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A poupança encolheu - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 06/03
O governo Dilma já deu sinais suficientes de que está convencido de que, sem investimento, não dá para garantir o crescimento sustentado da atividade econômica.
Mas não sabe como mudar a ênfase do consumo para o investimento. Até há poucos meses, as autoridades davam a entender que, para elas, bastaria acionar o BNDES e apelar ao empresário para que soltasse o espírito animal e tudo aconteceria porque o essencial, a força do mercado interno de consumo, estava garantido.
E não é assim. O consumo continua crescendo mais do que o PIB, o BNDES, em ligação direta com o Tesouro, deu quase tudo o que podia dar e, no entanto, o empresário não se anima.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, às vezes dá a impressão de que acredita no que enfia nas suas apresentações em PowerPoint. Em setembro de 2013, por exemplo, entre retas e curvas nascidas do seu cérebro, como Atena de Zeus, vendeu a ideia de que, em 9 anos, o Brasil destinará 24% de sua renda para o investimento e, então, o crescimento será inexorável, ao ritmo de mais de 4% ao ano.
O ministro baseou-se, em parte, na decisão ainda relutante do governo de acionar concorrências para a expansão dos serviços públicos, especialmente na área da infraestrutura. No entanto, também esse processo é lento demais e está sempre sujeito a insuficiências regulatórias e à baixa capacidade gerencial do setor público.
As avaliações das Contas Nacionais (as mesmas que calculam o PIB) mostraram que, em 2013, a poupança nacional não passou de 13,9% do PIB (veja o gráfico). Se o País não poupa, não pode garantir o investimento. Não cabe a argumentação de que este é um ponto isolado nas estatísticas. Há mais de 5 anos, a economia brasileira consome mais de 60% do PIB e poupa menos de 18%. Ficaram para trás os tempos do governo militar em que a poupança externa (dívida externa) se encarregou de suprir a insuficiência interna de capitais.
Nem a poupança nem o investimento são o resultado da vontade e dos apelos de quem está no comando em Brasília. São o resultado de políticas públicas consistentes voltadas para isso.
Tudo começa com firmeza nos fundamentos. Por enquanto, só há vagas promessas de que o governo será capaz de dar solidez às contas públicas a ponto de evitar o rebaixamento da qualidade da dívida e a fuga dos investidores.
Também não há determinação suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta. Nada menos que 25% dos preços da economia dependem de autorização do governo e estes estão represados, como acontece com as tarifas dos combustíveis e da energia elétrica. Esse represamento produz enormes distorções e cria insegurança porque, a qualquer momento, pode levar a decisões intempestivas.
Além de improvisadas e pouco abrangentes, as políticas do governo são de fôlego curto. O desempenho da indústria está excessivamente condicionado à distribuição de subsídios, de reservas de mercado e de isenções tributárias temporárias. E não há clareza na disposição do governo em mudar de rumo.
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