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A MARIA CHUTEIRA DO RUGBY
Este comercial de 30 segundos sobre rugby no Brasil me foi enviado por email por uma leitora. Só soube por conta dela, já que não tenho TV a cabo, e imagino que o comercial foi veiculado por lá. Nele vemos um apresentador de terno e gravata dizendo que, como o Brasil ganhou da Argentina pela primeira vez, isso abre novas portas pro esporte por aqui: agora estamos prontos pra próxima etapa, que seria atrair Marias Chuteiras pro esporte. Ou seja, mulher não serve pra jogar e mal serve pra torcer, já que não consegue pronunciar o nome do esporte direito. Mas serve pra transar com os jogadores. Mais ou menos na mesma época que chegou o email, li um artigo do UOL sobre as Marias no Mundial de Rugby da Nova Zelândia. O problema é que, bem, o que é uma Maria Chuteira? É um termo machista (inclusive porque só existe no feminino) para designar uma mulher que corre atrás de um astro de algum esporte -– em geral, futebol. Seu interesse, aparentemente, é casar com o sujeito. Na mentalidade popular (e machista), a Maria Chuteira tem apenas intenções financeiras. Bom, e daí? E se tiver? Pra casar com alguém é preciso duas pessoas. Se o astro do esporte não quiser, não há casamento, né? Existe aquela ideia fixa que uma Maria Chuteira engravidará de propósito para descolar uma polpuda pensão. Se isso é tão comum no meio como se acredita, será que o carinha não poderia usar camisinha e evitar o risco? Mas pô, chamar qualquer mulher que namora ou casa com um astro de esporte de Maria Chuteira –- como faz a matéria do UOL -– me parece uma tremenda sacanagem. Por exemplo, uma das Marias mencionadas pela reportagem é neta da rainha Elizabeth II (desconfio que dinheiro não seja problema pra família real) e campeã mundial de equitação. Vejamos... Será que ela se aproximou do jogador querendo dilapidar seu patrimônio ou será que, de repente, como ambos são atletas, eles se conheceram em algum evento esportivo, viram que tinham coisas em comum (dinheiro deve ser uma delas), e decidiram ficar juntos? Isso não faria do cara tão Mario Chuteiro como ela?Outra Maria descrita pela matéria é uma nadadora australiana que ganhou nada mais nada menos que três medalhas de ouro em Pequim 2008. Tipo, ahn, ganhar uma medalha de ouro numa Olimpíada na sua modalidade já te coloca no Olimpo dos deuses, não? Não é pra qualquer um. Mas como a reportagem se refere a Stephanie Rice? “Depois de levar três medalhas de ouro em Pequim-2008, a nadadora australiana não tinha muito mais o que conquistar na vida, a não ser um grande amor. Ok, a introdução foi piegas, mas é nesse tom que o casal predileto da Austrália é tratado pela imprensa local”. A introdução não foi piegas, meu caro rapaz. Isso tem outro nome. Saindo da matéria, e voltando pro comercial sobre rugby no Brasil, o chato é que os outros comerciais criados pela Talent para a campanha da Topper como patrocinadora oficial não são nada machistas. Pelo contrário, são graciosos. Este aqui é muito divertido e não insulta ninguém. Nele, vemos uma moça um tanto deslumbrada perguntando pra um rapaz se ele não é “aquele famoso jogador de rugby” e pedindo-lhe um autógrafo. Ele dá, feliz, e entra no carro. E ela entra também, pelo outro lado, mas agora já mais séria. E ele fala pra ela: “Obrigado, amor”. E ela, revirando os olhos: “Uh-huh”. Vem a chamada “Tudo tem um começo”. Quer dizer, ambos estavam atuando, fingindo ser o que não eram (ela, fã deslumbrete; ele, ídolo). É um bom jeito de mostrar como o rugby ainda não é popular no Brasil, assim como tantos outros esportes no país do futebol. Daria pra fazer a mesma coisa com xadrez. Seria um insulto aos jogadores de xadrez? Acho que não. Este outro, parte da mesma campanha, também é engraçado. Ele compara o crescimento do Brasil no rugby com a estagnação argentina (sempre em primeiro). E há este, mostrando a evolução do time nacional contra o Uruguai. É uma campanha divertida que exibe a melhora do Brasil e também a loucura que é alguém investir no esporte. Por isso, o comercial com a Maria Chuteira parece não combinar com os outros. Não apenas pelo machismo, mas pelo classismo. Uma coisa é dizer que o rugby ainda é um esporte jogado e conhecido por poucos no Brasil. Outra é meio que gostar desse “exclusivismo”. Sério que eles precisam deixar tão explícito que o esporte é elitista apontando que rugby não é uma palavra fácil de ser pronunciada por não falantes do inglês? O quê que tem se algumas pessoas pronunciarem errado? Incrível como o machismo quase sempre vem acompanhado de outros preconceitos.P.S.: Renata deixou um comentário que diz muito: "Eu, como jogadora de rugby há quase 5 anos, tenho vergonha desse comercial. Vergonha porque a Topper não valoriza a modalidade feminina do esporte que é MUITO melhor ranqueada no exterior do que a masculina, porque a Topper não nos tratou com dignidade e muito menos respeito. Quem fica na beira do campo dando força aos meninos somos nós, que também jogamos e mesmo sendo melhores temos bem menos estrutura, tendo que nos submeter a vender calendários sensuais pra conseguir disputar campeonatos". Pois é... Mais um esporte em que os jogadores ganham patrocínio, e as jogadoras precisam tirar a roupa pra chamar a atenção da mídia e das empresas. Mas não, imagina, não vivemos num mundo machista. É só impressão.
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