida. É preciso aproveitar as oportunidades concretas, avaliando a correlação de forças e a disposição dos trabalhadores, para viabilizar sua aplicação. O atual momento pode ser propício para ações mais ousadas, com os operários ocupando um papel mais protagonista num cenário político tão conturbado e preocupante. Os trabalhadores fariam ouvir a sua voz, ao mesmo tempo em que dariam um tranco nas manobras golpistas dos setores fascistas da sociedade.
Aqui ouso fazer uma sugestão: com suas heróicas greves no final dos anos 1970, os metalúrgicos do ABC paulista foram decisivos na luta contra a ditadura e sabem o valor da democracia. Eles também projetaram a principal liderança operária, Lula, que iniciou um novo ciclo político no país, com seus avanços e limitações. Os operários valorizam os avanços recentes, mas não abandonam a perspectiva de novas conquistas. Não seria este um bom momento para os metalúrgicos do ABC, apoiados por todas as centrais, tomarem a Via Anchieta na defesa da democracia, dos avanços conquistados e por mudanças mais profundas no Brasil?
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Reproduzo abaixo as notas da CUT e da CTB sobre o quadro político:
Nota da CUT em defesa da democracia
A Central Única dos Trabalhadores manifesta seu total apoio ao Movimento Passe Livre que, por ter alcançado o objetivo inicial de revogar o reajuste das tarifas de transporte coletivo, tomou a decisão nesta sexta-feira (21) de não mais convocar os atos, que liderou de forma legítima, levando milhares de pessoas às ruas nos últimos dias.
A CUT repudia as ações violentas de grupos contrários à democracia que, de forma oportunista, levaram às ruas pautas conservadoras que apontam para o retrocesso, o preconceito, a intolerância e estimulam o ódio de classe.
Diante disso, a CUT orienta seus Sindicatos, Federações, Confederações e militantes a defender de forma pacífica e organizada, como sempre fizemos, bandeiras históricas fundamentais para a democracia e o desenvolvimento do país, como transporte, educação e saúde públicos de qualidade, trabalho decente, fortalecimento da democracia; reforma política que fortaleça os partidos, a participação popular e a transparência e democratização nos meios de comunicação.
Em nota divulgada nesta sexta-feira (21), o MPL comemorou a vitória popular da revogação do reajuste e lamentou os episódios isolados de violência, desencadeados por diversos grupos que não pertencem ao Movimento. Em todas as declarações, os líderes ressaltam que o MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. A nota repudia ações violentas contra as organizações partidárias e sindicais que participaram dos atos em todo Brasil.
A CUT, ao longo de seus 30 anos, sempre esteve nas ruas e foi uma das principais protagonistas das transformações na história recente de nosso país, lutando por democracia e por uma sociedade justa. A derrota da ditadura e a democracia que conquistamos indo para as ruas se devem à organização e à responsabilidade que os movimentos social e sindical sempre tiveram. É incontestável que não há democracia sem partidos, sindicatos e instituições livres. É a política que organiza a sociedade.
Na próxima terça-feira (25), a CUT se reunirá com as demais centrais sindicais, representantes legítimas da classe trabalhadora, para definir uma ação conjunta em relação às mobilizações. Não podemos permitir que grupos reacionários direcionem as manifestações para uma agenda conservadora, contrária aos interesses da classe trabalhadora e da sociedade. Esses grupos demonstram a clara intenção de desestabilizar o projeto de desenvolvimento que defendemos e que ajudamos a construir, tentam impor o retrocesso às conquistas e aos avanços sociais.
A CUT continua nas ruas em defesa da pauta da classe trabalhadora e da democracia, contra o conservadorismo. Repudiamos todo e qualquer retrocesso!
São Paulo, 21 de junho de 2013.
- Vagner Freitas - presidente nacional da CUT
- Sérgio Nobre - secretário-geral da CUT
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Nota da CTB: Direita se infiltra e busca manipular as manifestações populares
Mais de um milhão de pessoas, jovens em sua maioria, ocuparam as ruas do país ao longo dos últimos dias em atos de protesto cujo objetivo inicial era conquistar a redução das passagens ou transporte público de qualidade e gratuito. O movimento sindical apoiou as manifestações, em larga medida espontâneas, que angariaram amplo respaldo e apoio popular e resultaram em vitórias com a redução dos preços das tarifas de ônibus e Metrô em várias cidades.
A CTB, em aliança com as demais centrais sindicais, compreende que a mobilização popular é essencial para que o país possa avançar em direção a transformações sociais mais profundas que o povo reclama, com destaque para serviços essenciais de saúde, educação, moradia, transporte e para as justas reivindicações da classe trabalhadora.
Todavia, o movimento vem saindo do seu trilho original, sob a influência de forças obscuras de direita e da mídia golpista, que buscam manipular as manifestações espontâneas das massas imprimindo-lhes um sentido político reacionário com o objetivo de isolar e desmoralizar os partidos e organizações progressistas e desestabilizar o governo Dilma, abrindo caminho para o retrocesso neoliberal.
É visível a infiltração de provocadores de direita no movimento, o recurso a depredações e à violência gratuita para criar um clima de caos e ingovernabilidade; as hostilidades grosseiras contra bandeiras de partidos e centrais sindicais. Na quinta, 20, em Brasília, o Itamaraty, que pratica e defende uma política externa soberana e democrática, foi alvo de vandalismo e de uma tentativa de invasão. Alguém duvida de que isto serve a interesses antinacionais?
Em função do novo e perigoso rumo que as manifestações vêm tomando o próprio Movimento pelo Passe Livre (MPL) em São Paulo, que convocou os atos pela redução da tarifa e transporte gratuito, anunciou a suspensão dos atos denunciando a infiltração da direita e a presença de neofacistas agredindo manifestantes. “É inconcebível esta onda oportunista da direita para tomar os atos para si”, disse Rafael Siqueira, ativista e membro do MPL desde 2006.
Certamente não é por amor à democracia e ao povo que a mídia golpista, liderada pela Rede Globo, vem ajudando a convocar as manifestações ao mesmo tempo em que instiga o ódio popular contra os partidos políticos e a política em geral, organizações dos movimentos sociais, governos e instituições. A direita neoliberal, reiteradamente derrotada nas urnas, quer pescar em águas turvas, manipulando o movimento espontâneo das massas no momento em que este está sem rumo e sem direção.
Os problemas sociais no Brasil, alguns deles seculares, são gigantes e, apesar dos avanços registrados nos últimos dez anos, demandam solução urgente. É esta a leitura que devemos fazer do sentimento de revolta popular. O movimento sindical não deve sair das ruas nem abdicar da luta, pois só com mobilização e luta conseguiremos avançar na direção de um novo projeto nacional de desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho. Mas não vamos ser cúmplices nem fazer o jogo da mídia golpista.
É nossa obrigação alertar a classe trabalhadora para os riscos de retrocesso e lutar para desmascarar e derrotar as forças de direita que se dedicam a manipular e desvirtuar o movimento espontâneo do nosso povo por um Brasil melhor, com mais democracia, igualdade e justiça.
São Paulo, 21 de junho de 2013
Wagner Gomes, presidente nacional da CTB
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