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A inflação sem disfarce - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 07/11
O aumento do custo de vida continua assombrando os consumidores, a alta de preços está muito acima da meta de 4,5% e finalmente o Banco Central (BC), embora controlado pelo governo, reconheceu a piora da situação e resolveu agir, aumentando os juros básicos de 11% para 11,25%. Passado o segundo turno da eleição, chegou a hora de cuidar um pouco mais claramente de alguns dos mais sérios problemas da economia, como o desastre das contas públicas e o repique inflacionário. A elevação dos juros foi decidida na semana passada, três dias depois de reeleita a presidente Dilma Rousseff. O reconhecimento do cenário mais feio apareceu, com suficiente clareza, ontem, quando foi divulgada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pelas diretrizes do crédito e pela ação anti-inflacionária.
Segundo a ata, o aperto monetário foi sacramentado porque o "balanço de riscos" ficou "menos favorável", as projeções de inflação para 2014 e 2015 foram revistas para cima e dentro de dois anos o aumento de preços ainda estará acima da meta. Os dirigentes do BC, membros do Copom, parecem ter desistido de esperar os famosos efeitos defasados do aumento anterior de juros, anunciado no fim de abril. A nova elevação da taxa básica, a Selic, neutraliza qualquer palavra otimista inserida nas atas anteriores. Houve clara contemporização, nos meses anteriores, embora economistas do mercado tivessem previsto no segundo trimestre o repique da alta de preços a partir de agosto.
Meia hora antes da divulgação da ata, o acerto dessa previsão foi confirmado, mais uma vez, com a publicação de novos dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Índice Geral de Preços (IGP) de outubro subiu 0,59%. Havia aumentado apenas 0,02% em setembro, ainda freado por seu componente de maior peso, o Índice de Preços por Atacado (IPA). Mas a alta dos preços ao consumidor, já com forte repique desde agosto, chegou a 0,43% no mês passado, a 5,38% no ano e a 6,84% em 12 meses.
A aceleração dos aumentos nos últimos meses, segundo a ata, é explicável "em parte" por dois processos de ajuste - o "realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais" e o dos preços administrados em relação aos livres. Em outras palavras, os preços internos têm sido afetados pela valorização do dólar e, além disso, o governo tem sido forçado a soltar as tarifas de eletricidade, represadas desde o ano passado. A liberação dos preços administrados continuará em breve, com aumento dos preços dos combustíveis. Também falta a correção das tarifas de transporte urbano, congeladas há mais de um ano em algumas grandes cidades.
A presidente Dilma Rousseff recorreu ao controle desses preços para maquiar a taxa de inflação. Nem assim conseguiu evitar a disparada dos índices, tanto daqueles oficiais quanto daqueles calculados por entidades independentes.
O número usado como referência para a fixação da meta, o IPCA, tem estado e deve continuar ainda por algum tempo em torno do limite da margem de tolerância, de 6,5% em 12 meses. A liberação dos preços represados - já iniciada, no caso das tarifas de eletricidade - complicará o quadro neste fim de ano e durante boa parte de 2015. Os dirigentes do BC obviamente sabem disso. Eles têm vários motivos para prometer uma política monetária "especialmente vigilante". Essa promessa já havia sido publicada, mas o compromisso desta vez foi reforçado com o acréscimo do advérbio "especialmente". Novas altas de juros poderão vir sem surpresa.
Fatores conhecidos de inflação, como a expansão do crédito, o descompasso entre o consumo e a oferta de bens e serviços, além de aumentos salariais maiores que os ganhos de produtividade, aparecem de novo na ata. Mais uma vez os dirigentes do BC proclamam, diplomaticamente, sua expectativa de ajuste gradual das contas públicas. Não negam, no entanto, o efeito inflacionário da gastança do governo. Em suma, ainda sobra combustível para aumentos - e continuará, enquanto a política for parecida com a dos últimos quatro anos.
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