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A prova do BNDES
Rodrigo Constantino
A nova prova de seleção que o BNDES realizou conta com uma questão no mínimo polêmica. Um conhecido que fez a prova me mandou o conteúdo. Trata-se da questão de número 57:
Um banco central adota um regime monetário de metas de inflação a serem alcançadas não de imediato, mas a médio
prazo.
Esse banco central, pela utilização eficiente de seus instrumentos de política monetária,
(A) precisa manter constante a taxa percentual de expansão de um agregado monetário, escolhendo-o adequadamente.
(B) precisa manter constante a taxa de juros real da economia, estabilizando a demanda interna.
(C) precisa manter constante a taxa de câmbio real da economia, estabilizando a demanda externa.
(D) consegue atenuar as flutuações de curto prazo do produto real da economia, estabilizando o emprego.
(E) deve acelerar a taxa de crescimento do produto real da economia, incentivando os investimentos.
Segundo o Prêmio Nobel de Economia, Milton Friedman, o ideal seria ter uma espécie de robô no lugar do Banco Central, emitindo uma taxa constante de base monetária para garantir a estabilidade de preços no longo prazo. Uma de suas maiores queixas era justamente o excessivo ativismo monetário dos bancos centrais, que ele responsabilizava pelo Crash de 29. Portanto, para Friedman e boa parte da Escola de Chicago, a resposta (A) seria a mais adequada, creio eu. Afinal, a inflação é sempre um fenômeno monetário.
Para a Escola Austríaca nem se fala. O Banco Central sequer deveria existir. Mas, assumindo sua inevitabilidade, sem dúvida seu foco deveria ser no agregado monetário, pois a EA considera inflação justamente a expansão da moeda, e não seu efeito secundário, que é o aumento nos preços.
Mas o BNDES considerou correta a reposta (D), o que levanta várias questões. Em primeiro lugar, deposita nas autoridades monetárias um poder e uma sabedoria enormes, como se eles realmente fossem capazes de atenuar essas flutuações de curto prazo do produto. A crise de 2008 deveria ter colocado ao menos em xeque, se não enterrado de vez, essa prepotente e arrogante premissa.
Em segundo lugar, essa resposta claramente tenta relativizar a meta de inflação e colocá-la como secundária ao objetivo de preservar o emprego. Nos Estados Unidos, o Congresso definiu um mandato dual para o Banco Central, e ele deve, sim, atuar para conter a inflação e preservar o emprego. São duas metas para um instrumento. O que vimos desde 2008 é que esta estratégia vem falhando. O nível de desemprego continua elevado, distante da meta de “pleno emprego”, e a inflação já se encontra no topo da meta, sob risco de ruptura para cima, apesar da fraca atividade.
Mas no Brasil o mandato do Banco Central não é dual, e sim único: preservar o poder de compra da moeda. Portanto, essa resposta estaria claramente em conflito com este objetivo. Quem fez o gabarito da prova do BNDES? O Ministro Guido Mantega? O presidente do Banco Central Alexandre Tombini? É o que parece. Mas vale lembrar que essa postura míope, voltada para o curto prazo e para o emprego mais que para a inflação, tem sido justamente a responsável pela perda de credibilidade da instituição, vista cada vez mais como politizada e subserviente aos interesses eleitoreiros do governo.
É um absurdo o BNDES colocar como resposta certa aquela que está errada tanto pela teoria, como pela vasta experiência acumulada. Quando o Banco Central abandona seu foco objetivo no índice de preços com a desculpa de que está se adaptando às condições de “curto prazo” de modo a estabilizar o nível de emprego, ele está brincando com fogo e, possivelmente, soltando o dragão inflacionário.
É triste verificar que o BNDES endossa essa postura e seleciona seus funcionários já com base nesse alinhamento ideológico. Mas, como tudo ruim pode sempre piorar, em breve é possível que o banco considere como gabarito a resposta (E)!
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