A intolerância de Eduardo Giannetti
Geral

A intolerância de Eduardo Giannetti


Por Luiz Gonzaga Belluzzo, Ricardo de Medeiros Carneiro, André Biancarelli e Pedro Rossi, no site Brasil Debate:

Em evento organizado na última segunda-feira pela consultoria Empiricus (que vem se notabilizando pelo pessimismo militante e previsões sobre o “fim do Brasil”), o porta-voz econômico da candidatura do PSB afirmou: “A Unicamp é um produto típico do regime militar”. O professor Eduardo Giannetti é um intelectual sofisticado, filósofo e economista, assumidamente um liberal – que a princípio defende e respeita a pluralidade de pontos de vista. Nesse episódio, esteve mais próximo de gente bem menos refinada, como o blogueiro Rodrigo Constantino.

De acordo com o relato da Rede Brasil Atual, quando questionado sobre a formação dos economistas do governo, suas palavras foram: “O regime militar é culpado disso (…) um grupo que se fecha religiosamente em torno de um pensamento desconectado do mundo”.

Indo além, sacou da cartola um suposto seminário “em 1978” em que Celso Furtado teria sido desqualificado em Campinas, com suas ideias consideradas “de interesse da ‘burguesia’, enquanto a preocupação dos presentes ao encontro seria‘a luta de classes, o imperialismo’”. Como cereja do bolo, teria afirmado que “o bolchevismo não aparece em países democráticos”.

Salvo algum engano do repórter, lamentamos o tom e os termos. Mas antes de tudo não conseguimos compreender o raciocínio do especialista em ideias econômicas. A desqualificação que procura obstruir o debate vem baseada em desconhecimento da instituição que critica de forma rasteira.

Celso Furtado foi o ponto de partida das reflexões originais dos fundadores do instituto, é Doutor Honoris Causa por esta instituição e parece pouco provável que suas ideias tenham algum dia sido contestadas aqui com este nível de argumento. Nem por este lado. A propósito, falar em “bolchevismo” e recorrer a este suposto episódio levanta a dúvida sobre quem está de fato com a cabeça em décadas passadas.

A Unicamp foi um dos centros que aglutinou o pensamento crítico brasileiro durante o período militar. Assim como outros economistas hoje no campo liberal – como Edmar Bacha e Pedro Malan, por exemplo – seus professores discutiram rigorosamente o significado das opções econômicas da ditadura e denunciaram seu caráter excludente. Ao contrário de “fechamento”, o que marcou a instituição naquele período de pouca abertura para a contestação foi sempre a busca do debate público, a explicação da realidade brasileira e de seus problemas reais. E assim se manteve ao longo das décadas seguintes, em vários outros temas.

Se o conteúdo destas explicações hoje desagrada a quem não participou daquele debate, é outro problema. Discordamos de Giannetti e do discurso do “Estado que não cabe no PIB”, da privatização dos bancos públicos e da redução dos gastos sociais. Mas jamais vincularíamos suas ideias à falta de inteligência ou a motivações religiosas. Muito pelo contrário, são claros os interesses econômicos e financeiros a sustentar tais posicionamentos.

Além disso, a pluralidade política dos economistas da Unicamp desautoriza qualquer generalização ou associação direta. No instituto estudou a presidenta da República, mas também quadros que serviram a outros governos antes de 2003. São professores da casa o atual presidente do BNDES e o ministro da Casa Civil, mas também tiveram grande importância em sua história José Serra e Paulo Renato Costa Souza.

Do ponto de vista teórico, o curso de Economia, conhecido por apresentar Marx e Keynes a seus alunos, também estuda obviamente Hayek, Friedman e seus discípulos mais recentes. A existência de um eixo teórico que organiza o curso não significa bloqueio ou desconhecimento de outras abordagens.

Quem faz isso, aliás, é a maioria das escolas convencionais de economia, em atitude muito questionada nos últimos tempos. Se estar “conectado” significa este tipo de postura, agradecemos mas rejeitamos o conselho.

No final das contas, a caricatura geralmente feita dos economistas da Unicamp revela uma vontade de reinar sozinho em um debate onde só há uma alternativa, a do liberalismo econômico. E que todos que pensem diferentes sejam desqualificados. A “nova política”, no caso específico da política econômica, tem como ingrediente principal um velho conhecido: o Estado Mínimo.




- De Bobagem Em Bobagem - Editorial Gazeta Do Povo - Pr
GAZETA DO POVO - PR - 17/09 Lula, ao dizer que Marina Silva devia ?proibir seus economistas de falar?, dá novas mostras de não ter o menor apreço pelo debate de ideias O Brasil inteiro conhece muito bem o ex-presidente Lula. Sobretudo, conhece e incorporou...

- Mais Convergências Do Que Divergências - Suely Caldas
O Estado de S. Paulo - 13/10 Os aliados Marina Silva e Eduardo Campos têm proclamado com repetida insistência que a aliança das duas forças políticas só vai prosperar, consolidar-se e concretizar-se se conseguirem sustentá-la numa questão de princípio:...

- Unicamp E O Título De Jarbas Passarinho
Por Caio N. de Toledo, no site do Correio da Cidadania: Na sessão de 5 de agosto de 2014, o Conselho Universitário da Unicamp deixou de revogar o título de Doutor Honoris Causa concedido, em 1973, pela Universidade ao coronel Jarbas Passarinho, em...

- Os Bastidores Da Sucessão No Ipea
Da revista CartaCapital: Na segunda-feira 27, encerrou-se oficialmente a disputa pelo comando do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Diário Oficial da União publicou o nome do novo presidente da instituição, o economista carioca Marcelo...

- Keynesianos Sem Memória
Rodrigo Constantino O problema de uma ciência não-exata como a economia é que os economistas que fracassam em suas previsões sempre podem alegar que o problema está em outro lugar. Ou algum fator exógeno, ou em um argumento contrafactual, como...



Geral








.